quarta-feira, dezembro 18, 2019

A grandeza de Paulo Freire e a tolice de um imbecil

"Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo". Paulo Freire

Um dos assuntos mais badalados da semana foi a cena caricata de um presidente despreparado, semialfabetizado, tecendo comentários sobre uma figura da educação. No caso em questão, trata-se nada mais nada menos do que Paulo Freire, uma das personalidades brasileiras mais conhecidas no mundo. Bolsonaro, sempre bolsonárico (uma condição ontológica), chamou o autor de A pedagogia do oprimido de "energúmeno". 

Verificando a acepção da palavra citada pelo presidente (talvez, ele nem conheça os matizes da palavra), verificam-se os seguintes significados: "uma pessoa possessa ou possuída por um demônio; alguém que possui um comportamento descontrolado; um desatinado". Ou em uma última acepção: "sujeito sem conhecimento, um imbecil". E, nesse sentido último, nota-se o quanto a palavra utilizada possui uma falta de nexo com a pessoa a quem ela foi dirigida. 

Certa vez, escutei uma história de um professor da Universidade de Brasília bastante emocionante e singela por tudo o que ela evoca e representa. Dizia ele que certa vez fez uma viagem para a China. Não para a China das grandes metrópoles populosas; de trânsito que beira ao cinematográfico por causa da quantidade de veículos. Não a China das cidades luminosas; não a China dos adjetivos pentagruélicos. Ele foi a um vilarejo do interior, lugar em que o antigo ainda continua com suas tradições; com seus riachos; com suas montanhas; a China da vida simples. Ele visitou uma escola rural. As pessoas do lugar ficaram curiosa para saber de onde procedia aquele ocidental. Insinuou timidamente que era do Brasil. 

E, para a sua surpresa, escutou algo que mexeu com o seu instinto de brasilidade. Ele escutou o nome de alguém que não era um jogador de futebol nem uma atriz de novela. Ele escutou a delicada, mas confortadora frase: "Terra de Paulo Freire". Aquilo colocou a certeza dentro dele de que Paulo Freire não era apenas uma figura pública do Brasil. O pernambucano era um cidadão do mundo. Um divulgador de belezas, dono de uma pedagogia construída com a palavra, a palavra que era tão importante para ele. É importante aprender a "dizê-la"; a desvelá-la. Trazê-la de dentro de si para "pronunciar o mundo, modificá-lo"; transformá-lo pelo entendimento da própria condição de si e do outro. 

A história contada pelo professor é especial, porquanto ilustra a grandeza do filósofo e educador brasileiro. Atualmente, há em movimento, no Brasil, uma marcha em defesa da ignorância, do irracionalismo;  uma corrente anti-iluminista; um macartismo à brasileira, encampado por figuras histriônicas e patéticas. Bolsonaro é uma dessas figuras mais proeminentes. No futuro, haverá risadas - talvez, constrangimento ou vergonha. O atual chefe do Executivo Federal será conhecido - ele sim - como o mais "imbecil" e "energúmeno" dos presidentes que governaram o país. Do contrário, Paulo Freire continuará a ser estudado e respeitado pelo mundo a fora - e reverenciado por pessoas que reconhecem o quanto a sua pedagogia é libertadora. 

sábado, dezembro 14, 2019

Ó Captain! My Captain!" Walt Whitman


A profissão docente não é fácil. É repleta de dissabores. Olhando-a apenas no plano físico, da materialidade, há apenas cansaço. Suor. Falas gritadas em muitos momentos. Indignação. Surtos de poder. Mas, existe uma potência invisível que constrói sentidos; que cativa corações e alimenta olhares silenciosos. Onde menos se percebe, há uma árvore frondosa a frutificar; a produzir beleza; a encher os olhos daqueles que observam.

Deve ser, por isso, que Cristo disse que o semeador saiu a semear. Sim. A função do professor é semear os grãos pequenos, mas insistentes do saber. Eles caem nos solos mais distintos, produzindo matas densas de caráter; de gratidão; de aprendizado; da seiva de que a vida se alimenta.

Escrevo essas palavras chochas, pois recebi uma mensagem esta manhã de uma aluna para quem dei aula em 2013 - a Luíza, criatura meiga e observadora. Fiquei imensamente feliz por saber que ela está bem e começará uma outra jornada! Tornou-se mais latente em mim a noção de que nós professores somos semeadores.


As palavras dela: "Oi, professor! Tudo bem?
Não sei se lembra de mim, tive um ano de aula com você no santa rosa, em 2013 e sou irmã mais nova da Maíra Kirovsky

Ontem tive minha colação de grau e finalmente terminei o ensino médio.

Ao pensar em meus professores e em como tenho enorme carinho por todos, lembrei de você

Embora nosso tempo tenha sido curto, nunca o esqueci e sempre lembro dele com saudades

Posso dizer que você é um dos melhores professores que já tive em todo o meu período escolar

Ir para a escola nunca foi uma tarefa fácil para mim e o ano em que fui sua aluna foi especialmente difícil

Aulas como a sua me ajudavam a conseguir levantar da cama e ir pra escola

Aulas como a sua me inspiraram a ser melhor

E me inspiram até hoje

Quero que saiba da importância que tem em minha vida (e na de muitas outras pessoas, com certeza)

E quero agradecer por tudo

Obrigado por ter me inspirado a ler, obrigado pelas aulas, obrigado por ter me ajudado a formar o ser humano que sou hoje!

Sempre lembrarei de você com ternura e admiração"

Um grande abraço, Luíza!