sábado, julho 02, 2016

Mais um livro de Svetlana Aleksievitch


Há alguns dias atrás, eu recebi em meu e-mail uma daquelas publicidades do robô da Estante Virtual, que acaba "fisgando" pesquisas desinteressadas, namoros com aqueles títulos suculentos, mas que acabam ficando no mundo dos desejos reprimidos por uma questão monetária. Pois recebi a notícia de que havia um novo livro da nobelina Svetlana Aleksievitch. O título era dos mais convidativos - O fim do homem soviético - um tempo de desencanto. Apressei-me para olhar o preço. Estapafúrdios duzentos reais - se a memória não me trair neste momento.

Fui até o site da Livraria Cultura e vi que estava sendo vendido pela metade do preço - noventa e nove reais. Não hesitei. Fiz a encomenda. Dois dias após, eles me passaram um e-mail e disseram que o exemplar havia chegado à loja. Na quarta-feira à tarde, fui lá buscar (e ainda sair de lá com o Todos os contos de Clarice Lispector, lançado recentemente, que estava uma pechincha). O bonito cartapácio (de Svetlana Aleksievitch) foi publicado pela Porto Editora (de Portugal). Tradução impecável. A capa é das mais emblemáticas: uma senhora vestida à rigor, conduzindo a bandeira vermelha da União Soviética, com a insígnia inconfundível - a foice e o martelo, símbolo do comunismo que, assim como outros signos (cruz, suástica, etc), carrega simbologias capazes de movimentar os homens. Ao fundo, notamos uma paisagem cinzenta que engole prédios e homens como se aquilo fosse um aviso pressago da bancarrota histórica.

Todavia, o que conta mesmo é o estilo de Svetlana Aleksievitch. A escritora ucraniana possui uma capacidade única de emocionar, de criar humanismos; é capaz de nos fazer repensar a nossa condição; de colocar-nos frente a frente com nossas vaidades, paixões e movimentos que impelem a atos impensados. Já em Vozes de Tchernóbil, a história oral do desastre nuclear, Svetlana cria a impressão de que todas as dores do mundo podem ser reunidas em único lugar. Ela comprime em único espaço os relatos pungentes das pessoas comuns que tiveram suas vidas afetadas de forma deletéria pela terrível tragédia. 

As quinze páginas iniciais de O fim do homem soviético transmitem a impressão de que estamos sentados em um banco de praça, solitários, em um final de tarde fria, com cintilações cinzentas no ocaso e se escuta o barulho distante de um sino a anunciar um outro tempo. A experiência do vivido nos coloca lado a lado com o passado. E ele possui o cheiro de nostalgia, mas acaba trazendo impressões dúbias. Svetlana Aleksievitch consegue reunir um misto de vozes e acaba criando um livro, pelo menos notei isso nas quinze páginas lidas, polifônico (algo que se dá também com Vozes de Tchernóbil

O meu reptiliano projeto de leitura provoca uma inadministrável ansiedade. Muito trabalho. Excesso de nacos de tempo roubados pela roda viva do cotidiano. O que me consola é que terei quinze dias de recesso na próxima semana e poderei saborear os dois livros da Svetlana.  


2 comentários:

José Antonio disse...

Estou tentando entrar no Serdamusica e está blogueado. O acesso só é permitido para quem tem convite. Se você puder me convidar, eu gostaria demais de continuar a ter acesso às suas postagens.

José Antonio disse...

Eu pedi o convite para acessar o ser da música. Estou usando este campo porque é a única forma de entrar em contato com você. Não é para publicar como comentário.