domingo, janeiro 15, 2012

Minha visita ao Museu José Lins do Rego

Devo confessar que um dos momentos mais esperados da viagem de uma semana que fiz a João Pessoa foi poder visitar o Museu José Lins do Rego, aberto de segunda a sexta-feira, no Centro de Cultura na capital paraibana. Após ter errado o caminho do museu e ter realizado uma perquirição aos passantes, percebi que poucos paraibanos sabiam da existência do museu. Alguns diziam “é ali!”; outros, “é acolá!”. Todavia, após uma enorme mobilização eu e minha esposa conseguimos chegar ao espaço montado em homenagem a Zé Lins, como era conhecido o escritor paraibano pelos mais íntimos.

A percepção inicial foi negativa. O espaço poderia ter mais visibilidade. Fica situado num subterrâneo de um galpão incipiente e sucateado. Outro aspecto negativo eu citarei mais à frente - e este o mais sério.

Penetrei o espaço como uma criança que visita uma loja de brinquedos. Ali eu encontraria objetos, memórias, apetrechos, badulaques, quinquilharias, obras artísticas que tiveram uma ligação direta com um dos principais escritores do século XX. Essas sensações são curiosas. Enchi-me de uma emoção prazerosa. Logo na entrada, encontramos diversos cartazes de exposições já acontecidos para homenagear o escritor paraibano. Mais à frente, encontra-se uma outra sala com fotos de seus familiares, diversas traduções de sua principais obras. Em meio aos quadros, um em especial me chamou a atenção: um que demonstrava o amor do escritor pelo futebol. E a informação curiosa de que o dinheiro necessário para que o Brasil viajasse para disputar a Copa de 1954 foi conseguido por Zé Lins junto a patrocinadores.

Outro aspecto dessa sala diz respeito às diversas traduções que as suas obras receberam, mostrando de maneira clara que o José Lins do Rego não é somente um escritor regional. Zé Lins saiu do regional para o universal. O escritor tornou-se um dos grandes nomes da literatura em todo o mundo. Os russos, alemães, ingleses, americanos, espanhóis, argentinos, romenos já tiveram a grande ventura de ler as letras do garoto do Pilar.

Mas, a grande riqueza do Museu José Lins do Rego se encontra numa sala com mais de 3 mil livros que pertenceram ao escritor. Era a minha grande curiosidade. A sala fechada guarda um tesouro extraordinário. Um amante de literatura sempre vai querer saber o que um grande escritor lia. Quais eram as suas influências. Quem foram os escritores que fecundaram o seu pensamento. É como se um aprendiz de feitiçaria desejasse saber o que o seu mestre utilizava como ingredientes para produzir bruxarias.

Fiquei imensamente triste quando me informaram que eu não poderia entrar no espaço da biblioteca de Zé Lins. Uma profunda sensação de desalento tomou o meu coração. A grande razão da minha visita era saber o que o escritor lia. Conseguir distinguir somente dois nomes em meio às lombadas encardidas – James Joyce e Virginia Woolf. E alguns volumes com textos críticos sobre a obra de Eça de Queirós e Machado de Assis. Sabia que o velho Zé Lins deveria ter digerido alguma coisa do “Bruxo do Cosme Velho”. Os textos do escritor paraibano estão povoados por um realismo delicioso. Por uma crueza dos grandes realistas do século XIX. A leitura que estou fazendo de Doidinho me deixa essa compreensão. Em Banguê fica mais evidente esse artifício.

Mas continuando: perguntei a um funcionário que se encontrava numa sala contígua. Ele me disse que só existia uma pessoa autorizada para abrir a sala, todavia ela não estava. Desfrutava as férias. Fiquei a remoer internamente uma grande aversão. Rapidamente me veio um senso de indignação com o Brasil. Num país sério aquilo não aconteceria. Um turista vai visitar um museu sobre determinado artista, mas é impedido pela falta de organização e pelo amadorismo. Imagine se os turistas que fossem visitar o Louvre tivessem que abortar a viagem por causa da ausência de funcionários? Com certeza que tal desorganização não aconteceria em outro Estado com o mínimo de preocupação histórica. Mas no Brasil é outra história...

Vitória de Santo Antão - PE

2 comentários:

Muller disse...

Vc poderia me dizer qual caminho mais fácil para chegar ao museu.
Vou estar na rodoviária de joão pessoa.

Carlinus disse...

Moro em Brasília! Infelizmente não posso ajudá-lo. Eu consegui chegar ao museu, após tê-lo conseguido na internet. Fui de táxi até lá! Recordo-me de que ficava em um galpão.