sábado, junho 28, 2008

Das verdades da vida

O riso é inútil
A esperança restou vã.
As horas de sonhos tornaram-se pesadelos.
A alegria é motivo frívolo.
Descobre-se em certos momentos o não
Sentido das coisas.
A seriedade é motivo fútil.
Para quem escrever?
Quem dará importância a um emplasto
Verbal ordinário?
Resta apenas o cansaço e os seus
Motivos alarmantes.
Fica o silêncio em cada palmilhar.
A percepção que o conjunto vital
Nada é.
Vive-se por muito pouco.
A paga é injusta.
A competição que mutila
Os fracos.
Premia os fortes.
Os fortes... apenas os fortes...
A selvageria que não
Deve ser contestada.
A contestação para quê serve?
Quando vai embora o momento satisfatório
Fica apenas o resíduo insatisfatório.
A fraqueza molesta os fortes
E os opressos.
A coisa assim é.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: 31/03/2008, segunda-feira.

domingo, junho 22, 2008

Homens como Carlos eram necessários à sociedade...

A vida reserva momentos tristes e inesperados. Na última sexta-feira, dia 20 de junho, assassinaram o grande e admirável professor Carlos Ramos Mota. Confesso que o meu coração ficou profundamente ferido com a morte do Carlos. Acredito também que este tenha sido o sentimento que alimentou a alma de muitos daqueles que conviveram com este grande entusiasta. Tem-se a mania de afirmar que somente falamos bem das pessoas somente quando estas morrem. Não creio que este seja um ditado de todo errado. Mas quando se trata de Carlos Mota, estamos falando de uma figura que é para ser lembrada na vida e na morte. Ele era um verdadeiro ser-humano - no sentido mais extremo termo. O professor Carlos era um grande um idealista, um utopista daqueles que acreditavam na possibilidade revolucionária da educação. As suas aulas eram um convite delicioso à reflexão e ao saber. Geralmente, sempre iniciava as aulas com uma pensata, que era o seu modo de dizer: "Olhe para o mundo com novos olhos! Não se acostume com o que te mostram!". Conheci o Carlos, assim como todos os alunos, lá no Imesb - nas aulas de educação. Suas aulas eram grandes viagens. Recordo-me de seu método de ler um texto do Mário Sérgio Cortela ("Não espere pelo Epitáfio - provocações filosóficas") e em seguida fazer alguns comentários extremamente pertinentes. Ele chamava de "método da escutatória". Ou seja, era preciso aprender a ouvir para poder falar. Suas reflexões eram ponderações revolucionárias. Pegava em nossas mãos e nos conduzia pelo reino mágico das possibilidade, do sonho e da decantação da realidade. Carlos era um excelente orador. Era um pessoa que entusiasmava, um líder. Alguém que sonhava com a transformção da sociedade por meio de uma educacão engajada, capaz de promover seus efeitos caudilhescos. Somente quem conviveu com ele - nem que seja de uma forma tênue - sabe a importância de homens com ele para o país. Homens como o Carlos são necessários á sociedade. São como a luz que irradia e fa perceber o valor das coisas. Dos professores que aprendi a admirar, Carlos era com certeza um dos mais destacados. É lamentável que a torpeza de um ogro tenha ceifado a vida de um campeão valoroso. Acredito que este seja o sentimento que pervada o coração de cada um dos alunos privilegiados que aprenderam com o Carlos o exemplo da vida. A vida é fugaz, efêmera, é ligeira e por isso precisamos fazê-la valer a pena. É como diz o texto do Mário Sérgio Cortela que certa vez o professor Mota leu para nós: "Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortavel e letárgico centro; muitas vezes o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor. Alguns desses desejos de romper fronteiras mornas só aparecem nos epitáfios, sempre em forma nostálgica e lamentadora de um 'eu devia ter'. Para além da mitologia grega, não é por acaso que outros Titãs têm sido tão festejados quando cantam de forma deliciosa e pertubadora (e muitos com eles): "Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer, devia ter arricado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer". Com certeza, Carlos ousou, não esperou pelo epitáfio. Lamentamos profundamente a sua morte e ficamos sentidos em ver como a bárbarie triunfa a passos largos, como as mazelas sociais, os cânceres brotam ao nosso lado e soltam suas pústulas sanguinolentas afetando os nossos mais queridos vizinhos, colegas, amigos... modelos... heróis. Viva o grande incentivador, educador, amigo, Carlos Mota.

Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

quarta-feira, junho 18, 2008

O mundo é pequeno

O mundo é pequeno.
A sua circunferência cabe em meu coração.
As suas distâncias são transitáveis.
As estradas que trago comigo são infinitas.
Mal consigo contá-las.
Elas se multiplicam.
Conduzem a outros mundos.
Grandes são as perguntas,
Os questionamentos, os tensionamentos.
Os livros trazem uma letra impressa.
Em meu coração há matéria para
Bibliotecas que preenchem o universo inteiro.
As horas são contadas ciclicamente.
Mas moram comigo relógios plangentes.
Que andam aos saltos nessa noite sem fim.
Discursos são proferidos pelos doutos.
As melhores palavras são as não ditas.
Os melhores poemas ainda estão por nascer.
Os rios correm para o mar.
Trago comigo rios que já nascem abortados.
São fontes de secura.
Seu corpo sinuoso é vestido pela liquidez árida
De um deserto distante.
Enquanto espero imagino coisas,
Porque sei que não existe mundo mais
Vasto do que o meu coração.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

sábado, junho 14, 2008

Conto triste

Havia um homem de riso franco, besta, fácil.
Ria de todas as situações sociais.
Inspirava confiança, força, inteligência, aparentemente.
O seu comportamento não passava de subterfúgio, uma fuga.
No fundo sabia das suas profundas e desconcertantes limitações.
A leitura que faziam dele era equivocada.
Um qüiproquó.
Tudo falseado.
Portava-se como um jovem, mas tinha uma alma velha.
Estampava na fronte a possibilidade do trato fácil.
Quando pensava em si via uma criança assustada,
Indefesa, escondida a um canto.
O mundo o feria. A dureza insensível da sociedade esbofeteava
As suas intenções.
A voz sedutora, aveludada que todos ouviam dos seus lábios,
Na interioridade constante de sua alma não passava de um
Estridulo abafado.
Não passava de uma pobre criatura.
Por fora um homem, por dentro um menor abandonado.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

domingo, junho 08, 2008

O sentido

Busco o vernáculo perfeito.
O dado semiológico desconcertante.
A palavra correta.
O sentido que acordará o mundo.
Viso a semântica dos astros.
O significado que promoverá sublimação.
A poesia de verso e frases irretocáveis.
Pontuar-se-á os verbos, os adjetivos
E todas as classes gramaticais.
Suas homonímias e topônimos.
A viagem se condensa com a
Abertura dos cadeados secretos.
Palavras não lapidadas,
De semblantes rústicos.
Não se dará importância aos
Vícios escondidos.
Aos imperfeitos que não
Conjugam o passado.
Ao erro de sintaxe que não
Se liga ao real em sua compreensão mais lata.
Desemcubidos ficam os erros e digressões.
Oscilo em torno das palavras como
Uma luz bruxuleante, enervante.
As poesia é mostro de rutilância cândida.
Visão fantasmagórica.
Para os que não entendem não diz nada,
Para os que compreendem os sentidos poéticos,
Apenas a relatividade das palavras
Com os seus sentidos ocultos.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

quarta-feira, junho 04, 2008

O sentido do Império dos Sentidos

Assisti ontem ao filme, O Império dos Sentidos. Trata-se de um clássico do cinema oriental, em específico o cinema japonês. O diretor Nagisa Oshima ousa na montagem do mote – um filme regado a sexo como produto da paixão sem limites. Sada, uma mulher poderosa, com um desejo sem saturação. Tikisan, o indivíduo passivo, que apesar de mostrar paixão por Sada, em muitos aspectos é conduzido pelos labirintos da insaciabilidade da gueixa.

Busquei comentários ou depoimentos na internet sobre o filme, não obtive muito sucesso. Isso mostra apenas como o filme ainda é desconhecido. O fato é que nos acostumamos aos enredos americanos, quando muito o francês, o alemão ou italiano. Resultado de uma dominação cultural, dos hábitos e da condução dos costumes. O diferente nos choca, gera indisposições. Busquei me despir de qualquer olhar oblíquo e imergir na obra de Oshima. Ao final fiquei com impressões profundas de como o diretor soube captar os aspectos mais mórbidos da natureza humana. Com certeza, ele não queria apenas fazer uma crítica à sociedade japonesa com todo o decoro conservador que lhe é peculiar. Ele parece brincar, criar uma paródia com os costumes milenares japoneses.

