quinta-feira, abril 29, 2010

Quanto vale ou é por quilo?

“Quanto vale ou é por quilo?” é um filme dirigido pelo paranaense Sérgio Bianchi. O filme tem a intenção de demonstrar o passado sempre presente no tecido que compõe a sociedade brasileira. Fundado no escravismo, o Brasil é alimentado por uma desigualdade que determinou um modo de ser. O filme já busca chocar desde o princípio com o título – “Quanto vale ou é por quilo?” – que dá a idéia de um comércio de produtos de pouco valor, comprado num amontoado. De objetos subutilizados adquiridos em brechó; de “coisas” de pouca monta; de descartabilidade e coisificação.

O filme é inspirado na adaptação livre do conto “Pai contra mãe” de Machado de Assis. As cenas iniciais reproduzem essas palavras do grande romancista carioca do século XIX: “A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras[1].

Do início ao fim da produção há a estratégia de se de demonstrar que as mazelas do Brasil não são problemas de uma administração política recente. Não se trata de um problema recente, que apareceu de uma hora para outra
. Trata-se na verdade de um problema que acompanha o país desde os dias mais idos. O passado está sempre presente. Assim, percebe-se que de lá para cá muita pouca coisa mudou. A problemática que envolve toda a realidade nacional está na sua gênese. Mudou o figurino dos atores. Todavia, a estrutura do palco, os personagens não mudaram de papel na encenação da novela da vida. São feitas inserções de documentos do Arquivo Nacional. “Os cortes entre a adaptação do conto e esses documentos do Arquivo Nacional produzem quase que choques sucessivos no espectador, na medida em que igualam a violência, a noção de que pessoas podiam ser propriedade de outras, ou a lógica do lucro do sistema de escravidão no Brasil, ao que hoje é produzido com relação aos excluídos e marginalizados em nossa sociedade”.

Os negros não se acotovelam em navios negreiros como outrora.
Agora os navios negreiros são representados pelas cadeias, pelos ônibus ou o metrô lotado dos grandes centros, os presídios que guardam/treinam para o crime. Há ainda um comércio que se forma em torno de crianças abandonadas. ONGs que lucram mais do que ajudam ante a ineficácia do Estado. A ampliação do sistema carcerário é fator de crescimento econômico. Ou seja, o filme denuncia todas as espertezas dos solidários de fachada, que doam para as obras de caridade, mas que lavam e sonegam o dinheiro do cidadão com alianças espúrias.

A figura do capitão do mato é explorada pelo filme.
Os capitães do mato trabalhavam num tipo de atividade terceirizada. Tinham honra social. O ordenado que ganhavam dos senhores de escravo variava de acordo com o objeto capturado – o escravo. O valor da mercadoria variava de acordo com a idade, força física e habilidade para o trabalho. A recompensa pela captura ou recaptura era fornecida no ato da entrega. Dessa forma era possível constituir uma carreira lucrativa fundada, sobretudo, numa legitimação social mesquinha. O diretor insere com um corte brusco e introduz a figura do pistoleiro de hoje. Fica implícito, assim, que o pistoleiro de hoje foi o capitão do mato de ontem. Essa lógica da continuidade dos papéis executados por outros personagens é constante na obra.

O filme, assim, possui uma base crítica, fortemente vinculada a um discurso de protesto. Os escravos ainda estão aí na figura de meninos de rua, dos catadores de papel. A alforria não se deu de forma plena. Ela é um engodo dos poderosos a fim de fazer entender que se vive numa sociedade livre, emancipativa, democrática. No chamado Estado Democrático de Direito, uma espécie de figura jurídica que premia apenas os fortes. Como nesta frase-protesto proferido pelo personagem de Lázaro Ramos: “O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia”. Ou nesta outra: “Consumidores de classe “AA” sempre imprimiram os seus modelos para as demais classes. Hoje a classe média também tem sede de ter princípios. Daí esse surto de ações sociais”. Há ainda uma crítica ácida à indústria complexa das compensações: a miséria ou a prisão como economicamente rentáveis e geradoras de emprego, a solidariedade como empresa ou até mesmo a denúncia como um negócio. A sujeira nas licitações públicas. As alianças do Estado com a iniciativa privada. O “jorro” das verbas dos trabalhadores que alimentam a pesada máquina estatal. Responsabilidade social ou solidariedade são exaltadas e mobilizadas como marketing dessa nova indústria que gerencia a miséria e os miseráveis. Como nas campanhas televisas, com o claro objetivo de arrecadar fundos para entidades que se afirmam como protetoras de menores abandonados; ou ainda, campanhas sensacionalizadas pela mídia a fim de arrecadar alimentos. Tudo isso apenas promove aquele que faz, onde o retorno certo é o lucro exorbitante.


Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Primeiro Semestre de 2007

[1] Texto extraído da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro http://www.bibvirt.futuro.usp.br A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, acessado no dia 26/05/2007, às 13:54.

quarta-feira, abril 21, 2010

Brasília 50 anos

Nestas duas últimas semanas, muitas foram as reportagens mostradas pela televisão sobre os 50 anos de Brasília. Em todas essas reportagens, destacou-se um forte senso civista, sacralizante. As reportagens mostravam a Brasília dos grandes monumentos; a cidade que parece ter surgido como um evento ex nihilo; a cidade que se destaca pelas suas largas avenidas; a cidade de construções com curvas sinuosas, sensuais; a cidade que se destaca pelo verde que se alastra nas quadras, criando um misto de prédios arquitetados entre as alamedas; de árvores frutíferas – jaqueiras, mangueiras, amoreiras, abacateiros e etc. A Brasília do poder – da Esplanada dos Ministérios. Da Praça dos Três Poderes. A Brasília imponente, vestida pela glória. Ou seja, pintava-se a Brasília dos cartões postais.

E, de fato, Brasília é uma cidade sui generis. Sua estrutura física diferencia-se das demais cidades brasileiras. Eu, por exemplo, quando vou à Goiânia, cidade situada a pouco mais de 200 quilômetros da Capital Federal, penso está em outro mundo. As ruas estreitas, a sensação encurralamento, de asfixia urbana é incomparável. O trânsito amalucado, tenso, de desrespeito e imprudência parece ser uma prática constante. A estrutura, o modelo arquitetônico de Brasília, não permite que se experiencie tais aspectos.

O que a televisão esqueceu de mostrar foi a Brasília dos contrastes. Das invasões que grassam por todos os lados. Da esperteza dos especuladores de terra; a Brasília, sonho das grandes construtoras, que fazem “encarecer” o custo de vida, dificultando a existência do trabalhador de baixa renda. A Brasília dos caciques políticos. Dos coronéis que ainda praticam o voto de cabresto em pleno século XXI. Que se utilizam da máquina pública para se perpetuarem no poder às custas da ignorância do povo. A Brasília dos escândalos, da ineficiência. A Brasília de monumentos frios. A Brasília dos desencontros. A cidade que parece ter sido feita para “afugentar” qualquer possibilidade de arregimentação social.

O simbolismo do que é Brasília acontece num entroncamento das Asas Sul e Norte – a Rodoviária. Por ali passam milhares de pessoas todos os dias, vindas das mais diversas regiões do Distrito Federal e das cidades do entorno, aqueles que formam um cinturão de necessidades ao redor do “sonho chamado Brasília”. É possível distinguir todo Brasil na Rodoviária do Plano Piloto. Afinal, ali estão sulistas, nordestinos, pessoas vindas da Região Sudeste entre outras cidades brasileiras. Todos “se encontram ali”, mas ninguém se conhece. Estão todos atomizados. É a Brasília fria e impessoal. Que foi feita para que os seus habitantes não se encontrem. O homogenismo de Brasília e superficial e heterodoxo.

O sonho chamado Brasília é patente, existente, para os moradores do Plano Piloto ou dos Lagos Sul e Norte; ou do Setor Sudoeste, Park Way ou qualquer condomínio, a medievalização da modernidade – a Brasília dos burgueses. Para os moradores das cidades-satélites, principalmente as surgidas da “grilagem” de terras ou da imposição de “alastramento” forçado, Brasília não está vestida de sonho, de fantasia. Não se constitui numa ilha, num paraíso em meio ao cerrado. A Brasília dessa gente está vestida por um realismo cruel, o realismo do dia a dia – a Brasília do proletariado. Do ônibus lotado. Do morar na periferia – cidades dormitórios, que revela a sua face na exclusão social – criminalidade alta, juventude sem perspectivas, do uso indiscriminado de drogas (álcool e crack), pelos jovens.

As melhores palavras que encontrei para definir o que é Brasília estão escritas no livro Tudo o que é sólido desmancha no ar[1], do escritor americano Marshall Berman:

Tive a oportunidade de vivenciar e mesmo participar de um choque muito intenso entre modernismos quando estive no Brasil em agosto de 1987 para participar de um debate sobre o presente livro. Minha primeira escala foi Brasília, a capital criada por decreto, ex nihilo, pelo presidente Juscelino Kubitschek, no final dos anos de 1950 e início dos anos 1960, exatamente no centro geográfico do país. A cidade foi planejada e projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, discípulos esquerdistas de Le Corbusie[2]r. Vista do ar, Brasília parecia dinâmica e fascinante de fato, a cidade foi feita de modo a assemelhar-se a um avião a jato tal como aquele do qual eu (e quase todas as outras pessoas que lá vão) a vemos pela primeira vez. Vista do nível do chão, porém, do lugar onde as pessoas moram e trabalham, é uma das cidades mais inóspitas do mundo. Não caberia aqui uma descrição detalhada do projeto da cidade, mas sensação geral que se tem – confirmada por todos os brasileiros que conheci – é a de enormes espaços vazios em que o indivíduo se sente perdido, tão sozinho quanto um homem na Lua. Há uma ausência deliberada de espaços públicos em que as pessoas possam se reunir para conversar, ou simplesmente olhar uma para outra e passar o tempo. A grade tradição do urbanismo latino, em que a vida urbana se organiza em torno de uma grande praça, é rejeitada de modo explícito.

O projeto de Brasília talvez fizesse sentido para uma ditadura militar, comandada por generais que quisesse manter a população a certa distância, isolada e controlada. Como capital de uma democracia, porém, é um escândalo. Para que o Brasil possa continuar democrático, declarei em debates públicos e aos meios de comunicação, ele precisa de espaços públicos democráticos aonde pessoas vindas dos quatro cantos do país possam convergir e reunir-se livremente, conversar uma com as outras e dirigir-se a seus governantes – porque numa democracia, afinal de contas – o governo pertence às pessoas – para discutir suas necessidades e desejos, e para manifestar sua vontade.

Depois de algum tempo, Niemeyer respondeu. Após uma série de comentários pouco lisonjeiros a meu respeito, ele disse algo mais interessante: Brasília simbolizava as aspirações e esperanças do povo brasileiro, e qualquer ataque ao projeto da cidade era um ataque ao próprio povo. Um dos seus seguidores acrescentou que era sinal de meu vazio interior ou pretender ser modernista e ao mesmo tempo tacar uma obra que figura entre as maiores encarnações do modernismo.

Tudo isso me fez pensar. Num ponto Niemeyer estava certo: quando foi concebida e planejada, nos anos de 1950 e início dos anos de 1960, Brasília de fato representava as esperanças do povo brasileiro, em particular seu desejo de modernidade. O grande hiato entre essas esperanças e sua realização parece dar razão ao homem subterrâneo: para homens modernos, pode ser uma aventura criativa construir um palácio, e no entanto ter de morar nele pode virar um pesadelo.

Esse problema é particularmente crucial para um modernismo que impede ou hostiliza a mudança – melhor dizendo, um modernismo que busca uma única grande mudança, e depois não aceita mais nenhuma. Niemeyer e Costa, tal como Le Corbusier, acreditavam que o arquiteto moderno deve usar a tecnologia para concretizar certas formas ideais , clássicas, eternas. Se isso pudesse ser feito na escala de uma cidade inteira, ela seria perfeita e completa; suas fronteiras poderiam se estender, mas ela jamais deveria se desenvolver a partir de dentro. Tal como o Palácio de Cristal imaginado por Dostoievski, a Brasília de Costa e Niemeyer não deixava a seus cidadãos – e aos outros brasileiros – “nada mais a fazer”.

Em 1964, pouco depois da inauguração da nova capital, a democracia brasileira foi derrubada, sendo instaurada uma ditadura militar. Durante o período de governo militar (ao qual Niemeyer se opôs), a população teve de enfrentar crimes muito mais sérios do que as falhas no projeto da capital. Mas quando os brasileiros reconquistaram a liberdade, no final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980,, era inevitável que muitos deles manifestassem seu descontentamento com a cidade, que parecia ter sido projetada com o fim de mantê-los calados. Niemeyer deveria ter percebido que uma obra modernista que negava alguma das mais básicas prerrogativas modernas dos cidadãos - falar, reunir-se, discutir, manifestar suas necessidades – fatalmente conquistaria muitos inimigos. Em meus pronunciamentos no Rio, São Paulo e Recife, terminei atuando como porta-voz de uma indignação generalizada a respeito de uma cidade que, muitos brasileiros me disseram, não tinha lugar para eles[3].

