quinta-feira, julho 28, 2011

Morre aos 90 anos o teólogo inglês John Stott

Fiquei sabendo, no dia de ontem, que o teólogo inglês John Stott, um dos grandes nomes da teologia ortodoxa do século XX, faleceu aos 90 anos. Senti-me despertado a escrever algumas magras linhas em homenagem ao ilustre capelão da rainha da Inglaterra. Recordo-me que nos anos do meu "sono dogmático" - para lembrar Kant -, a saber os anos em que estudei teologia num seminário evangélico de confissão reformada e calvinista, Stott foi um dos nomes que mais li. E tal lembrança me instiga a trazer à memória os bons momentos em que estive com ele. Apesar de atualmente as minhas inclinações com relação a teologia passar por um revisionismo de cunho filósofico do entedimento da fé, ainda possuo em minha biblioteca alguns livros do teólogo anglicano - por exemplo, A Cruz de Cristo, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, Crer é também pensar, Batismo e Plenitude no Espírito Santo; comentários sobre as cartas de Paulo aos Romanos, aos Galátas e as cartas de Paulo a Timóteo.

Enquanto estive no seminário alguns livros de Stott exerceram uma profunda influência nas minhas atitudes e no modo como eu passei a enteder a Bíblia. Recordo-me que a leitura de Contracultura - Estudos no Sermão do Monte trouxe uma espécie de idílio de caridade. Outras obras como Crer é também pensar(um despertar ao bom senso); A Cruz de Cristo (de um denso conteúdo teológico); Eu creio na Pregação (um livro para fazer queimar o coração); Cristianismo Básico (de um idealismo cristão impressionante e desafiante); Ouça o Espírito, Ouça o Mundo (uma reflexão sobre os pressupostos básicos da fé cristã à frente de um mundo que perdeu o referenciais de "verdade", segundo o autor); e outros foram livros que exerceram uma forte influência em mim.

Eu sabia que ler Stott era ser remetido a uma perspectiva de coerência e objetividade. Foi isso que me atraiu ao seu estilo. Dos vários teólogos que já li, Sott era um daqueles que sabia ser convincente pela didática que utilizava. Seu estilo não era afetado. Unia objetividade, clareza e erudição. Achava curioso como ele conseguia escrever com tanto balisamento e tanta profundidade de uma forma completamente simples. Até hoje quando estou lendo, resumindo ou desenvolvendo ideias, procuro estruturar os meus argumentos com aquele senso didático tão peculiar ao teólogo inglês.

John Stott lia e estuda muito. Para saber o que sabia e conhecer o que conhecia, era necessário que tivesse uma vida repleta do exercício intelectual. Certa vez li em um dos seus livros (A Verdade do Evangelho?) que o teólogo lia mais de 50 livros por ano. Aquilo ficou em minha memória. Passou a ser um desafio. Como alguém como ele, com tantos compromissos conseguia ler e eu não conseguia? Desde então, todas as vezes que vou ler algum livro lembro dessa matémática de Stott. Buscamos aprender para sermos simplíces, humildes e objetivos como John Stott.

Descanse em paz, professor!

domingo, julho 24, 2011

Afirmar a vida - sempre!

Estou lendo um livro que tem me surpreendido desde a primeira página pelo nível de abrangência - Heidegger - um mestre da Alemanha entre o bem e o mal, de Rüdiger Safranki. Dizem os entendidos que este é um dos grandes livros que já foram escritos sobre o filósofo alemão. No capítulo 3 (A intuição leva ao coração do mundo), Safranki constrói um belo cenário sobre a "filosofia da vida" que se impunha desde Nietszche e que encontra em Bergson e Dilthey ressonâncias respeitáveis. A filosofia de afirmação da vida não foi abraçada por Heidegger desde a sua juventude. No início, o jovem estudante simpatizara com os escolásticos por mera convenção ao momento em que vivia. Husserl o libertou do "sono dogmático". O realismo filósofico era um desafio àqueles que buscavam extrair do ser as paisagens que chamam à vida. Achei sensacional a citação que Safranki faz de Scheler. Transcrevo um dos parágrafos da página 84:

"Com Heidegger ainda não se sente nada daquela sensação de irrupção que Max Scheler expressa em sua Tentativa de uma Filosofia da Vida[Max Scheler] escrita naquela época. Uma 'transformação da concepção do mundo', escreve Scheler, ocorre diante de nosso olhos: 'Ela será como o primeiro passo de alguém que anos a fio esteve numa prisão escura, para um jardim florido. E essa prisão será o nosso ambiente humano com sua civilização, cercado pela razão meramente mecânica e mecanizável. E aquele jardim há de ser o mundo colorido de Deus, que nós - mesmo que ainda longe - vemos abrir-se para nós e nos saudar, luminoso. E aquele prisioneiro será o homem europeu de hoje e ontem, que caminha gemendo e suspirando sob a carga de seus próprios mecanismos, e que, tendo na visão só a terra e peso no corpo, equeceu o seu Deus e o seu mundo".

