
Ele era um verdadeiro ser-humano - no sentido mais extremo termo. O professor Carlos era um grande um idealista, um utopista daqueles que acreditavam na possibilidade revolucionária da educação. Tive o privilégio de aprender com ele; de ser seu aluno. As suas aulas eram um convite delicioso à reflexão e ao saber. Geralmente, sempre iniciava as aulas com uma pensata, que era o seu modo de dizer: "Olhe para o mundo com novos olhos! Não se acostume com o que te mostram!". Conheci o Carlos, assim como todos os alunos, lá no Imesb - nas aulas de educação. Suas aulas eram convites deliciosos à reflexão. Recordo-me de seu método de ler um texto do Mário Sérgio Cortela ("Não espere pelo Epitáfio - provocações filosóficas") e em seguida fazer alguns comentários extremamente pertinentes.
Ele chamava de "método da escutatória". Ou seja, era preciso aprender a ouvir para poder falar. Suas reflexões eram ponderações revolucionárias. Pegava em nossas mãos e nos conduzia pelo reino mágico das possibilidade, do sonho e da decantação da realidade. Carlos era um excelente orador. Era um pessoa que entusiasmava; era bom ser conduzido pelo seu entusiasmo. Alguém que sonhava com a transformação da sociedade por meio de uma educação engajada, capaz de promover seus efeitos caudilhescos. Somente quem conviveu com ele - nem que seja de uma forma tênue - sabe a importância de homens com ele para o país. Homens como o Carlos são necessários à sociedade. São como a luz que irradia e faz perceber o valor das coisas.
Dos professores que aprendi a admirar, Carlos era com certeza um dos mais destacados. É lamentável que a torpeza de um ogro tenha ceifado a vida de um campeão valoroso. Acredito que este seja o sentimento que habita o coração de cada um dos alunos privilegiados que aprenderam com o Carlos o exemplo da vida. A vida é fugaz, efêmera; é ligeira e, por isso, precisamos fazê-la valer a pena. É como diz o texto do Mário Sérgio Cortela que certa vez o professor Mota leu para nós: "Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortável e letárgico centro; muitas vezes o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor. Alguns desses desejos de romper fronteiras mornas só aparecem nos epitáfios, sempre em forma nostálgica e lamentadora de um 'eu devia ter'. Para além da mitologia grega, não é por acaso que outros Titãs têm sido tão festejados quando cantam de forma deliciosa e perturbadora (e muitos com eles): "Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer, devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer".
Com certeza, Carlos ousou, não esperou pelo epitáfio. Lamentamos profundamente a sua morte e ficamos sentidos em ver como a barbárie triunfa a passos largos, como as mazelas sociais, os cânceres brotam ao nosso lado e soltam suas pústulas sanguinolentas afetando os nossos mais queridos vizinhos, colegas, amigos... modelos... heróis. Viva o grande incentivador, educador, amigo, Carlos Mota.
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