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

Data: 21 de abril de 2010, 12:40



[1] BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia de Bolso. 2007. 463p.

[2] Arquiteto, urbanista e pintor francês de origem suíça, nascido em 1887 e morto em 1965. A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentes em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitectónicas de Le Corbusier foram adoptadas pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos da América. Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias. Depois da sua morte, os seus detractores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitectura contemporânea. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Le_Corbusier. Acessado em 21 de abril de 2010.

[3] BERMAN. Op. cit. p. 12-14

segunda-feira, abril 19, 2010

Terror brando

A partir de agora, quem quiser poderá colher com muita fartura alguns argumentos no arsenal de acusações e insinuações políticas de líderes do PSDB e do DEM para votar contra a candidata petista, Dilma Rousseff. Mas o eleitor, movido por isso, será vítima fácil de um procedimento usado para conslidar o preconceito na alma dos preconceituoso. O eixo desse discurso é resultado da índole política de alguns e da leviandade pessoal de outros. Entre esses últimos, alguns esquerdistas convertidos que trocaram a posição de contestadores, na ditadura, pelo papel de viga de sustentação do establishment.

Serra, no discurso da convenção tucana que consagrou o nome dele como candidato, semeou em campo preparado pela imprensa. E espera, em outubro, colher os frutos. Ele defendeu a democracia representativa: "Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la" - como se, do lado oposto houvesse um adversário disposto a destruí-la. Nada, porém, consolida mais as bases dos regimes democráticos do que a inclusão dos excluídos. O sistema não se sustenta somente na existência das liberdades politicas. É também resultado da distribuição de renda que diminui o fosso entre ricos e pobres.

Eis outras duas pérolas de insinuações sub-reptícias na tentativa de estimular o medo da classe média: "É deplorável que haja gente que queira dividir o nosso Brasil". E msid: "Um governo debe sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres". Antes de Serra tinha subio no palco o deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, que deu sequência ideológica ao discurso do pai, Cesar Maia, para que Dilma, se vencer, poderá se "aproximar do esquema bolivariano parecido com o do venezuelano Hugo Chávez". O filho não se desviou desse caminho. Afirmação de Maia júnior: "O que nos preocupa, acima de tudo, são os riscos que a natureza dos nossos adversários impõe aos princípios de liberdade que nos inspiram e às próprias insituições democráticas". A oposição está sem discurso, já foi dito e repetido. Pai e filho devem pensar que alguém, além de idiotas, acredita nas ameaças contidas nessas frases. Esse é o terror verbal, brando, que não consegue ficar acima das considerações ardilosasas e preconceituosas. A mesma melodia tocada no bumbo da velha "banda de música" do udenismo.

Não parece ser esse o caminho capaz de impulsionar a vitória da oposição contra a candidata de um governo que, além de aprovação hostórica, é apoiada por um presidente com popularidade nunca alcançada por seus antecessores. Há quem ofereça uma atenuante para essa caminhada equivocada di candidato tucano. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos é um desses. Acredita que esses desvios no discurso do candidato tucano se devem ao fato de, na essência, ele ser "um eleitor de Dilma". Se for assim, José Serra parece ser vítima dessa fatalidade que acomete biografias divididas entre o passado e o presente.

Por Mauricio Dias.
Carta Capital. Rosa dos Ventos. Terror brando. Ano XV. No. 592, 21 de abril de 2010. p. 14.

segunda-feira, abril 12, 2010

“Eis o homem”

Nietzsche é um dos pensadores que mais admiro. O filósofo pensou “o certo”, “o coerente”. O seu aforismo: “‘Toda verdade é simples’ – Não é isso uma dupla mentira?” evidencia o seu pensamento. Ele não montou sistemas, nem tão pouco desejou fazê-lo. “Desconfio de todos os sistematizadores e os evito. A vontade de sistema é uma falta de retidão”.
Pensador da cultura, Nietzsche possuía um tipo de sobriedade que não se encontra originariamente em outro pensador. Sua linguagem não é hermética, carregada de empolações sistemáticas, o que o torna convidativo desde a primeira página. Nietzsche não quis escrever para um clube seleto de especialistas guardados em torres de cristal, completamente afastados do mundo.
O filósofo queria encontrar verdadeiros pensadores, verdadeiros homens, mas não os encontrou. O mundo está repleto de mimetismo, de símios ideais. “Fala o desiludido: ‘Eu buscava grandes homens e sempre achei apenas os macacos’”.

