domingo, maio 08, 2011

A quantas anda o mundo ou o tempo não para

O trabalho é um empreendimento necessário à existência humana. É por intermédio do trabalho que o homem consegue retirar da natureza os recursos necessários para a manutenção da vida. Sem o trabalho, o homem não teria chegado ao estágio tecnológico em que chegou; aos avanços científicos conquistados. Na modernidade, confundimos ativismo com trabalho. Chamamos qualquer ocupação de trabalho. Talvez, o emprego semântico tente esconder as relações de dominação desenvolvidos por aqueles que detêm os meios de produção em detrimento daqueles que são explorados. Em nossos dias, o trabalho perdeu o seu aspecto pedagógico, já que a necessidade de realizar uma atividade está necessariamente ligada à expectativa de ter. Não nos ocupamos por satisfação, mas porque existe uma força imperiosa que nos obriga a realizar uma ação que potencializará o consumo. Em suma: trabalhamos para ter uma cartão de crédito, o que nos permite ter uma passaporte para o paraíso. O trabalho deixou de ser um servo e passou a ser um senhor; apenas um meio que nos conduz a um fim.

Isso me faz lembrar uma afirmação de Paul Lafargue, extraída do seu texto clássico Direito à Preguiça: "Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda degenerescência intelectual". O trabalho vestido pelas exigências da sociedade capitalista furta até mesmo a brisa de inspiração que sopra no espírito. Não há tempo para devaneios, para beijos apaixonados, para fazer protestos; para participar de rodas de conversas; para fazer saraus; para ouvir música. Acabamos sempre pensando no outro dia; no ônibus cheio; no chefe que nos espreita. O seu azorrague é relógio e o olhar aniquilador.

Na música Capitão de Indústria, Os Paralamas do Sucesso, descrevem essa ciranda do homem moderno. Eles afirmam:

[...]

Estou cansado demais
Eu não tenho tempo de ter

O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
É quando eu me encontro perdido
Nas coisas que eu criei
E eu não sei

Eu não vejo além da fumaça
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
Ah, Eu acordo prá trabalhar
Eu durmo prá trabalhar
Eu corro prá trabalhar

Fiz essa reflexão inicial, pois sei que blog está bastante parado, mas não é por falta de inspiração. O tempo é que não me ajuda, pois eu tenho dormido para trabalhar; corrido para trabalhar; alimentado-me para trabalhar. Já não tenho "tempo livre de ser, de nada ter que fazer" - citando a música dos Paralamas do Sucesso. Nas duas última semanas, dois fatos me chamaram a atenção: (1) A suposta morte de Osama de Bin Laden e oportunismo de Barack Obama, repetindo "espontaneísmo protagonístico" de Bush filho; e como a mídia brasileira lidou com o fato. (2) Outro caso que me chamou atenção foi a decisão do STF, reconhecendo os direitos dos homossexuais de terem direito – acesso à Previdência como qualquer casal heterossexual. Essa foi uma decisão que me deixou bastante satisfeito.

O Supremo ignorou completamente os ruídos emitidos pelos reacionários da Igreja - seja ela Católica ou Evangélica - e proferiu uma decisão histórica que terá importância para outros embates futuros. Esse fato evidenciou o laicismo do Estado. Mostrou que não vivemos mais na Idade Média. Foi uma patada de leão a que o Supremo deu na cara dos Malafaia, da CNBB, dos dogmáticos, dos primitivos, que enxergam o mundo apenas com uma cor. O mundo é multicolorido. O Universo possui mais de 100 bilhões de estrelas. Em pleno século XXI, e as concepções forjadas pelos judeus ainda dominam a nossa mente.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

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