Lula é um desafio à inteligência das elites nacionais e de setores hidrofóbicos, atrasados e analfabetos da classe média. O nordestino pobre, retirante, símbolo de um Brasil infatigável, referência para milhões de brasileiros continua a instilar ódio nos olhos com lentes de contato do andar de cima - e daqueles que não têm lentes, mas que acham os seus olhos mais bonitos do que os dos outros. Certamente, o ex-operário e sindicalista ainda faz tremer muita gente que, pode não gostar dele, mas que o respeita pela força de identificação popular que ele possui.
Estava assistindo ao vídeo que mostra a sua chegada à cidade de Monteiro, no interior da Paraíba, junto com a presidenta eleita em 2014, Dilma Rousseff - defenestrada por um golpe parlamentar em 2016 - para inaugurar o projeto de Transposição do Rio São Francisco na quela cidade. Fiquei impressionado com o calor da recepção do povo paraibano. Na verdade, a qualquer lugar que Lula fosse, no interior do país, ele seria abraçado e aplaudido por um simples motivo: Lula tem o cheiro do povo; possui uma linguagem que alcança o coração dos homens e mulheres trabalhadores deste enorme e conturbado país. Lula consegue abraçar, beijar, apertar a mão; falar da passagem de ônibus, da conta de luz, do arroz, da carne, do feijão nosso de cada dia.
Impossível ouvi-lo falar sem que haja uma necessária vinculação entre aquilo que é falado e aquilo que é vivido pelos interlocutores. É, por isso, que Lula tem plateia. Não se trata de ignorância por parte da grande massa. É gesto de identificação com a sua linguagem transparente, clara e objetiva como a linguagem do povo, linguagem esta sem os afetamentos arcaicos da mesóclises desnecessárias ou da ortoépia gestada por presunção.
Poucos políticos na história do Brasil possuem uma capilaridade social tão funda quanto Lula. A sua força emana justamente de algo que os chamados "políticos profissionais" não possuem: o carisma. Tem carisma ou é carismático aquele sujeito que é capaz de fazer resplandecer uma energia que contamina, que torna a sua fala, as suas ações, a sua personalidade em algo atraente. Conviver com ele, está ao seu lado torna-se algo importante, confortador e necessário.
A Folha de São Paulo, um dos jornais mais conservadores desse país - e lido por setores inteiros da classe média - no dia de hoje, fez uma reportagem com leve e subliminar ironia sobre o ato na Paraíba. Quando noticiam o nome de Lula, associam semioticamente o seu nome sempre a processo ou corrupção com finalidades discursivas evidentes. Existe uma caçada sistemática a Lula. Desde que ele entrou para a vida pública - isso ainda nos anos 70. Sempre forjaram epítetos; falas preconceituosas; ou meras destilações de lugares-comuns tão próprios do sujeito que toma a sua ração diária de veneno fornecida pela mídia hegemônica, pertencente aos grandes grupos associados ao capital. São oligarquias atrasadas, que trabalham diuturnamente para transformar o país em um lugar pouco confortável para os trabalhadores, pois os interesses que eles reivindicam é o da rapinagem imediata das riquezas nacionais.
Vendo o vídeo, fiquei admirado. Quanto mais a mídia bate, tenta abalar a sua reputação, mas o povo o aplaude. E aí fiquei pensando: "Sr. "juizinho" Sérgio Moro, as elites brasileiras e os setores iludidos da classe média, desejam que Lula seja preso incontinente, pois senão ele leva a eleição de 2018". E não sou eu quem diz: é o povo!