O que me impressiona em Nietzsche é fato dele não ser apenas um filósofo, conforme as implicações da palavra. O pensador alemão é, também, um poeta. Seus livros são, antes de tudo, verdadeiras fontes de riqueza literária. Sua linguagem é curta e cortante. Ele não perde tempo. Ataca em todo tempo, mesmo nos momentos de imenso lirismo. Podemos ler os capítulos ou porções de capítulos separadamente sem que isso afete a compreensão daquilo que estamos lendo. Certamente isso é uma forma diferenciada de escrever sobre temas complexos, mas numa linguagem na qual não é difícil compreender. Afirmação interessante pode ser encontrada em “O Crepúsculo dos Ídolos”: “...minha ambição é dizer em dez frases o que qualquer outro diz em um livro – o que qualquer outro não diz em um livro”. Cultor do aforismo, Nietzsche se distingue ainda dos demais filósofos pela plasticidade literária que empregou a essas “estruturas textuais”. “...jamais fui modesto o bastante para exigir menos de mim. O aforismo, a sentença, nos quais sou o primeiro a ser mestre entre os alemães, são as formas da eternidade”.

O professor da PUC-SP e da UNIRIO, Willis Santiago Guerra Filho, afirma de forma embelezante: “O aforismo sempre viveu na fronteira entre a poesia e a filosofia. Se a origem do aforismo no mais das vezes é espontânea como a da lírica, ele pensa o mundo com a consciência extrema, típica da Filosofia. Fragmentário e antissistemático, sentencioso no ato de lapidar uma sensação ou um pensamento e propício tanto para representar a realidade quanto para esboçar aquilo que ainda não é real, o aforismo pode alcançar o estatuto de obra em apenas em três linhas. É um estilhaço de pensamento, uma máxima espirituosa de fôlego curto e sabedoria imensa. É uma formulação arguta – ora combativa, ora contemplativa -, apta a desvelar o mundo na ligeireza de um espasmo”[2].

Por fim, Nietzsche não é um pensador que desfere golpes no vento. Suas investidas, “marretadas filosóficas”, são certeiras, quebram ídolos cristalizados nas consciências “in-conscientes”. A plaina filosófica de Nietzsche despedaça certezas, amolda, delata, desfaz, imprime formas coerentes às convicções brônzeas como se estas fossem pedaços de argila. Algumas fórmulas aforismáticas do filósofo:

(1) “Você quer ir junto? Ou ir à frente? Ou ir por si?.. É preciso saber o que se quer e que se quer”.

(2) “Esses foram degraus para mim, eu subi por eles – para isso tive que passar por eles. Mas eles pensavam que eu queria repousar em cima deles”.

(3) “A fórmula de minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta, uma meta...”.

(4) “Não cometamos covardia em relação aos nossos atos! Não os abandonemos depois de fazê-los – é indecente o remorso”.

(5) “Da escola de guerra da vida: O que não me mata me fortalece”.

O filósofo foi um pregador incansável da afirmação da vida. Ele sabia como ninguém o valor da vida. Nietzsche é o filósofo daqueles que aprenderam a superar a si mesmos. O que afirmar de um filósofo que diz, entre outras coisas, ser “o primeiro a ter em mãos a medida para o que é a verdade?” É preciso considerar isso do ponto de vista da filosofia. Não pelo meio convencional, mas transvalorizando todos os valores; admitindo a vida.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

Data: 12 de abril de 2010, 21:19.


[1] Impressões pessoais após a leitura de “O Crepúsculo dos Ídolos”. NIETZSCHE, Friedrich. O Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Companhia das Letras. 2006. 154p.

[2] GUERRA FILHO, Willis Santiago. FILOSOFIA CIÊNCIA E VIDA. Ano IV. No. 43. In: “O Significado Filosófico da Matemática”. p. 35

quarta-feira, abril 07, 2010

Janela da Alma

Janela da Alma é um documentário brasileiro produzido no ano de 2002. É o resultado do trabalho dos diretores João Jardim e Walter Carvalho. O trabalho trata da questão do olhar, do mundo das imagens, a partir do depoimento de várias pessoas com deficiência visual; artistas (como Marieta Severo) e escritores da envergadura de José Saramago.

