domingo, outubro 28, 2018

Caetano Veloso entrevista Roger Waters

Uma baita aula sobre como ser resistente em um mundo em que as corporações colocam o interesse financeiro acima das necessidades humanas. Duas figuras necessárias à manutenção da sensatez, da generosidade e da racionalidade humanas.



Entrevista realizada pela Mídia Ninja


A melhor arma

Provoquemos o mundo com a poesia.



Uma resposta pelo Facebook

... não é numa rede social que vamos estabelecer um diálogo construtivo. Eventos são fatos, mas, é a interpretação que damos a eles que cria o sentido de como enxergamos o mundo. Interpretamos o fato com os óculos que temos. Os óculos com os quais você "enxerga" o mundo é repleto de intenções. Ou seja, as cores são programadas para adequarem o fato e não o contrário. A perspectiva de Cristo, no meu modo (talvez pobre) de enxergar não aponta para eventos fechados, dogmatizados. A teologia de Cristo é viva. Ela é caminhante, "pois quão formosos são os pés daqueles que levam a boa nova". A minha visão é estabelecida pelo amor, pela tolerância, pela inclusão. Jesus pergunta: "Onde estão aqueles que te acusam?" "Ninguém te condenou?" A mulher respondeu: "Ninguém, Senhor!" Ao que ele responde com os lábios repletos de amor: "Tão menos eu te condeno". Acredito que não exista ensinamento maior do que esse. O dogmatismo estéril - que você chama de "valores criados" - autorizava o apedrejamento da mulher. O adultério era digno de morte, assim, talvez, como o aborto ou qualquer uma dessas causas elencadas pelo fundamentalismo religioso. 

Jesus apenas diz: "Tão menos eu te condeno". Jesus era amigo dos pecadores, dos beberrões, dos glutões; dos párias, dos errados, dos tortos, dos esquerdistas, dos que se desandaram pela vida, dos medrosos, daqueles que perderam a fé; mas possuía palavras duras, grávidas de contundência contra os dogmatizantes, contra aqueles que primeiro pintam os óculos, para depois enxergarem o fato. Ele mesmo diz: "vocês não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo" (Mt. 23.13). "Ipso facto", entendo que a perspectiva da aceitação não crítica de um projeto que flerta com o ódio, com o autoritarismo, não se aproxima do verdadeiro evangelho de Cristo. Paulo diz que "devemos fugir de toda forma de mal". Como cidadão, você tem o direito a pensar o que bem entende, mas, acredito que o amor abnegado de Cristo, a riqueza e a singeleza dos ensinamentos de Jesus, estejam bem longe de alguém que diz: "Não te estupro, porque você não merece". Ou que afirma, quando perguntado sobre se um filho seu namoraria uma negra: "Não preciso conversar sobre isso. Eu eduquei muito bem os meus filhos". Ou que afirma que "é necessário matar uns 30 mil para consertar este país". Ou: "Sou preconceituoso, sim, com muito orgulho". Observe imensas incoerências. Fala-se descontextualizadamente em aborto, mas se fala em matar 30 mil. Ou ainda em um comício no Acre: "É preciso metralhar essas petralhada toda". Não me fale em "discordância", quando há aprovação disso, pois só posso entender que há cores estranhas naquilo que você enxerga. Um grande abraço, meu querido!

segunda-feira, outubro 22, 2018

FHC e o medo de ousar

Fernando Henrique Cardoso, no auge dos seus 87 anos, é uma figura curiosa. Hoje, parece perceber que não alcançou aquilo que sempre pretendeu: ser um intelectual da cepa de um Florestan Fernandes, Caio Prado Jr. ou Darcy Ribeiro. Ao invés disso, tornou-se um "senhor" duro, meio orgulhoso e que não consegue fazer uma mea culpa pelas opções políticas que realizou. 

Líder de um dos principais partidos da política brasileira - o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira, que flerta com a social democracia somente na sigla) - percebeu que sua relevância política vai se obumbrando à medida que os efeitos do tempo chegam para ele. FHC, também como é conhecido, poderia ter um pouco de dignidade, de coragem para ousar nesse momento em que o país atravessa uma das suas crises, apontando para um futuro questionável e incerto. 

Lendo um dos seus artigos, no qual podemos perceber uma forte recusa em admitir o óbvio, fiquei meio penalizado com a sua arrogância, tudo para manter a postura de alguém que não se dobra diante da sua contraparte, o PT. Seu grande desejo era ser um Lula. Melhor: ter a grandeza de um Florestan Fernandes, segundo contam, seu orientador e mestre, e a penetração popular de que goza Lula. No seu artigo, cujo título é O futuro político do Brasil, escrito no El Pais, o "sociólogo de Higienópolis", como lhe alcunha Paulo Henrique Amorim, em dado momento do texto, diz algo que me estarreceu. Tentando fazer uma análise de conjuntura, mas negando as obviedades do momento ou tentando eufemizar por meio de uma retórica de isento, FHC diz sobre a ascensão da candidatura Bolsonaro: "Não se trata da volta ao fascismo: a história, no caso, não se repete. Trata-se de outras formas de pensamento e ação não democráticas".