P. S. Acima de tudo poética esta descrição de Max Scheler.

Goiânia - GO.

terça-feira, julho 19, 2011

Ágora – mais um belo filme espanhol

Os espanhóis voltaram a fazer um bom filme - Ágora – do diretor Alejandro Amenábar, tendo como protagonista a bela Rachel Weisz que faz o papel de Hypatias, filósofa neoplatônica do primeiro século depois de Cristo. A ágora para os gregos era o local onde a vida pública propriamente dita acontecia. Nesse sentido, o filme possui uma fotografia incrível. As descrições históricas impressionam. Retrata com fidelidade os fatos atinentes à vida e ao contexto político e social da época em que viveu a bela pensadora.

Os séculos IV e V d.C. foram extraordinariamente conturbados. Uma crença tomava de conta de todos os setores da vida social. O radicalismo da fé chegava a paroxismos nunca vistos. Os cristãos que haviam sido perseguidos, transformados em mártires, reverteram o quadro histórico e conseguiram fazer com que o Estado Romano tolerasse a sua fé. O imperador Teodósio (347-395 d.C) havia se convertido ao cristianismo. A fé que não a cristã não era aceita por aqueles que se diziam discípulos de Jesus Cristo. O culto aos deuses greco-romanos passou ser intolerado. Houve assim a institucionalização do radicalismo.

É nesse contexto tumultuado que vive Hypatias, filha do filósofo Theon, em Alexandria. É professora arguta. Segundo os historiadores, sucedeu o eminente filósofo Plotino, conhecido pelo seu neoplatonismo. É uma jovem sábia, de inteligência inquieta. Quando inquirida certa vez por qual motivo ainda não havia casado, respondeu peremptoriamente: “Estou casada com a verdade da filosofia”. Alexandria ficou mais conhecida na Antiguidade pela bela biblioteca que a cidade abrigava. Para outros, tal biblioteca nunca existiu. Seus aspectos faraônicos, dessa forma, não passam de uma lenda. Mas o fato é que existia em Alexandria uma tradição pelos livros – papiros. Inúmeros papiros são a companhia benquista da jovem pensadora.

Mas aos poucos, os cristãos entram em conflito com os não-cristãos. Os cristãos vão se estabelecendo. Arrostando. Subjugando pela força da espada. A figura de Cirilo de Alexandria, discípulo do bispo Teófilo, é fundamental. Cirilo exala intransigência. Ele é conhecido por fazer triunfar o cabedal temporal da Igreja sobre o espiritual. Se a Igreja Católica é essa potestade histórica, certamente Cirilo contribuiu para isso. Segundo Cirilo, fora da Igreja, a Grande Mãe, não havia salvação. Tal entendimento prevaleceu na história, fazendo da Santa Sé, em dados momentos, um “monstro manco”, capaz de estabelecer, pela sua posição, relações espúrias com o mundo e aquinhoar os homens com castigos e medos infundados. Mais tarde Cirilo foi transformado em doutor da Igreja.

A intemperança e o domínio da força fez com que os cristãos subjugassem Alexandria. Orestes, o prefeito da cidade, amigo da filósofa, acaba sendo vergado à vontade de Cirilo. Trata-se de um belo símbolo – ou seja, da Igreja dobrando o Estado, submetendo o mundo á sua vontade caprichosa. Hypatias fica sozinha. É acusada de ateísmo. Chamam-na de bruxa. Prostituta. Acusam-na com os motivos mais vis. A filósofa mostra-se até fim com total integridade. Não há dolo em suas ações. Age com virtude e com a intuição da verdade. Ama o saber – e ama-o até o fim. Conforme o filme, após ter dispensado a escolta de soldados romanos é apanhada por cristãos enquanto caminhava pela rua, como uma pessoa comum. Segundo a História, foi conduzida para o interior de um templo cristão e lá foi morta a pedradas. Seu corpo, logo em seguida, foi estilhaçado com cacos de conchas do mar. Fizeram-na em pedaços. Hypatias foi morta pela intolerância.

