sexta-feira, setembro 28, 2007

O silêncio do tempo

Esperamos pela alegria e nos surge o silêncio.
Ele brota sem pedir licença.
Os olhos lânguidos do meu amor que perguntam:
“Onde está você?”.
Nascemos, vivemos, morremos e todos esses
Dias são silêncios.
São divagações constantes.
O relógio do tempo que escorre pela memória.
A fantasia medonha que desenha curvas informes.
O pano rasgado, apenas.
As marquises abjetas com o seu limo curtido.
E os olhos do meu amor que me perguntam:
“Onde você foi?”
O silêncio que surge em forma de tristeza, de verso.
As constatações apenas de um dia sem história.
A vida que corre.
O ontem que foi.
Apenas o meu silêncio diante do mundo.
A marcha frenética por esses campos sem horizontes.
Os olhos do meu amor que me perguntam:
“Quem é você?”
Curvo a cabeça em sinal de desesperança.
As perguntas não respondidas, apenas.
O silêncio se consuma.
Apenas o silêncio nesse deserto profundo.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

terça-feira, setembro 25, 2007

Uma realidade Histórica e os rumos da educação no Brasil

Este texto é parte de um exercício que fiz para uma disciplina do curso de Letras que faço. Por isso há dois momentos num texto: (1) há uma explanação histórica sobre a desafasagem histórica da educação; (2) um breve comentário sobre o enigma da língua portuguesa ensinada na escola e vivenciada no cotidiano.

É inegável que nos últimos anos a educação brasileira tenha adquirido um importante papel na construção, idealização e projeto de uma sociedade mais justa e desenvolvida sob vários aspectos. Falar em educação sempre pareceu um chavão já desgastado. É uma preocupação sempre presente. Num certo sentido, levantam-se uma série de perspectivas ora otimistas, ora alarmistas. Vários debates têm se dado nesse sentido e um contundente esforço do Estado a fim de dirimir o abismo histórico nos quais o país está posto.
Segundo reportagem da Folha de São Paulo do dia 13/10/2003, por exemplo, menos de 10% dos professores da área rural, que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental, têm formação superior. Nesta mesma reportagem é apontado o nível de defasagem salarial dos quais os professores são vitímas. Geralmente, um professor que atua no nível médio, “em média, ganha quase a metade da remuneração de um policial civil e um quarto do que ganha um delegado de polícia”.
Analisando sob um ponto de vista histórico, o Brasil herdou uma cultura dos tempos mais idos – colonização – de ser um país que negligencia a educação. Isso é uma realidade tão marcante no histórico nacional, que a título de curiosidade, enquanto os países vizinhos inauguraram um projeto de assentamento da educação logo no início de suas histórias, o Brasil o fez tardiamente. Por exemplo, enquanto o Peru teve a sua primeira Universidade construída no século XVI e XVII, o Brasil o fez somente na década de 30 do século XX, na fase desenvolvimentista do Governo Getúlio Vargas. Esse atraso tem por conseqüência a sobreposição.
É por conta de um histórico robustamente feito de descasos, que o país ainda abriga em sua trajetória um percurso de atrasos e dívidas para com a educação. Se o Estado não possui um projeto efetivo consistente, arrojado a fim de aniquilar com essa defasagem histórica, os resultados disso reflete diretamente sobre o fazer educativo da escola. Um projeto que democratize a escola e educação algo acessível a todos não é feito, nem realizado do dia para noite. É necessário antes de tudo de uma ação efetiva a fim de mudar a mentalidade dos quadros dirigentes do país; da criação de uma mentalidade capaz de banir com as mediocridades que se grudaram às ações de todos aqueles que estão envolvidos direta ou indiretamente com a vida política do país e com investimentos financeiros. Afinal, no dizer de Paulo Freire: “A educação é antes de tudo um ato político”. De um plano de metas não especulativo, mas que possua em sua essência uma disciplina erradicadora e ao mesmo tempo eficaz; tais investimentos devem assistir às necessidades dos docentes; monitoramente físico das escolas (erradicação dos casebres ou locais inóspitos para os discentes). O ensino deve ser alvo não somente de professores competentes, mas também por locais adequados ao aprendizado.
Com relação ao ensino da Língua Portuguesa não deve se deixar de fazer menção o fato que o Brasil é um país que historicamente criou uma série de fantasmas em torno de sua própria língua. Vale mencionar que as crianças não são ensinadas a manterem uma relação harmônica com a língua. Todavia, à semelhança da esfinge, a língua ganha dotes enigmáticos que precisam ser interpretados. Cria-se dessa forma, um exército de avessos ao próprio idioma, que passa a ser visto como difícil e praticado somente por seres superiores.
Nem sentido, vale mencionar que para que a Língua Portuguesa seja ensinada no país, sejam vencidos os conceitos complexos, os mitos e fábulas que foram construído para descaracterizar e amedrontar o ser aprendente da língua. É necessário que mostre o encanto da língua como um fato, uma realidade eminentemente social. Ela não está a serviço de uma minoria tida por culta ou instruída. Ela é, na verdade, um veículo comunicante, que aproxima homens, que permite tirar o mundo humano dum caos de escuridade.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Zênite


