domingo, abril 15, 2012

A melancolia de um assunto teologal e Jacques Ellul

Jacques Ellul
Ontem fui a um casamento e encontrei um colega que não via há bastante tempo. Em tempos idos, conversavámos incansavelmente sobre teologia. Tratava-se de um grande prazer. Meu colega é um sujeito atilado, leitor curioso e inquiridor contumaz. No passado, anuía à maioria das suas ideias. Quando encontrou comigo já foi sacando seu séquito de novidades. 

Inseriu uma série de temas teologais. Falamos sobre o cenário evangélico. Mas nos fixamos mesmo foi em Jacques Ellul, teólogo, ativista e sociólogo francês, uma das mentes mais privilegiadas dos últimos cinquenta anos. Falou com entusiasmo sobre Ellul. Infelizmente ou felizmente eu nunca li nenhum livro do francês. Recordo-me que no passado fiz planos para ler os livros de o autor de Apocalipse, arquitetura em movimento editados em nosso país. O desejo foi esmaecido pela tempo. De modo que nem lembrava mais do projeto. Uma vez ou outra me vinha à mente o nome do ilustre ativista francês que lutou contra as forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e se converteu ao cristianismo desde o 22 anos de idade.

Meu colega instigou-me a ler Ellul. Tentei desconversar e fui honesto ao afirmar que não suporto mais aquelas narrativas previsíveis da maioria dos autores intitulados cristãos. A gente sabe aonde aquele ramerrão vai dar. Atualmente, fujo de texto ruim. Ellul parece convincente. Odeio autores aos quais falta imaginação e um senso literário largo. Para não cometer os mesmos sortilégios do passado (e até dá uma chance ao novo), resolvi comprar imediatamente dois livros de Elull - Mudar de posição, o inelutável proletário e Apocalipse, arquitetura em movimento. Outro livro de Ellul a qual estou com uma ânsia muito grande de ler é Técnica e o desafio do século, livro este voltado para o campo da análise sociológica e lido nas principais universidades do nosso país.

Enquanto conversava com o meu colega, fiquei pensando que a teologia é um ramo do conhecimento humano que pode apresentar duas faces: (1) uma face monocromática, ou seja, repleta, arrogantemente, de supostas verdades e achismos peremptórios. É dessa faceta que estou fugindo. Não quero mais as supostas verdades de "cara feia". Aquelas supostas verdades que enfeiam a vida. Que a torna manchada. Repleta de culpa e impossibilidades. (2) a teologia pode se transformar em algo belo, que busca compreender o que é o homem e sua saga pela história, embora as respostas que venha a dar não sejam finalizantes, por que não são algo em si.

Peter Berger diz que "Os significados projetados da atividade humana cristalizam-se num gigantesco e misterioso 'outro mundo', que paira sobre o mundo dos homens como uma realidade alheia". Essa projeção que é criação passa a ter um domínio sobre o homem. E partindo desse raciocínio que Nietzsche vai dizer que "a criação domina o criador". O elemento que cria "o outro mundo" acaba sendo dominado por ele. O fato é que toda esse radical desejo é construído com a linguagem. Ou seja, as palavras podem ser matéria-prima com que constroem mundos.

Richard Dawkins, uma das personalidades mais odiadas pelos religiosos do mundo de hoje, diz que "temos que nos contentar, ao olharmos para um jardim, em vê apenas o jardim". Diz o Dawkins que "há pessoas que inventam ou criam a necessidade de afirmar de que ali há fadas e duendes". Não chego a tamanho radicalismo. Sou daqueles sujeitos "desconfiados" - não no sentido moral. Pelo contrário, penso que há um lugar para a teologia, desde que ela não me venha com sofismas proponentes, pois como diz o Dawkins: sempre há aqueles que gostam de gnomos e fadas e exigem que você veja aquilo que ele está (ou não) vendo. E talvez resida aí o grande equívoco da posição daqueles que aludi acima no primeiro ponto sobre a teologia.


Nenhum comentário: