segunda-feira, junho 05, 2023

Últimos filmes vistos - I

 (1) "O alucinado" (1953), de Luis Buñuel. Quinto filme do diretor a que assisti neste ano. Certamente, o segundo melhor. Perde apenas para o "O anjo exterminador", uma obra-prima incontestável. "O alucinado" está inscrito na fase mexicana da filmografia de Buñuel. É um filme relativamente simples. Todavia, nota-se a transformação de uma personagem. Francisco, o personagem principal, é aristocrata. Um dia, ao ir à missa, encontra Glória. Apaixona-se imediatamente. O magma que emana da paixão é tórrido, irresistível. Mesmo Glória estando noiva de outra pessoa, os dois acabam ficando juntos. A partir daí, Francisco se torna um homem cruel, possessivo, paranoico; e, Glória, por sua vez, uma mulher infeliz. Excelente filme! Não é um dos mais conhecidos do diretor.

(2) "Já era hora" (2023), de Alessandro Aronadio. Tudo é clichê e comezinho nessa produção. Algumas vezes, enquanto assistia ao filme, questionei-me: "Por que estou vendo isso?". Todavia, em dado momento, a história vai ficando interessante. Dante é o nome do personagem principal. É um sujeito que está na casa dos quarenta anos. É um escravo do trabalho. Pretende chegar aos cinquenta para que possa desacelerar. Mas, de uma hora para outra, um fenômeno estranho começa a acontecer: ele sempre acorda no dia do aniversário. E para completar esse amalucado movimento do tempo, ele sempre nota que as coisas estão estranhas: sua companheira engravida; faz terapia de casais em outro momento; o casamento acaba; a filha cresce; tem um caso com a secretária; torna-se o diretor da empresa em que trabalha. A mensagem que fica é que ele se mantém tão ocupado, que não percebe o tempo passar; não nota as pessoas nem as coisas que estão ao seu redor. 


(3) "Rio, 40 graus" (1955), de Nelson Pereira dos Santos. O filme é considerado por muitos como a produção que "inaugurou" o Cinema Novo, movimento que buscava denunciar as mazelas sociais do Brasil, influenciado pelo Neorrealismo Italiano. Talvez, seja o filme que iniciou aquilo que se passou a convencionar como 'favela movie". Ou seja, produções que colocam "a favela" como o cenário da violência e das mazelas sociais do país. O próprio Nelson Pereira filmaria, mais tarde, filmaria "Rio, Zona Norte" - para mim - um dos seus melhores filmes. "Rio, 40 graus" procura mostrar um mosaico de ventos e personagens em apenas um dia. O filme possui vários planos e tomadas que procuram destacar o contraste das personagens. No caso em questão, cinco jovens negros, oriundos do Morro do Cabuçu, vendem amendoim. Um enfoque é dado aos jovens, todavia, observa-se que as personagens vão se conectando por meio de uma série de eventos. Há o Maracanã; há um oligarca que desconhece o país; há a classe média querendo tirar vantagens. É um baita filme, que exige paciência para ser visto. Termina com o bonito samba "A voz do morro", de Zé Kéti.


(4) "O Castelo de Vidro" (2017), de Destin Daniel Cretton. Este filme é um drama visceral, daqueles capazes de provocar raiva e compaixão. No que tange a filmes que procuram retratar a contestação, o desejo por liberdade, coloco "O Castelo de Vidro", ao lado de "Dentro da natureza selvagem" e "Capitão Fantástico". O filme do diretor Daniel Cretton, é baseado em fatos reais assim como em "Dentro da natureza selvagem". "O Castelo de vidro" conta a história de uma família disfuncional. Jeannette Walls, já estabelecida, nos anos 80, rememora os fatos de sua infância e mocidade ao lado do pai (Rex), um alcoolista, insubordinado, sem morada certa, que arrasta a família de casebre em casebre; e permite que os filhos passem pelas mais aflitivas situações - de fome a não ir à escola. Sua postura anárquica é disruptiva. É um contestador. Todavia, seus filhos e sua esposa pagam um alto preço. O filme é excelente.