A vida reserva momentos tristes e inesperados. Na última sexta-feira, dia 20 de junho, assassinaram o grande e admirável professor Carlos Ramos Mota. Confesso que o meu coração ficou profundamente ferido com a morte do Carlos. Acredito também que este tenha sido o sentimento que alimentou a alma de muitos daqueles que conviveram com este grande entusiasta. Tem-se a mania de afirmar que somente falamos bem das pessoas somente quando estas morrem. Não creio que este seja um ditado de todo errado. Mas quando se trata de Carlos Mota, estamos falando de uma figura que é para ser lembrada na vida e na morte. Ele era um verdadeiro ser-humano - no sentido mais extremo termo. O professor Carlos era um grande um idealista, um utopista daqueles que acreditavam na possibilidade revolucionária da educação. As suas aulas eram um convite delicioso à reflexão e ao saber. Geralmente, sempre iniciava as aulas com uma pensata, que era o seu modo de dizer: "Olhe para o mundo com novos olhos! Não se acostume com o que te mostram!". Conheci o Carlos, assim como todos os alunos, lá no Imesb - nas aulas de educação. Suas aulas eram grandes viagens. Recordo-me de seu método de ler um texto do Mário Sérgio Cortela ("Não espere pelo Epitáfio - provocações filosóficas") e em seguida fazer alguns comentários extremamente pertinentes. Ele chamava de "método da escutatória". Ou seja, era preciso aprender a ouvir para poder falar. Suas reflexões eram ponderações revolucionárias. Pegava em nossas mãos e nos conduzia pelo reino mágico das possibilidade, do sonho e da decantação da realidade. Carlos era um excelente orador. Era um pessoa que entusiasmava, um líder. Alguém que sonhava com a transformção da sociedade por meio de uma educacão engajada, capaz de promover seus efeitos caudilhescos. Somente quem conviveu com ele - nem que seja de uma forma tênue - sabe a importância de homens com ele para o país. Homens como o Carlos são necessários á sociedade. São como a luz que irradia e fa perceber o valor das coisas. Dos professores que aprendi a admirar, Carlos era com certeza um dos mais destacados. É lamentável que a torpeza de um ogro tenha ceifado a vida de um campeão valoroso. Acredito que este seja o sentimento que pervada o coração de cada um dos alunos privilegiados que aprenderam com o Carlos o exemplo da vida. A vida é fugaz, efêmera, é ligeira e por isso precisamos fazê-la valer a pena. É como diz o texto do Mário Sérgio Cortela que certa vez o professor Mota leu para nós: "Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortavel e letárgico centro; muitas vezes o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor. Alguns desses desejos de romper fronteiras mornas só aparecem nos epitáfios, sempre em forma nostálgica e lamentadora de um 'eu devia ter'. Para além da mitologia grega, não é por acaso que outros Titãs têm sido tão festejados quando cantam de forma deliciosa e pertubadora (e muitos com eles): "Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer, devia ter arricado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer". Com certeza, Carlos ousou, não esperou pelo epitáfio. Lamentamos profundamente a sua morte e ficamos sentidos em ver como a bárbarie triunfa a passos largos, como as mazelas sociais, os cânceres brotam ao nosso lado e soltam suas pústulas sanguinolentas afetando os nossos mais queridos vizinhos, colegas, amigos... modelos... heróis. Viva o grande incentivador, educador, amigo, Carlos Mota.
Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
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