terça-feira, agosto 04, 2015

A prisão de Zé Dirceu é um lance de xadrez para aplicar o xeque-mate

O xadrez político do mês de agosto revela lances premeditados, previsíveis. Não há um córrego intermitente a impelir um regato tímido e morrediço como muitos acham. Há um mar revolto, com águas vermelhas, caóticas, representando hegemonicamente os anseios de boa parcela da população brasileira. A mídia (os jornalões, os revistões e a televisão), os partidos de oposição, o Judiciário, os presidentes do Senado e da Câmara, o alto escalão do empresariado, estudam movimentos para asfixiar o Governo com um xeque-mate. A prisão do Dirceu é uma tentativa de atingir o Lula. O alvo do juiz Sérgio Moro e da mídia é o Lula. Repito: o alvo das investigações é o Lula. Eles movimentam as peças. Sabem que cada lance deve ter uma ciência. Uma vez que se atinja o Lula, desmorona o castelo do Partido dos Trabalhadores. Eles possuem o poder, são uma categoria que manipula o cenário político. Mas sabem que não podem aplicar um golpe sozinho. Por isso, criam um cenário de implosão, de um armagedom de corrupção com suas notícias seletivas e tendenciosas. 

Quem monta o palco para o golpe são as elites, mas quem bate palmas para as ações farsescas da burguesia são os setores conservadores da sociedade.  Marx em seu livro "18 de Brumário de Luís Bonaparte", um estudo que fez sobre o golpe de estado aplicado na França pelo sobrinho de Napoleão - Luís Bonaparte - disse algo fantástico: "Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". E mais à frente: "Os homens fazem sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. A tradição de todas as gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos". 

Ou seja, é possível perceber um certo movimento que se repete - não da mesma forma. Uma ação deliberada, que caminha com passos silenciosos, velozes, para asfixiar os setores progressistas do país. O que vemos hoje é uma declaração de extinção dos valores e direitos fundamentais preconizados na Constituição. A oposição está pouco se lixando com a dita corrupção do PT. Ela sabe que, no fundo, os seus próprios valores não são íntegros, probos, retos e a favor da justiça. O que ele procura é rechaçar de qualquer forma o perigo que o PT representa. Ela quer o Estado de volta. E, atualmente, "o tema corrupção" é aquilo que deslumbra e indigna a sociedade. A corrupção faz parte do "modus faciendi" da sociedade brasileira. O modo de navegação que impele o sujeito médio do país é aquele que faz com que ele busque tirar vantagens do máximo de situações, sem se preocupar com o outro ou com os efeitos de sua ação sobre a coletividade. Chico Buarque ironizou isso em uma de suas músicas, dizendo que "não existe pecado do lado de baixo do equador". Enquanto não se entender isso, continuaremos a apontar dedos, desferindo golpes inocentes em inimigos invisíveis. 

O fato é que o cenário é complicadíssimo para o Governo. A mídia e os outros jogadores citados acima - que fazem parte do mesmo grupo - sabem que é preciso incendiar, jogar combustível, alimentar a indignação alienada da classe média para que a marcha acéfala do dia 16 ganhe corpo e não seja como a última que aconteceu em abril. É preciso arranjar atores, imolar supostas vítimas. José Dirceu é o cordeiro que serviu para a situação. Mas, ainda não parou. Os tentáculos do juiz Moro são insaciáveis. O objetivo é alcançar o Lula. 

E quando isso acontecer, o país enfrentará dias difíceis. Nossa "democracia racionada" correrá perigo e de transformar numa "democracia extinta". O voto de 54 milhões de pessoas serão jogados na latrina da história. E aí, para evocar Marx, teremos tragédia e farsa sendo encenadas. E muitos baterão palmas nesse dia - sem saber por quê.

3 comentários:

Ramiro Conceição disse...

A SEGUNDA RESPOSTA DE JESUS


Caro Carlino, sendo curto e grosso: se o Zé Dirceu efetivamente ganhou e distribuiu propinas, não há o que discutir: houve crime e ponto…

Todavia, o que chama atenção é o fato de que o time da Lava Jato convoque a imprensa e, sem julgamento, sem os caminhos do Direito, declare claramente o veredicto - não do suspeito, mas já do condenado - diante de toda a nação brasileira, antes do contraponto de sua defesa que, até onde compreendo, é garantido pela Constituição.

Não sendo advogado, mas poeta e engenheiro, pergunto-me: que espécie de processo judicial é esse em que a sentença já está definida a priori? Que exercício do Direito é esse em que aquele no papel de juiz - sob o crivo de uma opinião pública envenenada pela mídia e que espera como resultado, unicamente, o esquartejamento social do suspeito - tem de ser ainda justo…; não importando qualquer que seja a argumentação da defesa? Ora, isso parece um linchamento ético-moral e, consequentemente, longe de qualquer justiça.

E o resto?... O mensalão tucano? O suborno de Aécio em Furnas? O suborno do Hélio Guerra? O Metro e os trens paulistas? O Aloysio 300 mil? A fazenda de FHC num sobrado em Osasco? As relações de Serra com o Daniel Dantas? O exercício de uma atividade empresarial do Gilmar Mendes enquanto ministro do STF? E as privatizações? A filha do Fux? A compra da casa em Miami pelo Barbosa? A desvalorização do Real após a reeleição de FHC? A compra de votos à reeleição tucana à Presidência da República? A distribuição de rádios e TVs por todos os rincões do Brasil? A corrupção da Globo junto à Fifa? As contas do exterior do HSBC? A relação promíscua da Veja com o Cachoeira? A relação promíscua da Folha com os porões do delegado Fleury? As relações do Caiado com a oligarquia do agronegócio? A vida corrupta do Agripino Maia? E o assassinado e roubo do índios? O assassinado e roubo dos negros? O assassinato e roubo dos pobres? O assassinado e roubo de gerações continuas dos jovens brasileiros? A eutanásia dos aposentados? A destruição das universidades? O esfacelamento das famílias? O estado paralelo do tráfico nas favelas? O assassinato do trabalho pelo capital? O assassinato do capital produtivo pelo rentável? O assassinato das florestas? O extermínio de rios e oceanos? E, finalmente, apodrecimento do amor?...

Volto a perguntar: e o resto?...

Creio que a resposta seja aquela segunda, que Jesus gerou à aniquilação do Maligno, quando das tentações no deserto. Dentro desses tempos terríveis, a última encíclica de Francisco, creio, é a nossa única esperança…

Ramiro Conceição disse...

Assim, diante da segunda resposta de Jesus, deixo uma celebração ao seu Primeiro Milagre…

https://www.youtube.com/watch?v=S12B4aAIjWs

Carlinus disse...

Sábias são as suas palavras, Ramiro!

Tantas dúvidas, tantas perguntas...