O filme Ágora deixa-nos a lição de que a irracionalidade pode subjulgar o bom senso. E, uma vez que isso ocorra, as conseqüências são danosas. Hypatias percebia incoerências no sistema ptolomaico. Ela percebeu que o sol era o centro do universo, sendo assim uma das primeiras cientistas da história a observar esse fato. Somente depois de 1200 anos é que se Nicolau Copérnico voltaria a estudar esse evento.

O sistema ptolomaico servia aos interesses da Igreja. Colocava a terra e os homens numa posição de dignidade. Permitia que ilações acerca das intenções de Deus fossem estabelecidas. Foi por causa do sistema ptolomaico que o Mundo Ocidental deixou a luminosidade da Antiguidade Clássica, com possibilidades e intenções científicas, e mergulhou numa noite de mil anos. É preciso assinalar que a Idade Média teve sua beleza, mas foi um tempo no qual a escuridão foi forjada, a ignorância alimentada e teve como resultado o atrofiamento da razão.

Ágora
retrata esse fato com tomadas áreas. Aos poucos a imagem se distancia do ponto geográfico – Alexandria – até que tenhamos o Planeta Terra. Sua dimensão. Grandiosidade. E o silêncio do Universo. Os homens são movidos, direcionados, por impulsos de credulidade, mas há apenas o silêncio dos espaços infinitos. A imagem se coaduna com a agonia existencial de Pascal: “Esses espaços infinitos me apavoram”. A grandiosidade do homem na terra é apenas aparente. A dignidade do sistema ptolomaico conferia apenas uma casca de orgulho premeditado. A terra era/é apenas mais um astro sem luz própria, girando em torno de uma estrela de quinta grandeza, numa costela afastada de uma galáxia. Só existem verdades para os homens. Recordo-me de alguns belos versos de Alberto Caieiro:

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?


"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.


O papel da religião deve
ser outro. Não abafar a voz da ciência. Deve, por sua vez, debater e apregoar virtudes. E não oferecer óbices à razão. Afinal, se Deus é o criador dos cosmos e deu inteligência ao homem, a criatura capaz de ter consciência de que está consciente, este deve utilizar a consciência de si para se situar no mundo. Quando a religião obstacula essa possibilidade, surgem os radicalismos, as fogueiras da inquisição, as trevas e o conseqüente assalto à capacidade humana.

O filme deixa transparecer, de maneira metafórica, que a morte de Hypatias, a filósofa independente, não vendida aos caprichos da Igreja, é o própria sepultamento da razão cientifica e da liberdade do pensar filosófico. Ou seja, a religião matou a razão e a consequência foi mil anos de uma escuridão úmida e pegajosa. A luz do inquirimento viria a brilhar novamente com o Renascimento.

Data: 13 e 16/11/2010, sábado e terça-feira

sexta-feira, julho 15, 2011

A festa de Babette e a poética da alegria

Ontem à noite eu tive uma experiência curiosa. Vi ao filme A festa de Babette. Trata-se de um filme dinamarquês do final da década de oitenta. Era um projeto antigo, mas que somente ontem eu consegui realizá-lo. Resultado: a experiência foi melhor do que toda expectativa que alimentei durante esse tempo. É como naquela frase de O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry: "Quando você diz que vem às 4 da tarde, eu começo a me alegrar desde às 3" - estou citando a frase de cabeça.

O filme é uma experiência estética prazerosa. Sua mensagem é uma metáfora cristã. Mas nem por isso impede que aqueles que são alheios à fé cristã não possam se alegrar com ele. O livro de Apocalipse diz que um dia o Cordeiro, Cristo, sentar-se-á com todos os povos em torno de uma mesa. Todos serão convidados para aquilo que a Bíblia chama de "As Bodas do Cordeiro". Diante da mesa as diferenças serão suplantadas. Todos os povos, etnias e nações falarão a mesma língua. Talvez isso queira significar o elemento de igualdade, como sacramento da fé. Afinal, a religião em grande parte é um sonho da mente humana. Uma semente de esperança que é lançada no chão da história. Viver num mundo de desigualdades e injustiças levou os homens a formularem esquemas espirituais, sonhos ideais num outro mundo.