Fiz sinal de incredulidade ao ler isto. Certamente, a capacidade analítica do potentado intelectual deve ter atingido níveis apoteóticos. Como assim? Há uma incongruência em seu pensamento. A afirmação não fecha; o raciocínio escorrega, decanta, aproximando-se daquelas pérolas extraídas das redações de vestibular. O fascismo, caro sociólogo, é antidemocrático. A história, de fato, não se repete, mas as implicações da síntese dialética continuam reverberando. O fascismo certamente não se repetirá como aconteceu na Alemanha ou na Itália, que são casos estritos de representação do movimento. Todavia, o fascismo possui uma filosofia da história. Ele é um filhote degenerado do capitalismo monopolista e concentrador ou de qualquer outro movimento que flerte com o autoritarismo e tenha, como preocupação, a supressão das individualidades. O fascismo possui uma direção, uma estética; uma linguagem, uma psicologia, um modus operandis. Vez ou outra, ele aparece com força, principalmente em momentos em que o capitalismo concentrador vislumbra o perigo do caos social.

Se as afirmações do candidato do PSL - e o que ele representa -  não são fascistas, o que são essas "formas de pensamento"? Elas caminham para qual direção? Elas estão pautadas nos direitos humanos? Respeitam as bases do estado democrático? Ontem, 21/10/2018, Bolsonaro afirmou em ato na Avenida Paulista, que os seus inimigos políticos (no caso "os vermelhos", metonímia que representa, principalmente, os petistas) serão varridos do mapa. Esta é uma clara manifestação fascista, a saber, a eliminação do diferente; a prisão, a perseguição, pois o fascismo não admite oposição. 

Vez ou outra, escutamos a sua fala "gelada", "mofada", pela falta de entusiasmo ou pela incapacidade ousar. Posa de "democrata", mas não reúne os seus para uma verbalização contundente. Acredito que o ato mais sublime para ele, neste momento, no auge de sua quase nonagenária situação, fosse um grito, um aceno claro, perceptível, objetivo, contra essa clara tendência fascista que toma o país. Isso lhe daria dignidade e redimiria o seu passado de escolhas políticas contra o país. 


sábado, outubro 20, 2018

Os absolutos relativos

Por que sou cristão? Ora, porque nasci no Ocidente, pois, se tivesse nascido na Ásia, no Oriente ou numa tribo indígena, teria uma outra "tatuagem" na alma. Conclusão: não me venha falar de absolutos. O absoluto de sua religião é relativo diante dos outros absolutos, que também são relativos. Como diria Nietzsche: tudo é interpretação, inclusive o seu absoluto. 


terça-feira, outubro 16, 2018

O fascismo e os “homens bons” - Por Mauro Iasi

Abaixo, uma bela reflexão do professor Mauro Iasi.  Uma bela análise de conjuntura!

“Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
Fingindo desconhecer a imagem,
Deixaram-me, a sós, perplexo,
Com meu súbito reflexo.”

O Espelho – Mia Couto

Desde 2004 não voto no PT e me coloquei como oposição de esquerda a seus governos. No segundo turno entre Dilma e Aécio em 2014 votei nulo e não me arrependo dessa posição, inclusive pelo cenário que se desdobrou após o pleito e a vitória da petista. O que haveria de diferente neste segundo turno?


Em todas as outras oportunidades víamos um discurso que afirmava que era necessário garantir o governo petista diante do retrocesso que significaria apostar no PSDB e em sua declarada política privatista e pró-mercado, sua política externa entreguista e sua rendição aos ditames do capital financeiro. Sempre argumentamos que, ainda que houvessem diferenças importantes entre as propostas de governo de petistas e tucanos, havia uma campo de consenso no que dizia respeito a aspectos como a reforma do Estado, a política de superávits primários, a submissão à lei de responsabilidade fiscal, a lógica de parcerias publico privadas, o abandono da reforma agrária diante da prioridade ao agronegócio, a forma de governabilidade via concessões e negociatas e tantos outros.

Hoje acreditamos que a situação é qualitativamente diferente quando nos confrontamos com a extrema direita. Hoje defendemos um voto “crítico” em Fernando Haddad. Não se trata de programas de governo, ainda que uma breve análise do que está proposto pelas candidaturas seja mais que o suficiente para alertar sobre os graves perigos que a vitória do candidato do PSL representa. É muito mais do que isso. Não alimentamos ilusões sobre o caráter do programa petista e sabemos que sua inclinação ao centro e à centro direita será um fato certo, até mesmo pela chantagem entorno dos termos da chamada governabilidade.

Ocorre que o fracasso dos governos de conciliação de classe e a total falta de estabilidade do governo usurpador que se seguiu ao golpe institucional, parlamentar e midiático de 2016, gestou as condições para o fortalecimento da alternativa de extrema direita. Tal fato foi profundamente facilitado pelo braço jurídico do golpe e pela condenação sem provas do ex-presidente Lula que teria, muito provavelmente, ganho estas eleições.

A desarticulação do PT e a impossibilidade da direita golpista encontrar uma alternativa viável do ponto de vista eleitoral abriu o espaço para que a alternativa reacionária se apresentasse como possibilidade de governo. Programaticamente aponta para o que tem se chamado de “ultraliberalismo”, mas que, parodiando Lênin, poderíamos chamar de “ultrabobagens” que nem mesmo os mais neoliberais com ainda alguma capacidade de intelecção acreditam ser viáveis.  Isto é, coisas como realizar a total privatização dos serviços oferecidos pelo Estado, implementar uma simplificação grosseira do imposto de renda com porcentagens iguais diante de uma realidade de profunda desigualdade de rendimentos e rendas da população, levar a cabo o desmonte das universidades federais do ensino público gratuito, dotar o famigerado movimento “escola sem partido” de retaguarda legal para operar uma cruzada de perseguições políticas e obscurantismo no sistema educacional, eliminar todos aos “ativismos” (sabemos o que isso significa) e acabar com o 13 salário e do adicional de férias, entre outras sandices.

O verdadeiro sentido da extrema direita é outro. Acirrar as contradições para vender a alternativa da ordem imposta violentamente, seja pela interferência direta das forças armadas, seja através do controle da ordem institucional, legislativa e judiciária. O problema é que o acirramento é fundamental para ganhar as eleições, mas impossível para manter condições mínimas de governabilidade, daí a alternativa da força.

A história nos ensina que os verdadeiros planos aparecem depois da solução de força, como vimos na clara diferença entre os projetos da Aliança Liberal de Vargas em 1929, que falava da “vocação agrária do Brasil” e as prioridades do Estado Novo depois de 1937; da pregação moralista e anticorrupção das forças golpistas de 1964 e o entreguismo corrupto da ditadura por décadas.

Podemos ver esse processo mesmo nos clássicos casos do nazi-fascismo europeu, quando a retórica nacionalista e a crítica ao grande capital se transformou na aliança prática do capital financeiro e monopolista com o nazismo e o fascismo. É ridículo mas necessário lembrar que o fascismo e o nazismo foram projetos da extrema direita. Se seguirem o “raciocínio” que se tem feito esses dias, é capaz dos reacionários do futuro afirmarem que o Bolsonaro era de centro, pois eu partido se autodenomina “social e liberal”.

A extrema direita é um instrumento do grande capital que lança mão da barbárie para salvar sua civilização diante do risco da democracia. Seu método, como já discutíamos em outra oportunidade, é a estigmatização do inimigo, a manipulação dos valores da Nação, da família, da moral, do perigo comunista, deslocando a responsabilidade pela crise e seus efeitos para os ombros de seus adversários. Por isso, não nos espanta que a mentira seja a principal arma política daqueles que defendem os interesses de uma minoria e precisam do apoio das massas para suas aventuras. Não foi o Facebook nem o WhatsApp que criou o fenômeno. Ainda que esses dispositivos sejam veículos eficientes da mentira e das falsificações, a “propaganda” é reconhecidamente um instrumento do fascismo, pois a verdade os destrói como a luz aos vampiros.

Mas, por que devemos combater a extrema direita? Não é uma doutrina política como outra qualquer que devemos respeitar no sagrado debate de ideias e o direito ao divergente? Não acredito nisso, pelo simples fato que não há diálogo com aqueles que negam o diálogo e optam pela manipulação, a mentira, a manobra grosseira e pregam nossa eliminação física. Não devemos ser tolerantes contra a intolerância e o obscurantismo.

A extrema direita desperta na sociedade forças reacionárias que ameaçam a integridade física e moral da maioria da população. Não estão simplesmente apresentando suas propostas e disputando uma eleição, estão operando um golpe. Já passa de 50 o número de atentados notificados em que apoiadores de Bolsonaro constrangeram, ameaçaram ou agrediram ou mataram pessoas, como foi o caso do mestre Moa do Katendê, assassinado com doze facadas covardemente pelas costas na Bahia. Outro caso alarmante foi o da menina que teve uma suástica gravada a canivete em sua pele no Rio Grande do Sul.  Essas agressões dão corpo a uma escalada de violência política à qual poderíamos somar tantos outros casos como o assassinato de Marielle Franco, de Jorginho Guajajara e muitas outras lideranças indígenas ainda este ano.

Consolidou-se uma postura entre parte da população de que a resposta a ser dada ao PT (seja pelo que de fato fez e pelo que a ele se atribui através de diversas e inverossímeis alegações) é votar em Bolsonaro. Desta maneira, o deputado aparece como a forma vazia de conteúdo que recolhe o antipetismo e o transforma em alternativa política. O problema é que se a forma se presta perfeitamente a tal função, de modo algum esta candidatura é vazia de conteúdo e sua substância real fica obliterada pelo antipetismo.

Entre as milhares de pessoas que votaram no primeiro turno é possível que existam fascistas convictos, reacionários de todo tipo e conservadores, mas a grande maioria escolheu alguém para derrotar o PT. Caso retirássemos este fator, restaria uma trupe de pessoas muito estúpidas que acreditam que a terra é plana, que o Francis Fukuyama é comunista e que Rogers Waters, do Pink Floyd, nunca prestou atenção nas letras que ele mesmo escreveu. O problema é que estas pessoas, supostamente boas, estão acalentando a ilusão de que o mais importante é derrotar o PT, de que o maluco do Bolsonaro não fará tanto estrago como seus antecessores. O vice Mourão seria um militar simplório e racista que gosta de seu neto que está a cada dia mais branco e que prometeu acabar com o 13o salário, mas que não vai fazer isso. As “pessoas boas” só estão preocupadas em salvar a família tradicional, morrem de medo de jovens do mesmo sexo que passeiam de mãos dadas pela rua, mas ninguém vai sair nas ruas matando homossexuais a golpes de barra de ferro, ou queimar índios, ou estuprar mulheres, ou ligar fios desencapados nos testículos de ninguém, pendurar pessoas no “pau de arara”, espanca-las e depois de deixa-las nuas, cobertas de sangue e fezes, para em seguida trazer seus filhos de quatro anos para presenciar a cena. Ninguém vai pegar um jovem, tortura-lo, amarrar sua boca no escapamento de um Jipe e arrastá-lo pelo pátio do quartel. Ninguém enfiaria um rato na vagina de ninguém. Ninguém vai assassinar opositores, esquartejá-los e queimar os restos nos fornos de uma usina de açúcar no Rio de Janeiro. Pessoas boas preferem não pensar nisso.

Mas tudo isso aconteceu de verdade (o contrário do fake news é uma coisa chamada história) e já está acontecendo quer as “pessoas boas” queiram ou não. De alguma forma, elas são cumplices da barbárie. São elas que estão colocando a arma na mão dos assassinos, são elas que colocam as pedras nas mãos dos fanáticos que apedrejam meninas saindo dos cultos afros, são elas que estão dando a chave do cofre para as quadrilhas que as assaltarão. São elas que estão assinando um contrato no qual acreditam que há apenas uma clausula: impedir que o PT volte a governar.

Não. Bolsonaro não é maluco. Nem seu vice, um milico simplório. Nem seus asseclas, que não passam de profissionais bem remunerados para fazer uma “campanha eleitoral”. São políticos de extrema direita, alguns com claras características fascistas, que estão tentando encobrir suas pegadas e seus crimes, desde 1964 e o golpe, as torturas e a longa noite que se abateu sobre o Brasil, mas também suas falcatruas presentes, seu apoio inconteste ao governo do usurpador Temer e seus ataques aos trabalhadores e sua responsabilidade direta pela destruição do país. Não são anjos vindos do céus com a missão de derrotar o PT, como dizem alguns pastores coniventes e parceiros da farsa, em nome da fé, da família e do fim da corrupção. São, em poucas palavras, pessoas más que habitam os bastidores do terror e da barbárie, com negócios e interesses escusos.

Em 2015, quando essas forças iam as ruas pedir o afastamento da então presidente Dilma, ao fazer uma análise de conjuntura, eu dizia que com esses setores não poderia haver diálogo possível. Fui envolvido numa manipulação grosseira de minha fala para me apresentar como aquele que queria fuzilar “todos os conservadores” por conta de uma citação descontextualizada de poema de Brecht. Fui caluniado, perseguido, ameaçado, processado, ironicamente por aqueles que defendem e praticam o extermínio e os fuzilamentos. Mas o que o poeta alemão externava em seu poema, usando a imagem do fuzilamento, dizia respeito à responsabilidade daqueles que ajudaram o fascismo a chegar ao poder e que, depois da catástrofe, se diziam inocentes pois o fizeram na mais boa das intenções, porque, afinal, eram pessoas boas.

Na Alemanha de Weimar também haviam pessoas boas que só queriam um país grande e forte. Estavam descontentes com a crise, a inflação e o desemprego. Tinham críticas aos governos democráticos, muitas delas bastante pertinentes. Queriam defender a família, queriam uma raça pura, bonita e forte. Por isso votaram em massa pelos nazistas e os elegeram em 1932. Continuaram os apoiando quando em 1933 Hitler eliminou toda a oposição ao seu governo. Por isso, também, aceitaram quando apareceu a proposta de esterilizar pobres e pessoas com comportamento antissocial hereditário, assim como matar aqueles que tinham uma vida indigna de ser vivida. Estavam alegres e confiantes como as boas pessoas que eram… até que começaram a levar as crianças com problemas mentais para eventualmente serem mortas no projeto Aktion 4 (até 1945 foram mais de 5 mil crianças), e terem seus cérebros destinados à pesquisa de um prestigioso doutor (ele também uma boa pessoa) Depois foram os judeus, os ciganos, os homossexuais, os comunistas que passaram a ser levados para o extermínio nas câmaras de gás e nos fornos crematórios dos campos de concentração. Mas tudo isso para eliminar o crime, a corrupção e afastar o mundo perigo do comunismo. No final das contas, entretanto, foram os comunistas que ajudaram a salvar o mundo dos nazistas. Os homens de bem ficaram, compreensivelmente confusos. Será que estávamos do lado errado, pensavam em meio às cidades em ruinas e às bombas que caiam sobre suas cabeças, enquanto corriam para se livrar de todo símbolo que os pudessem associar ao mundo que ruía à sua volta.

Será possível que as pessoas de bem estivessem entre aqueles corpos esqueléticos jogados em valas comuns e cobertos de cal? Será que as crianças assassinadas não eram… pessoas boas? Seriam mesmo os judeus os culpados de tudo? Seriam os comunistas realmente nossos inimigos? Assim divagavam as pessoas que se achavam boas e apoiaram a barbárie fascista, mas toda e qualquer dúvida desaparecia quando confrontavam suas vítimas, porque seu lugar era entre os carrascos.

Então vamos combinar uma coisa: vote em que quiser. Se você é um fascista convicto, vote nos assassinos e torturadores, pois acredito mesmo que eles o representam. Mas, se você acredita que é uma pessoa boa, não diga depois que não sabia. O sangue de homens e mulheres de bem, gente simples e corajosa – Moas e Marielles e tantos outros – o sangue dessas pessoas já está caindo e tingindo o solo de nosso país de vermelho, jovens são agredidos no meio da rua e têm sua carne marcada com a suástica nazista. Você que se acha uma pessoa de bem e um cristão e votou no candidato da extrema direita já está com sangue nas mãos e nenhuma água ou esquecimento será capaz de limpar suas mãos e sua consciência desses crimes cometidos em seu nome.

Ainda temos uma chance de evitar uma catástrofe que já é reconhecida e temida por todos os órgãos de imprensa sérios do planeta. Você quer ser lembrado por ter ajudado a derrotar as forças do mal (e depois ajudar a organizar a oposição ao governo do PT) ou por ter dado seu apoio a um governo que será catastrófico do ponto de vista econômico, social, cultural e civilizatório? No futuro, quando você que não escutou todos os alertas, tentar negar sua responsabilidade, repetindo como um mantra que é uma pessoa boa, olhando para o espelho verá, inconfundível, os traços dos assassinos, o olho brutal da maldade e o horror de todas as vítimas consumindo suas pretensões de ingenuidade. Só podemos garantir uma coisa: nós estaremos lá, como estivemos no passado, todos os dias, para que você e ninguém jamais esqueça.

Daqui

segunda-feira, outubro 15, 2018

Não diga para mim "feliz dia dos professores", se você aprova um projeto que aniquila a educação e o papel dos professores

Uma das frases mais contundentes de Paulo Freire, entre as tantas proferidas pela boniteza de sua sabedoria, é a de que a "educação é um ato político". Hoje, dia 15 de outubro, é comemorado o dia do professor. É uma data que possui um sabor adstringente; que chega a por um travo, um leve e perceptível sabor amargo na boca. 

(1) Ser professor é uma das mais nobres profissões. Quando afirmo isso, não quero patinar em um lugar comum. Afirmo uma obviedade pela verdade que a afirmação encerra. O destino de um país, necessariamente, passa pelo nível dos professores que possui. Eles são um dos principais contribuidores à formação das novas gerações. Possuem uma importância política, econômica e cultural. Um professor mal preparado deixa marcas profundas em seus alunos; mas, o contrário, também é verdade: um professor sábio, rico em carisma e sensibilidade é capaz de despertar os mais necessários sentimentos que tornam um sujeito responsável e crédulo no ser humano. Em sociedades amadurecidas, os professores possuem um lugar de destaque. São respeitados; bem remunerados. Tidos como heróis. 

(2) Por sua vez, o momento político que vivemos reserva enormes dificuldades para os professores. Há uma hostilidade contra os professores. O famigerado Escola sem partido traz uma agenda policialesca contra os professores. Debater criticamente qualquer assunto, demonstrando os pontos de vista sobre determinado assunto, pode ser entendido como "doutrinação". Um exemplo se deu com meu irmão, professor de história de determinada escola. Ele resolveu trabalhar O atlas da violência, divulgado este ano pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Neste documento oficial, produzido por pesquisadores do Brasil inteiro, que trabalharam com informações empíricas, fica constatado que os negros são as principais vítimas da violência - entre tantas outras violências existentes contra mulheres, gays, índios etc. Que nascer negro no Brasil - e numa periferia - já condena qualquer sujeito potencialmente a um fatalidade - viver menos. Uma mãe, também professora (sic.) de escola pública, foi até a direção da escola denunciar o tipo "de doutrinação esquerdista" que ele estava fazendo. Uma verdadeira lavagem cerebral contra o seu filho. A escola o demitiu. 

Neste período eleitoral, muitos professores votarão em Bolsonaro, atestando uma completa falta de sintonia com a responsabilidade docente. O plano de governo do candidato do PSL para a educação traz uma série de propostas genéricas e vazias de conteúdo. É importante denunciar que se trata de um retrocesso. Por exemplo, a construção de uma escola militar em cada capital do país, como se isso melhorasse por si mesmo a qualidade da educação no Brasil; ou incentivar a educação à distância ainda na educação básica, algo proibido pela atual LDB. Segundo o plano de governo do candidato do PSL, o estado brasileiro gasta imensamente com ensino superior. Por isso, é necessário reverter esses investimentos. Ou seja, o que se busca é colocar o país numa "idade média pedagógica". 

O que se nota no plano de governo do candidato que lidera as pesquisas até agora é que há uma tentativa de monitorar a educação e os professores. O objetivo é cercear os professores, extraindo a possibilidade de qualquer conteúdo crítico da educação escolar. Com isso, agravar-se-á ainda mais o problema da educação nacional. O país precisa abandonar uma educação voltada para o decoreba e estabelecer um currículo em que disciplinas como história, arte, filosofia, sociologia, literatura, sejam valorizadas a fim de propiciar uma intersecção com as outras disciplinas - matemática, português, química etc - para permitir que os alunos agucem a capacidade analítica. A perspectiva bolsonarística é mediocremente empobrecedora por não levar em conta a problemática da educação pública. 

Quando Paulo Freire dizia que "a educação é ato político", ele apontava que a educação é feita por sujeitos ativos; por pessoas que se reconhecem como sujeitos históricos, pois não existe uma educação neutra. Em sua intencionalidade, ela ajuda a elucidar, permitindo que se construa uma alternativa crítica e criadora; ou aquela perspectiva que apenas aceita, que se resigna diante das estruturas opressoras do mundo, sem fomentar nos sujeitos aprendentes uma generosidade humanizadora. 

Por isso, não diga para mim "feliz dia dos professores", se você aprova um projeto que aniquila a educação e o papel dos professores. Isso apenas revela incoerência. Não se ajuda a construir uma sociedade solidária com projetos autoritários e excludentes. 


domingo, outubro 14, 2018

Cristo denunciou a indiferença, a presunção ressentida e o ódio dos religiosos

Sempre fui um admirador dos grandes sujeitos que foram modelos para a humanidade. Que refletiram como podemos nos tornar humanos mais responsáveis e conhecedores daquilo que somos. Por isso, admiro Sócrates, Confúncio, Buda, Gandhi, Nietzsche, Martin Luther King, São Francisco de Assis, Rubem Alves, Jesus Cristo. 

Cristo, por exemplo, é para mim a quintessência desse mergulho, desse desafio, dessa jornada à procura de uma humanidade que considere o outro. Cristo estabelece uma nova justiça, uma nova ética, uma nova filosofia fundamentada no amor. Ao lermos os quatro evangelhos, não encontramos sistematização de uma doutrina; a dogmática encapsuladora e reducionista dos cristãos atuais. Cristo sempre fugiu dos modelos prontos, criminalizadores, presunçosos, que colocam a aparência acima da essência. Sua única preocupação era: o "eu" só pode está pacificado com o Deus, se ele levar em conta o "tu".

Há inúmeras passagens em que o encontramos ao lado de pessoas que eram tidas como proscritos sociais - prostitutas, cobradores de impostos, glutões, beberrões. Sua fala desmontava os ressentimentos, as compreensões estúpidas de uma religiosidade pouco produtiva, que pouco considerava o ser humano em sua integridade, em sua dignidade. O ódio é o alimento do arrogante, daquele que está cheio de si, que deposita no coração o preconceito separador, assassino.

As eleições deste ano têm me ajudado a consolidar um entendimento: mais Cristo e menos religiosidade. Em determinada passagem do livro de Mateus, Cristo diz algo que acende uma alerta em mim: a mesa de Cristo é mais ampla, larga e inclusiva do que a mesa proposta pela religiosidade obtusa e preconceituosa. Ao ouvir a confissão de fé de um centurião romano, um pária religioso, que não fazia parte da "igreja institucionalizada", conforme o entendimento dos judeus, encontramos uma preciosa lição. "Digo-vos que muitos virão Ocidente e do Oriente e do e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus". (Mateus. 8.11). Ele estava explicando o quanto a sua presença tirava dos religiosos judeus a primazia do monopólio da fé.

Sempre que encontramos Cristo em um embate nos evangelhos é por causa da religião que ajuda na reprodução do status quo. A fé oficial é cristalizadora, pouco dada ao questionamento, pouco dada à indignação. Não entende que "o homem não foi feito por causa do sábado, mas que o sábado foi feito por causa do homem" (Marcos 2.27). Que o homem e suas necessidades (sejam elas materiais ou existenciais) estão acima de quaisquer realidades.


Há um outro episódio curioso no livro de João, que mostra a impetuosidade de Pedro. Naquele episódio, o famoso apóstolo entedia que a violência, a truculência, a irracionalidade, resolveriam o problema. Os soldados se aproximavam para prender Jesus. Pedro, que representava o voluntarismo, usou a espada afoitamente e cortou a orelha de Malco, um dos auxiliares do sumo sacerdote. Jesus profere a seguinte frase, que encontramos em Mateus: "Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão". (Mt 26.47-56; Jo 18.1-11). Jesus é amoroso e sábio até mesmo nas situações extremas. Para Jesus, soldado romano bom, não era soldado romano morto. Jesus não era um belicista. Sua revolução acontecia/acontece primeiramente no coração. Os olhos são o espelho da alma.  Os que têm fome e sede de justiça serão saciados, pelo fato de o reino de Deus acontecer primeiro como uma força que modifica o olhar, o coração e a caminhada. 

 A violência está do lado do ressentido e este nunca foi o lugar de Cristo. No episódio em que Cristo fala que "o homem não foi feito por causa do sábado", vemos que os líderes religiosos mais ilustres da época, os fariseus, "conspiravam contra ele, sobre como lhe tirariam a vida". (Mateus 12.14). A justiça sempre será perseguida. A bondade, em alguns momentos, será tida como medida antiquada. O amor não é uma força sempre aquecida. Ele pode esfriar. Ser tido como um gesto desnecessário, piegas. 

Gandhi costumava dizer que se os homens lessem o Sermão do Monte, o mundo seria um lugar diferente. Pois é justamente nesses poucos capítulos do Novo Testamento, que encontramos o a contracultura, a práxis evangélica transformadora. Abaixo, seguem algumas excertos da "verdadeira" mensagem cristã. 

"E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa".


Mateus 5:1-11


"Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus".


Mateus 5:38-48

"A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz;
Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!"


Mateus 6:22,23

"Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.
Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.
Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis".


Mateus 7:16-20
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

Mateus 5:38-48


Diante de tantos discursos confusos, encharcados de indiferença, não consigo entender como uma pessoa que se diz cristã, comungue com um discurso de ódio e violência, leia as passagens acima e não faça uma leitura de sua fé. Fé não deve ser entendida como penduricalho eclesiástico, como mera participação em um grupo que pouco contribui para uma relevância social. É pouco frutífera essa disposição conservadora, cristalizada em costumes. A teologia de Cristo era viva, irradiava das necessidades diárias daqueles que se encontravam com Ele. 

A escolha pela realidade duvidosa, por aquilo que assume uma feição de duplicidade, não é cristã. Jesus disse que não se pode servir a dois senhores (Mateus 6.24). Paulo escrevendo aos cristãos em Tessalônica, aconselhou: "Fugi de toda aparência do mal". (1 Tessalonicenses 5.22). Por isso, é-me estranho alguém que se diga cristã, fazer a opção por um discurso destoante da mensagem de Cristo. O amar a Deus só faz sentido, quando se ama o próximo. Ou seja, alguém que olha o céu, necessariamente, precisa voltar o olhar para a terra e assumir uma posição ao lado da paz e da justiça. 

Os judeus esqueceram essa mensagem. Passaram a viver uma religiosidade inócua, que mira o vazio, sem prestar atenção no seu semelhante. Diante de muitos cristãos que se deixam seduzir por um discurso de ódio e indiferença, a minha observação é de que Cristo está correto, e eles, equivocados. 

A recusa ao debate - por Luis Felipe Miguel

Andando por Brasília, identificado como eleitor de Haddad, cruzo volta e meia com os defensores do Coiso. Seus olhares às vezes são de espanto, espanto por alguém ter a coragem de se manifestar à esquerda. Mas em geral são de desprezo e ódio.

Alguns andam com a camiseta verde e amarela com a inscrição "Meu partido é o Brasil". Eles provavelmente nem sabem, mas estão fazendo uma profissão de fé fascista. Se o partido deles é o Brasil, qualquer outro partido será contra o Brasil. A dissensão vira traição, a discordância fica interdita. Não há espaço para a democracia - cujo "gesto inaugural", de acordo com a bela fórmula de Claude Lefort, "é o reconhecimento da legitimidade do conflito".

Discursos políticos de vários matizes costumam evocar uma harmonia perdida, que seria preciso restaurar, mas a exacerbação desse traço no bolsonarismo é claramente uma opção autoritária. Descende das afirmações tão repetidas de que "o PT criou a luta de classe no Brasil" ou "o PT jogou negros contra brancos no Brasil" (assim como as feministas jogam mulheres contra homens etc.). O conflito não nasce da organização social e das formas de exploração e dominação que ela engendra, mas da ação deliberada de agentes nefastos.

Com isso, as estruturas de exploração e dominação são protegidas, já que a culpa da divisão social não é delas, mas de quem as denuncia. A camisa da seleção, que inspira a camiseta "Meu partido é o Brasil" e é adotada ela própria por muitos bolsonarianos, é um símbolo inconscientemente poderoso. Todos torcemos juntos. Mas quem ganha são os cartolas corruptos da CBF.

Quando não é a camiseta amarela, é a camiseta preta, cuja estética é inegavelmente fascista, muitas vezes adornada com desenhos de rifles. Uma delas, entre as que vi, trazia a caveira do Punisher, "herói" da Marvel dedicado a assassinar aqueles que ele julga que são bandidos. A intimidação e a violência são assumidas como soluções - sem disfarce, sem rodeios.

É claro que Bolsonaro não quer ir aos debates. Não é por recomendação médica. Não é nem mesmo por estratégia política, como ele disse outro dia. É por princípio. A posição que ele encarna tem como um de seus elementos básicos a recusa do debate político.

Via Facebook

quarta-feira, outubro 10, 2018

Uma quase carta

Boa noite, ...!

            Você perguntou pelo meu filho, o Bernardo, e eu não respondi. Ele está bem! No próximo sábado, dia 13, completará um mês. Este primeiro mês foi bastante difícil. Muitas adaptações – para ele e, principalmente, para mim e para a Liana. Mas, estamos indo. Acredito que o pior já passou. Ele chegou a ficar dez dias internado. Estava com uma dificuldade inicial em mamar. Aprendeu, entretanto, e agora o rapaz está crescendo e ganhando peso. 

            Foi colocado por você que não deseja “discutir política”. Entretanto, não há como tentar estabelecer um colóquio sem que o tema não venha à tona. Vou tentar colocar em tópicos para facilitar a compreensão. Claro, tudo aquilo que eu colocar aqui, é resultado de minha percepção – e, principalmente, de minhas limitações. Respeito o seu ponto de vista. O grande desafio da democracia é justamente o convívio, a relação na diversidade.