O documentário trata das possibilidades do olhar como veículo mediador entre o mundo e o ser de cada um. E como ele vai definir, a partir das nossas percepções estabelecidas entre o olhar e objeto que é identificado por quem olha, o diálogo que estabelecemos com o mundo. É dessa reciprocidade que encetamos a relação do ser com o real.

Além do que, outra problemática abordada pelo documentário, versa sobre o poder imagético da modernidade. Ou seja, como vivemos num mundo bombardeado pelas imagens, que de tão insinuantes e provocativas, na maioria das vezes, não dizem nada. O resultado dessa imposição da imagem é o esvaziamento dessa mesma imagem como algo positivo, potencializadora de mensagens saudáveis. As imagens da modernidade são grandes fetiches que trazem em seu conteúdo uma propaganda para vender e favorecer aquele que oferta alguma mercadoria.

O trabalho excelente dos diretores João Jardim e Walter Carvalho, ajuda-nos ainda a desmitificar o conceito de que a imagem é tudo como nos é transmitido pela realidade. As aparências são apenas um discurso que não revelam o ser, a identidade do sujeito. Ou seja, mais que enxergar o externo, é necessário se enxergar o que vemos e como vemos a realidade e como essa postura nos ajuda a enxergar a nós próprios enquanto sujeitos no mundo. Os vários depoimentos com pessoas com algum nível de deficiência visual enfatizam esse fato. Essas pessoas conseguiram desenvolver uma capacidade perceptiva que está para além dos fatores externos.

Assim, o documentário possui um caráter altamente relevante no que tange a lançar uma nova possibilidade de visão da realidade. Enfatiza que o mundo criado a partir do olhar da subjetividade é uma possibilidade que dá identidade ao sujeito.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

sábado, abril 03, 2010

O julgamento dos Nardoni e a vontade do povo

Fato que me chamou a atenção foi o julgamento do casal Nardoni realizado na penúltima semana de março passado. Segundo a mídia nativa, que se aproveita das tragédias sociais e do caos para se vender e se promover, era um dos julgamentos mais importantes da História do Judiciário brasileiro. Houve um engradecimento do caso. Não escusamos aqui a fatalidade. Mas o que me deixou silencioso em meus pensamentos foi a reação da massa que cercou o fórum na cidade de São Paulo. Pessoas dos mais distintos lugares foram ao local para apreciar o caso num acesso de "justiçamento". Todos acompanhavam o caso com muita atenção. Não quero entrar em pormenores quanto a quem matou a menina de cinco anos, filha do casal Nardoni. Fato interessante é que antes do julgamento o casal já estava condenado. A mídia já havia condenado os dois. Nem o princípio constitucional de que a culpa só se efetiva com o trânsito em julgado da sentença - no juridiquês do Direito - foi levado em conta. Quando o juiz leu a sentença, resultado da apreciação do tribunal do júri, que tem competência para julgar os crimes contra a vida, houve "um salva de vivas". Havia uma lascísvia de contentamento nos olhos daqueles que estavam lá acompanhando o caso desde o primeiro dia. Era como se aqueles que acompanhavam o caso quisessem fazer justiça a toda força. Estranhos são os homens. Pensei que fosse uma final de campeonato. A psicologia do caso me aponta que havia um senso de raiva e ira represado no coração de cada um daqueles que estavam ali - e de tantos outros que estavam pelo Brasil afora. torcendo para que, se possível, o casal fosse estripado. A massa dispersa ganhou forma e a vontade individual tornou-se uma no que diz respeito ao desejo de solução pela força, nem que fosse pelo "esfolamento" ou pela morte. Fico a imaginar se os jurados tivessem absolvido das acusações de que era objeto o casal. O povo teria invadido o tribunal. Uma confusão generalizada poderia grassar. O Brasil é um país violento, que tem a sua guerrilha particular. A violência urbana mata mais do que a guerra histórica travada entre judeus e palestinos. A televisão "espetaculariza" todos os dias os casos de violência e isso faz brotar na paiquê da coletividade um medo mesclado de ódio e auto-justiçamento. Com relação a este fato (o julgamento dos Nardoni), achei uma extraordinário texto do filósofo Paulo Ghiraldelli sobre o caso.