A festa de Babette celebra a possibilidade da igualdade em torno da mesa. Num pequeno vilarejo, em pleno século XIX, as fofocas, intrigas e desentendimentos grassam por todos os lados. Mas, em determinado dia, Babette a cozinheira que possui poderes mágicos, a artista que é talentosa consegue criar beleza. Sua imaginação é cheia de sabores. Esses sabores antes de serem transportados para os pratos que são preparados, já existem em sua mente. Babette é uma alquimista que metamorfoseia possibilidades com o espelho de sua consciência. Edifica pratos que são obras de arte. Todos estão à mesa. Sentados. Todos os convivas já são avançados em idade. Calejados pela vida. Envergados pelo peso da prostração física. Mas os sentidos, portais que nos fazem ver, experimentar, sentir o mundo, ainda estão vivos. E é por essa via dimensional que Babette inocula o sabor da poesia. Começam a comer e os seus semblantes vão sendo iluminados. Os olhares vão sendo transformados. Vinhos, iguarias; a estética dos pratos são um convite ao prazer. De repente, aquilo que a religião já não era capaz de fazer é feito pelo sabor da culinária.

Ao final, uma cena belíssima enche os olhos. Os velhinhos dão as mãos em dançam uma ciranda como se fossem crianças. Celebram na noite escura, de céu estrelado os efeitos do prazer. Num dos últimos diálogos do filme, Babette diz: "Um artista jamais será pobre". Ela entregara os seus dez mil francos para preparar o jantar. Fora rica, mas decidiu ficar pobre pelo simples prazer da poética da cozinha que pode despertar gestos adormecidos. Assim, como na mensagem cristã, que diz que Cristo entregou tudo o que possuía para que todos fossem enriquecidos e experimentassem a graça (eis aí outra similitude), a alegria de Babette é costurar acertos, transformar sorrisos, nutrir de esperança e gratidão o coração dos homens.

Abaixo segue um pequeno trecho de uma crônica escrita por Rubem Alves para o Correio Popular de Canpinas. Chama-se A festa de Babette:

(...) Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..."

Por Carlos Antônio M. R. Albuquerque

quarta-feira, julho 13, 2011

Rock, uma força que nos faz deitar e rolar - 13 de julho, dia internacional do rock n' roll

Eram os idos de 1992. Meu pai me presenteou com uma fita K-7. Achara o produto em um ônibus. Ouviu mas não gostou. Eu era um garoto de apenas doze anos. Havia uma efervescência no mundo. O rock estava em alta. Havia bandas por todos os lados - Nirvana, Pearl Jam, Metallica, Soundgarden; outras antigas haviam passado por uma revitalização. Era o caso dos Rolling Stones ou o Ramones, que gravaram álbuns consideráveis naquele ano. O Iron Maiden havia gravado uma série de discos. O Rock n' Rio fazia edições cada vez mais suculentas. Trazia as bandas de Seatle; investia em novidades. O Titãs, aqui no Brasil, estava cada vez mais grunge. Outras bandas se destacavam pelo mundo a fora - Red Hot, Faith no More, Alice in Chains etc. Quem lembra de um tal de EMF? Se não lembra, vá ao Youtube e digite You're Unbelievable. Essa música tem a cara dos anos 90.

Na fita a qual o meu pai me presenteou, havia um material do primeiro álbum do Guns n' Roses, Appetite for Destruction, banda que hoje me enfastia. Aquilo me fulminou. Acertou-me de cheio. Fiquei embasbacado com aquele som. Músicas rápidas e de vocal rasgado forjavam cenários de impressões radicais e de puro senso de liberdade. O rock possui em sua essência um ímpeto libertário. É uma música que aguça os sentidos. O lado mais primitivo da psiquê humana. Acompanhei durante muito tempo cena rock internacional. Até hoje não consegui me desvencilhar do contágio. Bandas como Beatles, AC/DC, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Rush, Queen, entre outras, ainda falam muito a mim. Surgido no sul dos Estados Unidos, o rock é mais do que um estilo musical, é o manifesto de uma geração. Na década de 60, o Woodstock constituiu uma arma contra a força hegemônica do capitalismo. O protesto consistia em fazer música e amor e não guerra.

Quem gosta de rock certamente já ouviu um ditado: "O rock é imortal. Jamais morrerá". Esta é uma afirmação até certo ponto instigante. O rock já completou 70 décadas. E a cada novo ano se reinventa. Do surfing music ao heavy metal; do punk ao hard rock; do progressivo ao neometal; do doom metal ao trash metal. O rock possui um poder de auto-mutação. O som muda as atitudes daqueles que o escutam. Quem nunca viu um adolescente vestido de negro, com maquiagens aberrantes? Qual foi a força que o impulsionou a vestir-se daquela forma? O som e a rebeldia domesticam.