No alto daquela colina,
Onde os pinheiros envergam-se
Para beijar o céu;
Onde a luz é como um facho
Ondulante a acariciar-lhes os desejos

Lá, naquela colina, onde o
Mistério prende-se ao vento;
Onde as formas são sempre belas.
Um raio do rei sol bruniu aquelas virações.

E eu a vejo como um monte
Mágico, onde a minha imaginação
Perfaz as curvas sinuosas numa leve inspiração.
Esvoacei como um pássaro cativo na pretendida liberdade.

Mirei para o céu e fui
Elevado às alturas, até me
Diluir num pensamento que se perdeu no infinito.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: Terça-feira, 2 de julho de 2002.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A busca por Deus

Decidi postar este texto neste espaço, motivado por este tema tão fantástico: a relação do homem medieval com a divindade. As artes na Idade Média tinham o caráter que buscava revelar o mistério de Deus. As grandes catedrais eram textos abertos a fim de que o fiel lesse os soberanos feitos do criador. Nelas, o homem medieval entrava e encontrava abrigo contra os perigos do mundo.

O forte sentimento religioso que alimentou o homem da Idade Média estava fundado numa perspectiva mais irracional do que racional. Esse comportamento representava a eficaz capacidade que a Igreja teve de se insinuar sobre as mentalidades. Desta forma, a mão da Igreja guiava os homens em busca dos sentimentos mais nobres que os aproximassem de Deus. O mundo possuía características feias, caricatas e estava manchado pelo pecado. Cabia aos homens se abandonarem na crença de que não havia nada de importante no mundo. Este era infecto, apodrecido.
Todas as produções artísticas deveriam reportar-se ao eterno, ao sublime. Deveriam estar ornadas pela luz celestial, pelo caráter imarcescível dos santos. Nesse sentido, a arte medieval destoa completamente da arte romana. A arte romana possuía um caráter profundamente realista em sua abordagem. Ela buscava retratar o homem e a natureza. São esses, por exemplo, os desenhos que se encontravam nas catacumbas cristãs do primeiro século. Assim, a natureza e os seus elementos eram entes presentes nas pinturas e descrições. Todavia, a Idade Média bane de suas retratações artísticas essas características. O ideal medieval de um mundo mal, habitado por imperfeições e nódoas de corrupções fez com que a arte estivesse esvaziada de retratações humanas e naturais.
O homem medieval fugir do mundo e de suas convenções, como fica bem explícito em trechos da conversa do frade com o senhor Ciappelletto, na Primeira Novela do Decamerão e Boccaccio. O cultivo das boas virtudes, das obras boas, de um senso moral em consonância com os mandamentos dos padres e da Igreja. Os mosteiros constituíram-se em verdadeiras fortificações contra todo mal satânico. Lá os homens santos estavam abrigados de todo mal desferido contra os homens comuns: o mundo infernalmente pecaminoso. As orações, as boas obras, as preces, a intercessão dos santos, as novenas, os esmagamentos dos desejos e a proteção da Igreja constituíam um arsenal poderoso contra as investidas do mal. Os cantos gregorianos eram verdadeiros hinos de guerra, criações espiritualmente viris capazes de banir o inimigo como espadas de ataque e como escudos de defesa. Em suma: quanto mais afastados fossem os mosteiros do contato com o mundo, mas promissores e virtuosos seriam os monges que nele se abrigavam.
