segunda-feira, abril 18, 2011

Patativa do Assaré, o Homero do sertão

"O sertão é o livro aberto/ Onde lemos o poema/ Da mais rica inspiração/ Vivo dentro do sertão/ E o sertão dentro de mim/ Adoro as suas belezas/ Que valem mais que as riquezas/ Dos reinados de Aladim"
Patativa do Assaré

Antônio Gonçalves da Silva, cidadão brasileiro, mais conhecido pelo topônimo Patativa de Assaré, é um importante nome ligado à cultura popular. A patativa é uma importante ave do sertão nordestino. O cidadão Antônio incorporou o epíteto de pássaro após uma viagem que fez ao Pará quando ainda era bastante novo. Lá, o seu canto se distinguiu dos demais contadores de prosa. Morador de sua Serra, região fria ao sul do estado do Ceará, que constituía para ele um elemento sagrado, musa de sua inpiração! A aragem fria da serra era um hálito que o induzia à criação; possuía efeitos que davam vazão à sua sensibilidade aguçada.

Patativa rejeitava a ideia de dom. Exorcizava os determinismos da realidade, como tantas vezes acontece no Nordeste. Para alguns, muitos dos acontecimentos dos eventos da vida são resultado do arbítrio divino. Não. O poeta costumava dizer que suas habilidades poéticas são o resultado de suas observações, dos duelos de cantador que travou, do povo que ouviu, das necessidades que assistiu, das agonias e gemidos da terra que tanto amou.

O poeta cearense ainda não ganhou o destaque que merece. O saber da academia é dicotômico, criador de categorias - daqueles que podem e não podem pertencer ao seu nicho. Quanto mais um artista falar do povo, tanto mais ele será negligenciado pelas exigências da academia. Patativa ao contrário, é um Camões da cultura popular, um Homero capaz de criar narrativas do universo da nossa gente, das nossas dores e belezas.

Patativa deixa claro que o artista não se afasta do povo. Que ele é um tradutor dos anseios do seu povo. Sua voz está impregnada dos suores e ressonâncias do povo. Que as intervenções de seu verbo são precisas, nunca mascaradas, nunca fingidas. Antônio é um poeta-camponês, na acepção termo. Um verdadeiro clássico do povo e para o povo. Um resgtador da poesia profética. Denunciador da miséria, da ignorância e das fantasias dos seus companheiros do sertão. Ele que não via com olhos, enxergava mais do que ninguém com os olhos da inteligência e da sensibilidade.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque