domingo, abril 13, 2014

"Filme de Amor", um filme de Júlio Bressane

Júlio Bressane é um nome  importante do cinema brasileiro. Na estrada desde os anos 60, Bressane é um dos porta-vozes daquele que ficou conhecido como cinema marginal, um movimento que buscava dar uma identidade própria ao cinema nacional, fugindo das convenções comerciais. Suas películas são quase sempre experimentalistas. O seu maior sucesso é Matou a família e foi ao cinema (1969). De lá para cá, o cineasta carioca produziu uma enxurrada de obras, algumas com potencial de mercado; outras, nem tanto. O fato é que Bressane, sem muito dinheiro para fazer aquilo que o mercado exige, prima pelas produções com orçamento exíguo. Dele eu já vi, São Jerônimo (1999) - incompleto - e Dias de Nietzsche em Turim (2002) - filme excelente que busca reproduzir os últimos dias de lucidez do filósofo alemão.

Hoje, vi uma produção de 2003, chamado Filme de Amor. Não é uma obra comercial, no sentido geral do termo. O filme é quase uma provocação. Apenas três atores - duas mulheres e um homem. As personagens são moradores de subúrbio. Como é mostrado no final do filme, trabalhadores com suas vidas encerradas dentro da rotina. Mas essas três personagens decidem se trancar em um aparatamento sujo, empoeirado, e, no meio da bebedeira e do devaneio, experimentam uma transcendência. Fogem do lamaçal e da mediocridade em que suas vidas estão metidas. Conforme se pode notar pela fala de uma das personagens cada a uma delas representa uma das personagens do mito das três graças - o Amor, a Beleza e o Prazer. 

Bressane coloca na boca dos personagens textos de Virgílio; citações fazendo referência a Bocaccio e à Renascença Italiana. Ou seja, o fino, o puro, o divino, misturado à rotina miserável. Dentro desse cadinho de sonhos, estão a bebedice, o gozo, simulações, felações, corpos nus, órgãos à mostra. O filme brinca com as cores. Ora nos mostra o preto e branco, o que nos passa uma atmosfera de sonhos; ora o colorido, que nos coloca dentro da realidade, do factível.

O filme, ao meu modo de ver, busca mostrar como existem sonhos adormecidos na cabeça e no corpo dos homens. Esse fato pode ser notado em uma das cenas finais do filme, quando de saída do apartamento lúgubre, vemos pessoas caminhando na rua, num vai e vem. Pessoas anônimas. Universos de sonhos adormecidos e potenciais. 

Estou com outro filme dele para ver. Dessa vez é Educação Sentimental (2013). Pretendo ver ainda esta semana.

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