sábado, janeiro 01, 2011

Caso Cesare Battisti (I) - ao fechar a porta, Lula...

A História é curiosa. Parece ser até irônico. Mas, isso é substantivo. Ontem, no último dia de 2010, ouvi pelo rádio que Lula havia acatado o parecer da Advocacia Geral da União (AGU), resolvendo não extraditar o italiano Cesare Battisti. Battisti foi alvo de querelas durante muito tempo em nosso país. Os jornalões fizeram uma campanha sórdida contra a presença do italiano aqui no Brasil. Chamaram-no de criminoso, assassino, psicopata e outros vocábulos incriminadores. Ou seja, Battisti foi julgado previamente sem direito a qualquer defesa. Curiosamente, se perguntarmos o que acham sobre o caso Vargas x Olga Benário, reprovarão Getúlio. Acusarão Vargas de criminoso por ter entregado Olga Benários Prestes a Hitler, mas não veem problemas em fomentar teses contra o italiano Cesare Battisti, antes mesmo que os italianos o fizessem. O STF resolveu enviá-lo, sendo Gilmar Mendes o principal condutor da tese. Vasculharam porões. Resgataram acordos internacionais. Fizeram exegeses. Utilizaram as mais controversas hermêuticas jurídicas. Ao final, afimaram que a posição do STF era pela extradição, mas cabia a Lula a última palavra.

Lula soube como ninguém conduzir o problema. Esperou que a poeira dos fatos e o clamor da mídia fascista fossem arrefecidos. No último dia no cargo, Lula, presidente que ao final do mandato gozou de 80% de aprovação, deu a canetada que permitiu a Battisti continuar no Brasil. Foi o último ato oficial de Lula. O documento último de quem se portou da mesma forma desde o princípio do governo. Do metalúrgico que não se dobrou à força da mídia e à sede voraz do Estado italiano. Lá fora eles continuarão a salivar. Berlusconi deve está verbalizando os piores palavrões contra o metalúrgico ousado, infamando um "paisinho" chamado Brasil - os macacos dos trópicos, que só têm futebol, carnaval e mulatas no cio.

Bem vindo ao nosso meio, Cesare Battisti. Somos país um contradizente. Apregoamos os direitos humanos acima de qualquer coisa em nossa Constituição. Mas quando o que está em jogo é a submissão aos figurões do grande capital, grandes chusmas fascistas, indivíduos que no dizer de Mário de Andrade são

"O homem-curva!/ O homem-nádegas!/O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,/é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!/

(...) Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!/ Que vivem dentro de muros sem pulos, / e gemem sangue de alguns mil-réis fracos /

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês /e tocam os "Printemps" com as unhas!"

Não hesitamos em desdizer o que escrevemos em nossa carta máxima.

Bem-vindo, Cesare.

Goiânia, 01 de janeiro de 2011.