quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Sou assim...

Dizer que sou assim e assim é arriscado.
Estaria vendendo a você apenas uma porção
Limitada de mim mesmo – ou uma versão falsa.
Sou mais que as palavras.
Sou mais que teus conceitos.
Sou mais que as definições e as tendências
Dos arrimos do decoro.
Sou mais que as habilidades e pretensos carismas.
Quer saber quem eu sou?
Descubra-me todos os dias.
Faço-me a cada manhã e a tarde já não sou
O mesmo; meto-me na escuridão quando
A noite chega.
Dentro de mim flui o tempo, esse mistério
Imaterial que acrescenta dores, emoções,
Saudades, irritações, conclusões, que faz
Maturar os pedaços de opiniões que vou
Cozinhando no engenho do meu espírito.
As palavras são muito poucas para me definir,
Para definir você também, pois o modo como me vejo
Difere de como você me vê.
Encontrei em Jorge Luís Borges, o fantástico escritor
Argentino algumas palavras indicativas daquilo que sou,
Daquilo que nós somos no poema “Heráclito”
do livro Elogio da Sombra.
Não poderia deixar de citar aturdidamente tais palavras,
Eivado pelo intransigente mistério dos processos universas que me habita,
Que nos habita, que nos promove, que nos demove.
Fala, Borges:
“Que trama é esta
do será, do é e do foi?
Que rio é este
pelo qual flui o Ganges?
Que rio é este cuja fonte é inconcebível?
Que rio é este
que arrasta mitologias e espadas?
É inútil que durma.
Corre no sonho, no deserto, num porão.
O rio me arrebata e sou esse rio.
De matéria perecível fui feito, de misterioso tempo.
Talvez o manancial esteja em mim.
Talvez de minha sombra,
fatais e ilusórios, surjam os dias”.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: segunda-feira, 21 de julho de 2008, 19:22:39.

sábado, fevereiro 13, 2010

Qual a essência do Carnaval?

No Brasil, a primeira coisa que vem à mente quando se fala em carnaval são os desfiles das escolas de samba. Em algumas regiões do país, são os trios-elétricos ou o frevo. Mas seria o carnaval uma festa brasileira? Quantas pessoas não estranham quando ouvem falar do carnaval de outros países? Mas essa festa existe há muitos anos, em muitas partes do mundo e com significados diferentes.Como todos os festejos que comemoramos durante o ano, o Natal é um exemplo, o carnaval tem origem pagã, mas a Igreja o instituiu no seu calendário como uma festa cristã. Moderada, claro. Era chamada de “carnem levare”, a despedida da carne, já que a partir da quarta-feira de cinzas deve-se, segundo os preceitos religiosos, fazer jejum e penitências, período chamado de Quaresma e que antecede a Páscoa (outra festa não cristã que foi “sequestrada” pela Igreja). Antes, porém, os festejos eram realizados para comemorar a proximidade da chegada da primavera no hemisfério norte e cultuar diferentes deuses, dependendo da cultura. Na Grécia antiga, o deus cultuado era Dionísio. Dionísio era o deus do vinho, dos festejos e da fertilidade. Daí a relacioná-lo com o carnaval é um passo. Afinal, nessa festa as pessoas bebem muito, se divertem e, claro, se deixam levar pelos prazeres da carne, resultando, muitas vezes, em gravidez indesejada. Costuma-se dizer que no Brasil o mês de novembro é o que computa o maior número de nascimentos. Na mitologia romana, Dionísio é relacionado a Baco, e as festas em sua honra eram chamadas de bacanais. Preciso entrar em maiores detalhes? Quando a festa partiu para esse lado, o carnaval passou a ser condenado pelos religiosos. Com o passar dos anos, a festa foi agregando novos significados e novas formas de comemoração. Em Veneza, por exemplo, um dos carnavais mais conhecidos no mundo, surgiu quando a nobreza começou a usar máscaras para se misturar ao povo e se divertir. O carnaval, portanto, não é uma festa genuinamente nossa e não pode ser considerada como representativa do povo brasileiro, até porque muitos preferem realizar outras atividades nesse período. É uma festa importada (assim como está acontecendo com o Dia das Bruxas, muito criticado por ser uma festa americana) e adaptada ao nosso jeito. A diversão seria a palavra que mais tem a ver com o carnaval. É uma festa popular e, como em toda a festa, o que se quer não é esquecer um pouco os problemas, cair na folia, ter liberdade para extravasar? Como escreveu o filósofo Nietzsche, contrário à moral religiosa que sufoca nossos instintos, devemos deixar aflorar o lado dionisíaco que temos, pois “felicidade é sinônimo de instinto”. Então pode ser qualquer tipo de música, não só o samba, marchinha, axé ou frevo. Até o rock serve. Pois justamente os desfiles de escola de samba, da maneira como estão sendo realizados atualmente, perderam muito dessa essência que é a diversão. A disputa por títulos é a grande culpada por isso (como no futebol, em que uma taça vale mais do que um jogo bonito). As escolas, ao seguir à risca o cumprimento de quesitos para obter boas notas, engessaram suas apresentações. E carnaval com regras, sem liberdade, não é carnaval.

Por Cassionei Niches Petry

Extraído DAQUI.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Metafísica abolida – materialismo radicado.

Se algum homem de uma civilização

Passada viesse a nos visitar ficaria assustado.

Constataria que geramos os mais

Estranhos e bizarros empreendimentos.

Criamos um estilo de vida de

Ebriedades e vícios fetichistas.

A divindade constituída é a matéria.

Esta deidade impele, molda os desejos.

Os homens nunca se saciam.

Os encantos constituídos criaram

Uma dependência e muitas necessidades.

Tem-se uma síndrome fáustica.

A inocência foi perdida.

Todos os regalos, todas as orgias,

Lubricidade e sofreguidões

Não saciam as intenções individuais.

Afastados um dos outros,

Somos galáxias solitárias.

Desaprendemos a falar.

O ouvir já não é mais uma virtude.

Quando se caminha pelas largas avenidas

De pedra, nota-se a opacidade de cadáveres vazios.

Conectados à grande teia.

Um nó nos amarra.

Um universo frio, programado,

Feito por processamento media as nossas relações.

O frio leitoso, imparcial.

Temos um novo tipo de sacerdote.

Uma esquizofrenia se apoderou de cada um de nós.

O que somos?

Em que nos tornamos?

A esfinge perguntaria ao homem de hoje:

“Qual é o ser que jamais se sente saciado,

Mesmo estando farto com todos os manjares do mundo?”

Tal pergunta seria muito óbvia.

A nossa gula é a doença que nos molesta.

Criamos fórmulas para a felicidade.

Ela é manipulável, desde que condicionada

A determinados parâmetros.

Vive-se uma tirania da felicidade.

E esta tornou-se cada dia mais rara.

Muitos não conseguem desembaralhar a fórmula

E acabam padecendo.

Esse viajor pensaria está entre habitantes de outro mundo.

A velocidade de nossas avenidas é uma

Metáfora de como conduzimos a própria vida.

Se o homem voltasse ao passado, escreveria em tábuas,

Em letras garrafais sobre tal endemia.

Enunciar-se-ia uma profecia para advertir os homens.

Esta permitiria criar novos rumos, novas rotas,

Uma nova vida, uma nova História.


Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

Data: 17 de outubro de 2008.