Dessa forma, todos os pensamentos dos homens deveriam se elevar a Deus. A arte deveria traduzir os desejos de Deus. As produções artísticas deveriam traduzir a relação magestática do Deus cristão e aquilo que a sua celestialidade representava. A partir do século XI, com o florescimento nos requintes e gestos houve, por sua vez, uma maior sutileza nas diligências do espírito. A comunicação que essas inovações propiciaram passam a fazer parte da arquitetura nas Igrejas, que devem insinuar-se até os céus, centro da morada divina. As igrejas devem humilhar o crente que nela entra. Deve ser grande como grande é a proteção divina. Nela o fiel deve depositar a sua fé, a sua confiança e achar toda a segurança que a alma necessita. Dentro dela os homens comuns estarão protegidos dos assédios de satanás e do mal.
As construções arquitetônicas das igrejas deviam gerar estupefação e ser livro aberto para todo aquele que pudesse ler os feitos grandiosos de Deus. Ou seja, a construção era livro aberto de ensinamentos. Ela era ao mesmo tempo uma fuga do mundo e uma transposição da ordem cósmica. Uma nave no qual os homens poderiam nela se inserir e viajar para uma outra dimensão.
A obra de arte quer mostrar em tudo que os aspectos da maldade do mundo desfigurava a virtude. Era assim, por exemplo, a retratação dos santos de Deus que também acabaram sendo vitimados pelo mal, varados pelas injustiças de algozes do mal a serviço do reino das trevas. Todavia, esses santos são vassalos no melhor sentido da palavra de um senhor não falível, de um senhor que rebaixa e humilha os poderosos e exalta os sofredores e humildes, que vencem o mal e se apropriam das virtudes não materiais do bem. O livro do Apocalipse do apóstolo São João torna-se um livro amedrontador, mas que demonstra com fidedignidade o destino dos santos.
O homem deveria marchar do mundo para os locais santos, fugindo da dança nefasta e ludibriosa do mundo. Deveria purifica-se indo a Jerusalém e a São Tiago de Compostela. Os homens devem se ausentar das aparências mundanas e se abrigar na Igreja, que artisticamente, celebrava o senhorio divino, conclamando todos os homens a seguirem a virtude e se transporem do lado do mal para o lado do bem.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Artudimentos

Ando meio confuso.
Escuto muitas vozes.
Muitos caminhos a serem seguidos.
Não tenho nenhum.
Apenas penso que sou e busco não ser.
Questionam: “cadê a sua paixão?”
Afirmo: “Está aqui, dentro de mim”.
Não tenho essa certeza em meu silêncio.
O que mais desejo é compreensão.
O regaço amigo de minha companheira, para poder descansar.
Para onde seguir, quando não há caminhos?
Estarei sozinho nesse universo sem nome, sem fim.
Habitado por crenças.
Inundado de certezas balofas, arrogantes em suas explicações.
Sofre menos aqueles que não pensam.
“O muito pensar é enfado da carne”.
Ando enfadado.
Tenho muitas cores para enxergar.
Mundos para viajar.
Os meus pés estão plantados na terra.
Acima de mim a certeza ilusória.
Religião, o que é?
Prefiro me agarrar à existência.
Terei uma fé para viver e morrer por ela.
Todas as certezas são perversas, já dizia Nietzsche.
Mergulharei no escuro e pensarei sobre o meu desespero.
Prélude à l’aprés-midi d’um faune” – Debussy.
Sabor adocicado e reflexivo.
Os bosques mitológicos de minha mente são coloridos com
Os sabores suaves de uma tarde de sol.
Sinto-me mais inocente quando sinto a arte me invadindo.
Perdi o encantamento com o mundo.
O mundo é apenas vontade e representação.


Por Carlos Antônio M. Albuquerque