Leia o texto na íntegra logo abaixo:

Isabela Nardoni enterra os seus mortos


Terminado o julgamento do casal Nardoni e passada a gritaria e rojões dos desocupados que ficaram em frente ao Fórum ou que, em suas casas, não faziam mais nada senão se alimentar do noticiário bestializado do caso, veio o inexorável silêncio. Mais uma vez a vida dessas pessoas que gritaram e comemoraram voltou a encher-se de nada. Todas elas caminharam para a mediocridade de onde saíram. Cada vida ali, cheia de nada, talvez tenha menos a fazer no mundo do que os Nardoni, que irão envelhecer na cadeia. Cada uma daquelas pessoas, até chegar ao ouvido delas a morte de mais uma Isabela qualquer, estará tão morta quanto a própria Isabella. Nada dentro de casa, nada no horizonte.

Uma vida cheia de nada.
As vidas dessas pessoas que se dispõem a se engajar em alguma causa que não é causa nenhuma, quando não há nenhum Hitler para recrutá-las para “fazer justiça”, é uma vida intermitente. Na falta de mais uma causa que não é causa nenhuma, tudo é um grande e eterno vazio. Nenhum emprego interessante, nenhum casamento gostoso, nenhum lar sadio, nenhum objetivo político; somente um horizonte social totalmente transparente – é tudo o que possuem. Quando William Bonner anunciará algo novo, possível de ser assimilado pelos cérebros simplórios, para que seus proprietários se levantem de seus túmulos? Essa é a pergunta que paira no ar na casa de cada um que soltou rojão ou que ficou no Fórum gritando “por Isabela”. “Uma vida cheia de nada” é o tema do ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro este ano, a belíssima película argentina “O segredo dos seus olhos” (José Campanella, 2009). Vale a pena ver. Há ali uma história. Mas “a vida cheia de nada” dos que gritaram por Isabela não dá um filme. Tudo ali é tão realmente cheio de nada que nem mesmo a narrativa sobre a pobreza de espírito é possível nesse caso. É o deserto avassalador que cresce dentro de cada alma que nem mesmo é uma alma, apenas uma cavidade encurtada capaz de fazer eco a um distante som metálico de noticiários de TV voltado para questões policiais. Hitler não vem. Mussolini não chega. Hiroíto não passa. Franco não dá bola. Pinochet não é ninguém. Castelo Branco é um desconhecido.

Todos os ditadores, dos maiores aos menores, capazes de poder fazer viver a turba que deseja vingança – vingança contra algo que a turba não sabe o que é e que, por conta da pouca educação social, diz que é “justiça” – não estão disponíveis. Resta então implorar por Datena. Talvez ele ponha alguma adrenalina em uma vida ressentida e cheio de nada. Mas Datena não vai adiante, ele é o Afanásio Jazadi dos novos tempos, da época “pós-politicamente correto”. Ele quase lança o ódio, mas recua. Ele não dá o que a turba pede. Por sua vez, Serra, que canaliza a direita hoje, é um candidato com um gosto tão entusiasmante quanto Alckmin. Picolé d xuxu era seu parceiro, ele próprio, Serra, é picolé de nabo. A turba almeja mesmo é por Hitler. Mas, eu garanto, ele não vem. Então, que Deus se apiede de todos e jogue alguma Isabela de outro edifício, caso contrário, cada uma dessas pessoas terá que ficar mais tempo no seu cemitério. Não poderá ganhar a luz do dia.
Uma vida cheio de nada. Quando uma vida é cheia de nada, nos cartazes dos manifestantes (como uma parte de nossa população está ficando igual aos setores conservadores americanos!) sempre aparece uma palavra suficiente mente vazia para dar razão ao vingadores: “Deus”. Deus não aparece para apaziguar, diminuir ódio ou promover a paz. Ele aparece para que exista vingança, não a respeito de Isabela, mas de qualquer outra coisa, talvez seja a vingança contra a própria vida cheio de nada. “Deus” surge para promover o ressentimento que ganha o nome , no caso, de “justiça”. Que sorte que Collor deu no que deu, pois, caso tivesse continuado, ele poderia aproveitar essa gente. Sendo ele agora apenas um senador marcado, tudo fica mesmo por conta de Bonner falar de outra desgraça. Enquanto as coisas ficarem só nisso, não há perigo.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo.

