segunda-feira, agosto 22, 2011

Os Contos Proibidos do Marquês de Sade, uma breve reflexão

Ontem à tarde, voltei a assistir ao filme "Os Contos proibidos do marquês de Sade". Havia visto à obra do diretor Philip Kaufman há dez anos atrás. Mas, ontem, vendo ao filme pela segunda vez, tentei entender a personalidade complexa dessa personagem intrigante do mundo ocidental, a saber, Donatien Alphonse François, mais conhecido como Marquês de Sade. A obra de Kaufman é magnífica. Os atores Geoffrey Rush, que faz uma interpretação excepcional do Marquês de Sade, encarna o personagem; Kate Winslet (Madeleine), bela como sempre, cria uma atmosfera de encantos. Joaquin Phoenix (Coulmier), que faz o papel do padre, que cuida do manicômio, com uma atuação impecável, mostra as suas qualidades de bom ator. A história se passa na França pós-revolucionária. Napoleão está no trono.

A fotografia do filme é belíssima. Vai do glamour ao grotesco das ideias do Marquês; da tara insana ao sublime. A cena de necrofilia do padre Coulmier com Madeleine é espantosa e fascinante ao mesmo tempo. A piromania de um dos loucos impressiona. As cenas que mostram o impedimento do marquês em não poder escrever são dramáticas. Impedido de escrever, o marquês se ver atormentando pelas histórias que habitam o seu mundo surreal. Mas não há lápis, pois estes foram tirados. Dois eventos que se seguem impressionam: (1) quando o marquês escreve com o próprio sangue em sua roupa; e (2) quando nu (pois a sua roupa fora confiscada), escreve os seus textos com fezes. Contos proibidos do marquês de Sade é baseado no roteiro da peça de Doug Wright. Enquanto assistia ao filme, recordei-me de uma afirmação do escritor cristão Francis A. Schaeffer em seu livro "A morte da razão": "Todos os escritores pornográficos do século 20 atribuem a sua origem ao Marquês de Sade (1740-1814). O século 20 o celebra agora como uma personalidade - ele já não é mais um escritor "imundo", apenas" (SCHAEFFER, 2002, p. 51). Talvez, olhar para Sade apenas sob este prisma reduza sua perspectiva filosófica. O que Sade defendia era um compreensão filosófica da existência sob o ponto de vista materialista e naturalista.

Sade não é sinônimo de sadismo. O sadismo é apenas uma semântica reducionista da largura do pensamento de Sade. Para o francês, o que está aí, é; e se é, certo é. Então para ele, a moralidade oculta as leis da natureza. Os homens ao forjarem moralidades apartam-se, por meio das aparências, daquilo que é vital e natural ao ser, fugindo daquilo que se é. A psicanálise não deixa de flertar com esse pensamento. Partindo dessa concepção, Sade não oculta o id, deixando-o vivo, "insolente", "desafiador". Ele seria o mais lúcido e feliz dos homens, pois vive aquilo para a qual nasceu para viver, enquanto os outros homens se escondem por trás de máscaras morais. Não deixei de pensar em tais aspectos. Assim, a filosofia de Sade é um despudor, é uma depravação para os moralistas, mas a exata expressão do homem para os naturalistas, pois aquilo que é, é.

Abaixo o trailer do belo filme de Kaufman, de 2000:

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