sábado, julho 04, 2020

Uma crônica do atraso no bairro do Leblon em tempos pandêmicos

Aglomeração de pessoas no bairro do Leblon
O atraso brasileiro não é obra de dias. Possui um longo curso. É obra de séculos. A elite branca brasileira é uma das mais atrasadas, boçais e ignorantes do mundo. E orgulha-se disso. Às vezes, questionamos numa incrédula reflexão sobre como foi possível Bolsonaro chegar ao poder. Todavia, uma sociedade liderada por uma elite que é filha da escravidão, do autoritarismo e da violência, necessariamente, teria que eleger alguém "à sua imagem e semelhança".

As imagens do vídeo aconteceram, no dia 2 de julho, na Rua Dias Ferreira. Fui olhar onde ficava o endereço e descobri que fica no bairro do Leblon, um dos locais mais caros do país. É procurado pela elite cultural e econômica do Rio de Janeiro. Possui um dos metros quadrados mais caros do país, podendo chegar a 20 mil reais. Segundo o IBGE, 87% dos moradores do Leblon são brancos. Majoritariamente, o Leblon é constituído por pessoas ricas.

E, certamente, aqueles que estão nesse vídeo também o são. Observam-se pessoas bonitas, despreocupadas, risonhas. Nota-se que ninguém usa máscara. O estabelecimento que, de acordo com a legislação da prefeitura, deveria funcionar até às 23 horas, varou a madrugada. Segundo alguns relatos, muitos zombavam da pandemia. Se assim o faziam, é por que têm a certeza de que, caso fiquem doentes, possuem bons serviços de saúde à disposição. Bem diferente dos pobres e marginalizados, que moram na periferia.

Segundo o historiador Eduardo Bueno, quando a imperatriz Leopoldina chegou ao Brasil, em 1817, vinda da Áustria, para ser esposa de D. Pedro I, ela trouxe um carregamento de livros. Leopoldina convivera com Goethe e fora colega de classe de Schubert nas aulas de música. As pessoas da corte e muitos outros que conviveram com ela achavam estranho aquele comportamento. Muitos riam, pelo fato de ela ficar por muitas horas lendo; e ser uma entusiasmada estudante das ciências naturais. Ela gostava de ir à floresta da Tijuca para fazer suas explorações. Olhavam para aquela mulher culta e altiva e zombeteiramente ridicularizavam a vontade de conhecimento da imperatriz. O atraso brasileiro não nasceu hoje.