domingo, março 12, 2017

"Renoir" (2012), de Gilles Bourdos

O filme Renoir (2012), de Gilles Bourdos, é uma obra para sentir prazer. Ele desperta uma admiração profunda pela pintura do impressionista francês Auguste Renoir. Trata-se de um filme feito para proporcionar felicidade e bem-estar. 

O filme não tem como tema central a vida do pintor. O grande artista fica secundado pela história do seu filho Jean Renoir, que voltaria dos combates da Primeira Guerra Mundial, ferido, para reabilitar-se em casa. Quando desse retorno, Jean, que é tido como um dos maiores diretores da história do cinema ( autor de filmes como A regra do jogo - 1939), envolve-se amorosamente com uma das musas que posam para os quadros de Renoir-pai. 

Ou seja, o filme busca retratar esse envolvimento sentimental do jovem Jean com a belíssima Andrée Heuschiling, que se tornaria esposa de Jean na vida real. A obra possui fortes preocupações metalinguísticas, pois a fotografia procura seguir, esteticamente, as características da pintura de Auguste Renoir. As paisagens buscam retratar sempre a tranquilidade, a suavidade, os tons claros e harmônicos. 

Banhista penteando-se (1893). Uma grande obsessão - pintar banhistas
Mostra ainda a paixão do pintor pela arte. O agravamento dos problemas de saúde, impõe grandes suplícios ao grande artista. Renoir sofria com artrite e reumatismo. Na sua paixão por pintar, ele amarrava os pincéis aos dedos com tiras de pano. 

O que conta mesmo no filme é a preocupação de Renoir em pintar o nu feminino. O autor de As grandes banhistas, um dos quadros mais famosos dos impressionistas, possuía um olhar privilegiado. Ele conseguia ajustar as cores da natureza, a essência daquilo que existe de mais suave e belo e harmonizá-las com o corpo feminino. Curiosa é a fala de Renoir-pai ao filho Jean: "Não gosto de usar tons escuros. A vida já oferece demais isso. Deixo que outros se encarreguem disso". 
Nu feminino à luz do sol (1875)
Curiosamente, quanto mais o artista era acossado pela dor, mais ele sentia um ímpeto por pintar o nu feminino. Suas telas se iluminavam com cores como o açafrão, o laranja, o azul, o vermelho. Assim, Renoir busca fundir o ser humano à natureza. Sua busca insaciável é colocar o ser humano no mesmo lugar, exposto à mesma luz, a oferecer uma imagem de funda unidade. O pintor buscava criar uma ideia de totalidade, onde tudo é belo, é suave, é necessário, é feliz. Para Renoir a pureza da arte deve se mesclar àquilo que existe de mais puro na vida e na natureza. 

Assistir a Renoir é um verdadeiro deleite - a começar pela beleza da atriz Christa Theret, principalmente quando ela fica a nua. Seu corpo parece ser uma extensão da ideia de perfeição criada por Renoir. O enredo talvez não seja tão grande como a obra do pintor impressionista, mas o fato de evocá-la o torna necessário. 

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