DAQUI

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: Sábado, 03 de abril de 2010.

sexta-feira, abril 02, 2010

A Distopia em “A Máquina do Tempo” de Wells

Vi ao filme “A máquina do tempo” (2002), baseado no livro homônimo do escritor de ficção científica H.G. Wells. O inglês se imortalizou na elaboração de obras futuristas, mais conhecido por ficção científica. Outra obra importante escrita por ele foi “Guerra dos Mundos”, que também virou obra fílmica. Em “A máquina do tempo”, apesar de não ter lido ao livro, e, me deter apenas em elementos do filme, H.G. Wells fez uma crítica cortante ao modus operandi da História. A história do filme gira em torno de um professor amalucado, dinâmico, obstinado e curioso. Um retrato do homem empolgado com o futurismo que permeava o mundo ocidental no início do século XX. Era a sociedade das máquinas, da velocidade, das locomotivas. Sociedade do brilhantismo das invenções. Neste mundo de descobertas e crença na ciência vive o professor Alexander. Certo dia, ao se encontrar em um parque com a sua namorada e se destacar com ela dos presentes do lugar, são surpreendidos por um ladrão. Nesse episódio, aquela que seria esposa de Alexander é morta. Aquele fato “desequilibrou” o professor. Dali para frente ele trabalharia no projeto de uma máquina a fim de voltar no tempo e mudar o passado.

Tendo feito isso, o professor volta no tempo. Leva Emma, sua namorada, para longe do parque. É a sua tentativa de preservar aquela a quem ama. Todavia, ao deixar Emma para ir à uma floricultura, presencia uma carruagem atropelando mortalmente aquela a quem tanto amava. Ele entende que há certa premissa imperiosa que determinava aquele acontecimento: se ele voltasse no tempo mil vezes para evitar o fato, Emma morreria mil vezes. Alexander entendeu que não tendo respostas no passado, o melhor seria se fiar pelo futuro. Após algumas visualizações surpreendentes de como seria a sociedade do futuro, o professor viaja 800 mil anos no tempo. E neste aspecto notamos uma montagem belíssima: o trabalho lento e gradual da natureza. Um rio que se “dissolve”, “devora” pouco a pouco a terra; as florestas que crescem e que ao mesmo tempo desaparecem; desertos que se agigantam e são dissolvidos pelos agentes naturais; montanhas que são perfuradas pelo vento e pela chuva como se fossem meros pedaços de argila. Em tudo isso, verificamos o devir da natureza. O aspecto frugal do tempo. Que nada é eterno, tudo se dissolve, muda. Em 800 mil anos, a evolução criou seres antagônicos. Os humanos vivem assustados. São parasitados por seres bestializados, os morlockes. A evolução transformou estas criaturas em seres animalizados. Vivem nos subterrâneos. No interior das minas. Em cavernas. Destacam-se pela força. São controlados por seres superiores, que não podem ver a luz e aumentaram extraordinariamente a energia psíquica. O mundo futuro é dominado por essas criaturas que não podem ver o sol, mas são capazes de penetrar a mente de qualquer ser vivo, gerando pavor, medo, inoculando dominação. Segundo o filme, esses seres com elevado nível de atividade cerebral faziam parte das antigas oligarquias do passado. E, no futuro, continuaram a manifestar hegemonia.

Analisando por essa perspectiva, lembrei das palavras iniciais do “Manifesto do Partido Comunista”: “A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história de lutas de classe”. O filme deixa a atordoadora mensagem de que há uma linha de poder que busca prevalecer na história, causando domínio, medo e crueldade. Outro aspecto a ser salientado na mensagem do filme é que há realidades que podem ser mudadas na vida e, outras, não. Aquilo que pode ser mudado é digno de esforço, suor e trabalho. A obra do diretor Simon Wells consegue ser bem convincente. A crítica mais convincente é dominação de um grupo sobre outro na História. A humanidade sempre esteve propensa a essa realidade infausta. Aqueles que dominam parecem nunca está satisfeitos. O poder atrai, gera o desejo de mais poder. Quem tem poder deseja ter mais controle. É uma síndrome fáustica. A obra constitui aquilo que se conhece “distopia”. É construção inversa da utopia. Enquanto a utopia se fixa numa possibilidade, numa perspectiva daquilo que pode ser alcançado, criando assim um aspecto ‘messiânico’ à esperança, a distopia atua inversamente. “Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma "utopia negativa". São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações[1]. Outras obras como “Admirável Mundo Novo” de Huxley, “1984” e “A Revolução dos Bichos” de Orwell ou “Fahrenheit” de Ray Bradbury são exemplos de obras distópicas.


Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: 11 de novembro de 2009

[1] Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Distopia. Acessado em 02 de abril de 2010.