O rock possui um forte apelo sexual. Sua música é envolvente. As perfomances dos músicos revelam aquilo que foi denominado por Freud de id, ou seja, o lado do desejo, das ânsias, da irracionalidade, dos instintos. Nietzsche chamaria isso de música dionísiaca? O fato é que o rock tem sido e será por muito tempo, uma força rompente. Uma energia vibrante que faz tremer.

Abaixo segue uma apresentação de Chuck Berry no ano de 1958. É curioso como o músico negro, o rock tem a sua origem no sul dos Estados Unidos, é aceito pela platéia de brancos. Numa época de intolerância racial, um negro toca para os brancos. A desenvoltura de Berry impressiona. É a energia vinda do rock. O instrumento que ele toca parece ser uma extensão do corpo. Seus trejeitos sugerem uma força sexual. Sua habilidade é a de um amante, um galanteador inveterado.


sexta-feira, julho 08, 2011

Os Imperdoáveis - mais que imperdoável

Após assisitir a Os Imperdóaveis, ganhador do Oscar de melhor filme de 1992, pela segunda vez fiquei com uma sensação de extravagância. Não no sentido negativo. O filme inteiro é um blues, daqueles bem dramáticos, repletos de sentimento. O vídeo abaixo mostra uma das últimas cenas da obra. Clint Eastwood (diretor e personagem principal da película) é um pistoleiro aposentado. Seu passado é nebuloso, rico em excessos e crueldades. Aposenta-se da pistolagem por causa de uma mulher que o redime. Vive num rancho decadente com dois filhos, numa condição de penúria. A mulher morrera. Mas é balançado pela proposta de mil dólares. Um jovem ("Kid", personagem cômico e fanfarrão) o convoca para a empreitada: matar dois sujeitos que retalharam uma prostituta. William Munny, como é chamado Clint no filme, ainda chama seu amigo Ned, papel feito por Morgan Freeman. O filme é repleto de silêncios e planícies extasiantes. O vento do oeste sopra. As feições de Clint Eastwood de homem cruel são geniais.

Mas o amigo de William Munny é morto de forma implacável. Munny que há muito não bebia, decidiu beber. E aí temos a cena abaixo que é um retrato épico de um excelente western. Clint Eastwodd está impecável no papel de William Munny. Sua abordagem mítica sobre a alma do oeste merece todos os adjetivos possíveis. O diálogo mais extraordinário da cena é quando Munny enuncia para os sujeitos amofinados dentro do bar: "Quem não quiser morrer, saia pela porta dos fundos". Como disse acima, alguém deveria fazer um blues sobre isso.


quinta-feira, julho 07, 2011

A alquimia do desafio

É preciso ser honesto consigo mesmo para admitir determinado evento. A crítica pela crítica fere o bom senso. Nivela e absolutiza. Tomei uma decisão diferente. Aceitei o desafio por entender que agindo dessa forma, estaria em paz com a minha razão. Vamos às explicações:

No dia de otem aceitei a decisão de ler Paulo Coelho. Retrocedi na cadeia evolutiva como devorador de literatura? Não. Trata-se apenas de um dever para comigo mesmo. De um acerto de contas com a minha consciência. A maioria das pessoas que criticam Paulo Coelho, nunca leram nenhuma das suas obras. É uma crítica auricular, baseada em boatos.

Recordo-me neste instante do pesonagem bíblico Jó. Segundo os poemas sagrados, Jó diz, numa conclusão silogística, após ter encontrado o Eterno: "Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem". Claro, Paulo Coelho não é nenhum deus. Mas não deixo de pensar nisso. Conhecer só de ouvir falar é um contrasenso. Gera apenas argumentos fracos, incosistentes.

Não defendo Paulo Coelho, sujeito que não inspira maiores expectativas. Quero lê-lo para não voltar a lê-lo. É o que aconteceu comigo, por exemplo, com relação a Augusto Cury. Observava comentários e críticas a respeito desse psicólogo da auto-ajuda e, após lê-lo, achei-o demasiado artificial. Nunca mais voltei a visitar os seus livros aguados.

Esperemos. Após ler "O Alquimista" determinarei a minha opinião sobre o senhor Coelho.

P.S. Encontro uma informação nas costas do livro, mas ignoro a priori: "Comparado [O Alquimista] a 'O Pequeno Príncipe' de Saint-Exupéry e a 'Fernão Capelo Gaivota', de Richard Bach". Não ignorarei o informe a posteriori. Tecerei a minha opinião definitiva após a leitura. Voltarei a escrever.