quinta-feira, junho 09, 2011

Caso Cesare Battisti (IV) - ou como enxergamos a subserviência das elites...

Palavras de Leonardo Boff, que podem ser evocadas nesses momentos de tanto alarde e subserviência ao pensamento do Centro. As elites brasileiras, principalmente aqueles respresentados pelos donos dos meios de comunicação desse país, são uma sucursal do Império. Foram escritas há quase dois anos e servem para a ocasião:

"...
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como são Hawaí e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições..."

As palavras acima são oportunsíssimas ao que se assistiu neste dia. Desde a noite de ontem que a mídia nativa está em polvorosa. O resultado não foi aquilo que se esperava que fosse. Era desejo dos jornalões que Cesare Battisti saísse extraditado, derrotado, humilhado, pronto para ir ao patíbulo; que fosse entregue ao governo italiano. A repercussão da libertação de Battisti foi imensa. Li algumas notícias veiculadas para tentar perceber o nível de atarantamento dos jornalões e encontrei raiva, acusões desbragadas e violência. A Folha de São Paulo e os jornais televisivos afirmam que Cesare era um assassino e enfatizam o possível impasse diplomático que o evento geraria para a relação Brasil-Itália. Curiosamente, há menos de dois ou três dias, ouvi uma informação sendo noticiada num "cubículo"(chamo cubículo para enfatizar a desimportância que foi dada ao fato) do Jornal Nacional por William Bonner e Fátima Bernardes, casal modelo para o padrão global, que Daniel Dantas, que estava sendo investigado pela Polícia Federal, acusado de ter se locupletado com "algumas centenas de milhões de reais", poderia continuar a sua vida de banqueiro em paz. O processo que investigava o sr. Dantas foi, simplesmente, "desqualificado", arquivado. A repercussão dada pela mídia ao caso Dantas foi nula. Afinal, tratava-se de alguém de cima, de um especialista. Seria fogo amigo. E aqueles que possuem o mesmo cheiro não se acusam. Mas Battisti não é ninguém. Apenas um sujeitinho "inexistente", um militante de esquerda. Pesa contra ele o nome "comunista"; pesa contra ele ainda o fato de ser objeto da solicitação de um país do Centro. Não se invoca a história. Não se averiguam as circunstâncias, o ambiente histórico do suposto crime cometido por Batistti. Não se quer saber que a Itália produziu um Mussollini, que enviou um dos maiores intelectuais do século XX, Antonio Gramsci, para a masmorra até que este padecesse; da Itália que teve um dos Estados mais mafiosos do mundo no século XX; que anda de marcha ré; o número de xenófobos e o crescimento da extrema Direita é vertiginoso naquele país. Por que não se acusam as ditaduras e os ditadores que mataram a tantos - Pinochet, Franco, Salazar e tantos outros que ainda estão vivos no Brasil e vivendo à custa do Estado? O que está em voga nisso tudo é um jogo de submissão - de um lado o desejo dos súcubos e do outro o poder contagiante e cruel dos íncubos.

O STF (leia-se: Luís Fux - que fulminou Gilmar Mendes em seu voto -, Ricardo Lewandovsky, Joaquim Barbosa, Ayres Brito, Carmen Lúcia e Marco Aurélio Mello) foi responsável por gerar em mim um orgulho e uma felicidade risentes. A mídia, por sua vez, aliançada com o que há de mais anacrônico e reacionário, posiciona-se numa posição servilista, de quem sente saudades da escravidão, ou seja, sermos uma "república das bananas", como diz Leonardo Boff. Estes sim são os verdadeiros terroristas e criminosos.

Por Carlos Antônio M. R. de Albuquerque

Gramado - RS

terça-feira, junho 07, 2011

A alegria segundo Jonathan (3 anos) e Beethoven

"Ai, que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças..." Fernando Pessoa

Não sou muito ligado a esses vídeos que são campeões de bilheteria no YouTube. Geralmente são "besteiras" ou "pegadinhas" daquelas do tipo Sílvio Santos. Mas esse vídeo que surge abaixo, com quase 7 milhões de visualizações, é uma maravilha. Algo que vale a pena ser visto. Uma criança a reger o quarto movimento da toda-poderosa Quinta Sinfonia de Beethoven. Ele conseguiu, com a simulação, aglutinar todo o espectro de cores e matizes que o mundo beethoveano possui: fúria, dinamicidade, enlevo, seriedade, alegria, inocência e crença em dias melhores. Não sei quem é o rapazinho entusiasmado. A Quinta Sinfonia possui toda a fibra beethoveana. Possui elementos eternos; musicalidade fácil, alegre, cristalina, contagiante que faz despertar os sonhos. Não deixo de rir cada vez que assisto a esse maravilhoso vídeo.



Gramado - RS