terça-feira, janeiro 21, 2014

"Ninfomaníaca, Volume I" - de Trier - ainda penso...

Na sexta-feira, dia 10 de janeiro, quando fiquei sabendo da estreia do mais novo filme de Lars Von Trier - Ninfomaníaca  - Volume I (2013) - fiquei com uma vontade imensa de ir ao cinema. Infelizmente, não pude ir naquele dia, pois chegara de Pirenópolis-GO e estava arrumando as malas para partir, no outro dia, para o Nordeste. Cheguei de Pernambuco no domingo, dia 19, e fomentei para o outro dia a possibilidade de ir ver o filme. E assim fiz numa sofreguidão incrível.

Tratava-se de um filme de Trier. O diretor dinamarquês é daqueles sujeitos talentosos e sabem vender bem a imagem que possui. Megalomaníaco em excesso, Trier já foi responsável por afirmações que, no final, sabemos, resulta em ganhos mercadológicos. Em 2009, por exemplo, no Festival de Cannes, afirmou ser o melhor diretor do mundo. E, talvez, até o seja! Estamos em uma época em que o cinema anda em um marasmo terrível com aquelas porcarias vindas de Hollywood.

Trier é um sujeito que sabe usar explorar bem isso. Tem sido assim com seus últimos dois filmes - O Anticristo (2009) e Melancolia (2011). O simples fato de ser um filme de Trier já desperta a curiosidade e aí temos a tese confirmada. Não sabemos ao certo se Trier é um artista erguido pelas qualidades geniais ou pelo mero marketing. Suas pretensões são, quiçá, de deixar o seu nome na história como um Bergman ou Tarkovsky. Mas, claro, trata-se de especulação. 

Após ter visto Ninfomaníaca, ainda continuo pensando que sua grande obra é Dogville (2003), cuja análise sobre a natureza humana e beleza estética estão longe de serem superadas por qualquer filme lançado neste século XXI. Em Ninfomaníaca, o diretor busca criar uma tese moral e usa como ingrediente o sexo, assim como alguém usa açúcar para atrair formigas. Falar sobre sexo na sociedade judaico-cristã ocidental é gerar dois sentimentos, no mínimo: (1) ou de interesse voyeurista; (2) condenação afetada pelo julgamento moralista.

Trier é sabedor dessa estratégia e busca com isso gerar estupefação na audiência. Percebi isso enquanto via o filme. Pelos menos três casais saíram da sala do cinema. Quero crer que se trate de uma fenômeno isolado. Todavia, analisando os recursos cinematográficos utilizados pelo diretor, notei que em dados momentos as cenas vão gerando uma "agonia", um "enjoo" filosófico. É como se ele tivesse por intenção provocar o espectador; mexer com suas veleidades morais; afrontá-lo em suas convenções de burguês-cristão.

Ninfomaníca - Volume I, pelo menos para mim, não causou impacto profundo como causou o já aludido Dogville ou Dançando no Escuro (2000), ambos de grande beleza plástica. O que Trier buscou insinuar com a Ninfomaníaca? O sexo é mau? Buscou criar sofisticação com um tema-tabu para a sociedade ocidental e com isso aumentar a audiência para a sua obra? Quis justificar seus próprios problemas pessoais? O filme confirma a tese de que Trier é alguém com ideias muito bem definidas do ponto de vista das especulações.

Penso que Ninfomaníca, desde 2000, tenha sido o filme mais fraco de Trier. A tentativa de fazer um estudo (psicanalítico? moralista? metafísico?) sobre a vida da personagem Joe, vivida por Charlotte Gainsbourg (sempre presente nos filmes do diretor) e a estreante Stacy Martin (que faz Joe ainda jovem), não se mostrou convicente. Percebi algo cuja finalidade é uma tentativa de pirotecnia com um tema sempre polêmico quando vem à baila - sexo. Outro fato é a tentativa de associar a "catedral numérica" na tentativa de encontrar a perfeição de Deus da música de Bach, a fatos relacionados com a vida da personagem. Isso é corriqueiro em Trier.

Talvez, aquilo que ainda não foi revelado em sua efetividade fique claro na segunda parte do filme, já que a obra foi separada em duas partes. Originalmente possui mais de cinco horas, mas essa extensão será exibida somente nas salas de festivais.

Tratam-se de impressões pessoais e aqui estão as minhas: rápidas e descuidadas!

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