quinta-feira, julho 05, 2012

Livros e uma sensação de pequenez

Às vezes fico pensando no fato de que quem gosta de livros possui uma síndrome fáustica. Mas também chego à conclusão que todo sujeito apaixonado por algo tende a fazer qualquer coisa para se aproximar do objeto do seu desejo. É vício. Inevitável. Vamos juntando e acabamos nos acercando do absurdo. Baixamos a cabeça quando percebemos que o caminho é vasto, quase infinito e que nossos esforços resvalam na totalidade, no contingente, achamo-nos pequenos, bestas, por causa disso. Segundo o Google, há mais de 3 trilhões de livros no mundo inteiro. Número surreal. Inimaginável. Seria a "Biblioteca de Babel" de Borges? Salomão disse certa vez que "não há limites para se fazer livros". 

Está aí! Simples. A vida é limitada e as possibilidades de produção são impensáveis. Nossa vida agitada não nos deixa muito espaço para as leituras queridas. Esprememo-nos no bonde. Fixamos o olhar na folha parda enquanto caminhamos. No intervalo do almoço, tentamos nos concentrar, mas o esforço ainda é insuficiente. Segundo informações, o bibliófilo José Mindlin que chegou perto dos cem anos (viveu 95 anos), leu pouco mais de 8 mil livros em sua vida. Parece um número absurdo para um sujeito médio. Diante dessas limitações fico impaciente.

Escrevo isso apenas, pois há alguns instantes atrás comprei 3 livros pela internet. Esse é um exercício para apaziguar a consciência. Que a minha esposa não saiba. Ela faz oposição a essas minhas aquisições. Ela parece personificar o lado mais conservador da minha psiquê. Sobre a minha mesa estão três livros (e tantos outros na estante) - dois que estou lendo (A beleza Salvará o Mundo - Todorov - e O Moleque Ricardo - José Lins do Rego) e um outro (Doutor Fausto - Thomas Mann) que iniciarei neste final de semana próximo.

Acabei comprando três livros que há muito procurava - Middlemarch - Um estudo da vida provincina - George Eliot; A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristam Shandy - Laurence Sterne (esse eu relutei bastante; preço pouco agradável); e O Som e a Fúria - de William Faulkner. Todo sujeito consciencioso fica com a cabeça povoada pelo cheiro de seu crime. Todavia, esse pecado me torna feliz. Metade de mim é uma baile e, a outra metade, uma noite escura.

Esperemos os livros! A noite é graciosa. A trilha de fundo (Come on Feel - do Lemonheads) é vaga e escandalizante como a luz rala do sol sob o Ártico.

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