O sexo está presente em noventa por cento das cenas. Sada, nome que me fez refletir desde o princípio, guiou-me a pensar em “sado”. Mas teria sido esse mesmo o sentido que o diretor quis atribuir? O termo que forma a palavra sadismo, distúrbio este conhecido no mundo da Psicologia como algolagnia ativa é uma pratica mais conhecida como associação do prazer sexual à dor física ou moral infligida a outros. Tal termo deriva do nome do Marquês de Sade, cognome atribuído ao escritor francês do século XVIII, Donatien-Alphonse-François. Donatien, que levou uma vida marcada pelo escândalo e foi autor de explícitas descrições literárias de crueldade sexual. Passou parte de sua vida na prisão e em manicômios, acusado de imoralidade. Nos seus romances e peças teatrais, zombando da moral cristã e da filosofia iluminista, narra detalhadamente os delitos pelos quais foi encarcerado. O filme Os contos proibidos do Marquês de Sade busca trabalhar aspectos biográficos da vida desse polemista marginal do século XVIII. O comportamento sadomasoquista fica explícito no filme.

O lançamento do filme em 1976 nos Estados Unidos foi um fracasso. Houve uma espécie de desinteresse, um banimento abrupto. O moralismo puritano marginalizou a estréia do New York Film Festival. A obra ficou desconhecida, mas tinha tudo para ser um clássico da história da arte cinematográfica, pois o que o autor não deseja retratar o sexo pelo sexo. O que captei foi que o sexo é uma porta poderosa para exprimir a insaciabilidade das paixões humanas.

Num certo sentido, a paixão de Sada e Tikisan começa com tons de brincadeira. Aos poucos cresce uma necessidade de um pelo outro. Uma cena intrigante no filme é quando Sada tem que se prostituir para arrumar dinheiro para o casal. Ou seja, enquanto Tikisan fica em casa descansando, Sada se prostitui para arranjar os meios de subsistência. Essa é uma cena que não consegui achar explicação, pois Tikisan é dono de uma propriedade e patrão de Sada. O filme é cheio de cortes, de hiatos, de espaços sem explicações. De cenas que aparentemente se colam, se juntam, com uma total falta de nexo. O diretor pareceu não se preocupar com os aspectos lógicos de uma linearidade explicativa, regular. Os fatos se dão com uma completa ausência de coerência.

O sexo é o meio que os liga um ao outro. A paixão de Sada é tão avassaladora que os pudores são completamente conjurados. Fazem sexo grupal. Tikisan faz sexo com outra mulher, mas pensa em Sada. A gueixa pede para que o mancebo tenha relações sexuais com uma mulher de 68 anos. Um ovo introduzido na vagina de Sada, sendo que ela é obrigada a colocá-lo para fora à semelhança de uma galinha. Os rigores do sexo se acentuam, ao ponto de que chega um momento em que parece que este já não satisfaz o casal. Buscam o enforcamento como medida que possibilitará um prazer muito maior. A morte também pode gerar prazer. O prazer dos silêncios e efeitos absolutos. Para os adeptos da prática sexual com esses requintes, não existe limites para se alcançar satisfação. Quanto maior for a dor, maior será o prazer, mesmo que se flerte com a morte ou com o destempero. O escritor Benjamim Scott, no seu livro as Catacumbas de Roma, apesar de analisar as sociedades não cristãs com um crivo etnocêntrico, algo que contribui contra qualquer historiador, diz que nos dias de Tibério, Roma mergulhou no caos. Segundo Scott, após Tibério ter se retirado de Roma para a ilha Cáprea, mergulhou em prazeres de toda sorte. O historiador diz que “no seu retiro solitário [Tibério] propôs recompensas aos que inventassem novos prazeres ou pudessem produzir volúpia”[1]. O filme de Oshima não tem por intenção esta propositura, mas mergulhar nas vielas psicológicas das possibilidades da paixão.

A cena final do filme é surpreendente. Sada num ato, creio eu, mais inconsciente do que consciente corta o sexo de Tikisan após tê-lo enforcado. Loucura? Os rigores da paixão a teria estouvado? Talvez, o filme tenha essa intenção a fim de que o telespectador tire as suas próprias conclusões. Filmes viscerais e marginais como O Império dos Sentidos, O Último Tango em Paris, Calígula ou Satiricom são obras de arte que buscam desvestir o telespectador ao avesso. São uma espécie de “tratamento de choque”. Servem para despir preconceitos e fazer mergulhar com maior profundidade analítica no interior do ser humano – que é o mesmo ou aqui ou no oriente. As informações finais do filme são de que a história teria acontecido no ano de 1936 no Japão.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: quarta-feira, 4 de junho de 2008, 10:50:13.


[1] SCOTT, Benjamim. As Catacumbas de Roma – 21ª. Edição. Rio de Janeiro. CPAD. 2002. pp. 38-39.