quinta-feira, setembro 01, 2011

Os políticos, Jaqueline Roriz e a "sifilização do Brasil"

Somos um país muito estranho. Penso isso após ter passado do momento de susto cético ao estoicismo resignado daquelas pessoas que aceitam o acontecido e se sente completamente incapaz de emular qualquer mudança. E assim a gente vai caminhando, cantando, aquela frase patética: "Sou brasileiro e não desisto nunca!", numa tentativa de motivar a nossa vontade, a nossa fé cega, que não apresenta direções. Caminhamos apalermados. Levamos "socos no estômago", "na face da nossa decência" e, mesmo assim, somos instados a cantar: "Sou brasileiro e não desisto nunca". Que país é esse? Por que não indagamos o porquê de recitarmos essa frase fatalista? Esses pensamentos divagadores são o resultado de minha sensação de idiotamento. Na última terça-feira, a Câmara dos Deputados arquivou o processo contra a senhora Jaqueline Roriz, que a essas horas está rindo de nosso atoleimamento. E será que agora afirmaremos "sou brasileiro e não desisto nunca?".

O Brasil é um país de ambiguidades interessantes. Alternamos os momentos de euforia com atarantamento inoperante; de alegria futebolística com o choro por personalidades que não acrescentam nada à nossa vida individual. Mas não somos capazes de sair às ruas, numa mobilização capaz de fecundar mudanças; Organizamo-nos para ir ao estádio, mas não somos capazes de nos organizarmos numa passeata nacional em prol da decência, da moral, da ética e dos bons costumes. Na quarta-feira pela manhã, quando se ficou sabendo do ocorrido na noite anterior (tudo feito às escuras, para não se deixar vestígios), ficamos com aquela "cara de paisagem", de "panaca", de quem "é brasileiro e não desiste nunca".

O Brasil é um país estranho que não se leva a sério. Somos o resultado da confusão, dos magotes de degredados, criminosos, bandidos, em suma, a ralé que foi trazida para cá por Portugal. Nosso país não nasceu de um sonho, de um planejamento. Somos o resultado da anarquia, do chafurdo, da orgia da sífilis. Gilberto Freyre diz que antes de sermos "civilizados fomos sifilizados". Talvez, não tenhamos passado pelo processo "civilizatório" citado por Freyre. Talvez ainda tenhamos em nosso sangue a doença, a endemia que açambarcou as nossas forças e nos inclinou para a invirtude, para o malandrismo, para a esperteza. Talvez tenha sido esse processo "sifilizatório" que nos deixou "a memória fraca", a demência da indisciplina, da ignorância, da falta de decoro, da licenciosidade, dos desrespeito.

Após o episódio da última terça-feira, eu me tornei mais cético. O que foi construído em 511 anos de existência não pode ser desfeito do dia para noite. Não é com gritos, com moralismos, com a religião, com sentimentalismos, que se extirpa esse estado de doença avançada. O mal que acomete esse país está depositado em suas próprias veias. A um câncer nós não o arrancamos com "benzeduras", mas com medidas duras, objetivas e clínicas. Não é a esquerda nem a direita que muda o Brasil. Isso já foi provado, pois o país continua a ser "uma espécie de acampamento" para vigaristas, para grileiros, para os licenciosos e promíscuos.

Os meus ideais e crenças num país justo se aniquilaram um pouco mais. Sinceramente, não nos levamos a sério. E, para essa doença, não sei se há rémedios.

Por Carlos A. M. Albuquerque
01/09/2011

2 comentários:

Anônimo disse...

e ela deve esta rindo de você até agora. kkk

Carlinus disse...

E de ti também!