(1)  Por que o ódio PT?

O PT é um partido que surgiu dos movimentos populares. Possui uma história, pois. Nos quase quarenta anos de sua história, sempre foi alvo de muita polêmica. O partido conseguiu construir uma base bastante forte. Durante muito tempo, milhões de brasileiros desejaram que o PT chegasse ao poder máximo do país, a Presidência da República. A primeira tentativa se deu no ano de 1989. Na ocasião, Lula perdeu a eleição para Fernando Collor. Houve duas outras tentativas – 1994 e 1998 – com duas outras derrotas. Em 2002, após todo um período de desengano e melancolia política com o governo do PSDB, o PT chegou ao poder. Acontece uma repaginação do partido. Lula assumiu um discurso mais econômico e pacífico. Para governar, fez aliança com uma quantidade considerável de partidos. Formou um governo de coalizão. Distribuiu cargos aos aliados como uma contraprestação política. 

            Em 2005, ocorre o primeiro escândalo, o do Mensalão, como ficou conhecido. O governo foi colocado contra a parede. Todavia, Lula foi reeleito em 2006. No segundo mandato, o governo petista conseguiu seu melhor momento.  O país cresceu. A economia decolou. Os trabalhadores passaram a perceber um cenário positivo. Lula saiu do governo em 2010, com mais de 80% de aprovação, um feito realmente extraordinário. Tanto é assim, que ele conseguiu colocar a Dilma no seu lugar. Ela começou bem. Até 2012, tinha índices de aprovação acima dos 60%. A partir de 2013, as coisas começaram a perder o compasso. Com as manifestações de julho daquela ano, o governo passou para o campo defensivo. 

            A mídia passou a veicular sistematicamente reportagens que associavam o governo à corrupção. Todos os problemas do país foram direcionados ao PT. Em 2012, surge a Operação Lava Jato, que, segundo seus capituladores, é uma operação apartidária. Mas, notou-se um objetivo: as figuras do PT, tendo no seu principal nome, Lula, a seta direcionada. Observe-se que o partido que tinha/tem o maior número de nomes implicados na operação é o PP, mas ficou a noção de que era o PT. Associaram o nome do PT como de um partido corrupto, de ladrões. 

            Ora, a repetição de uma sentença e a aplicação do significado dessa sentença como sendo a verdade, passa a ter efeitos extraordinários. Isso já aconteceu em alguns momentos da história. O exemplo mais claro é o que Hitler fez com os judeus durante a Segunda Guerra. Naquele contexto, a Alemanha estava esfacelada por causa da Primeira Guerra e o Tratado de Versalhes. Havia crise, fome, desemprego; caos econômico, incertezas, medo. O astuto Hitler entendeu que nesses momentos você precisa criar uma narrativa e direcioná-la para um alvo. Hitler direcionou o seu discurso para as minorias - ciganos, comunistas, judeus, homossexuais, etc. É a lógica do “nós”, os injustiçados e sofredores e, “eles, os algozes, os autores de nossa crise. 

            Em 2014, a reeleição agravou a crise, pois, a partir dali, houve uma militância severa contra o PT. A destituição de Dilma, em 2016, foi outro momento complexo. Vale lembrar que 2016 foi o ano dos panelaços. Havia uma mesma fala que ia das crianças de colo aos anciãos: de que o PT era um partido de corruptos e ladrões. O Jornal Nacional, por exemplo, colocava reportagens de uma hora contra o partido, conectando a imagem do partido à corrupção. Era como se não houvesse nada de bom no PT. Nesse ínterim, chega ao poder Michel Temer, uma figura que não conseguiu nenhuma legitimidade: (1) por ter o seu governo associado a um impeachment duvidoso. Ficou claro que se tratou de um golpe, apesar de ter seguido o fluxo constitucional. A Constituição foi apenas um objeto que vestiu o feito de legalidade. Observe que os cristãos queimaram pessoas na Idade Média usando a Bíblia; ou que a mesma Bíblia foi usada para legitimar a superioridade de brancos sobre negros nos Estados Unidos. E, nem por isso, esses acontecimentos podem se dizer cristãos. Da mesma forma, o impeachment seguiu o rito constitucional, mas não havia base constitucional por não haver crime de responsabilidade. (2) destituíram a Dilma com a alegação de que era preciso acabar com a corrupção, todavia, os escândalos de corrupção continuaram a existir. Havia indícios claros de que o governo Temer era bem pior do que aquele suposto governo corrupto do PT. A mídia foi até complacente com Temer. Não houve um bombardeio como houve com o PT. Vemos, assim, a seletividade da mídia brasileira. 

            Vale mencionar que o trabalho da mídia serviu para esvaziar o debate político. Tanto a mídia como as figuras do Judiciário trabalharam para criminalizar a política. O cidadão comum não via mais motivos para acreditar na política e nos políticos. A boa política, aquela que estabelece o debate, que discute ideias, foi varrida do mapa. A sociedade não conseguiu mais dinamizá-la. O cenário era de completa feiura. De repente, passamos a enfrentar a crise econômica que agravou ainda mais o cenário. A política foi contaminada. Jogou-se toda a culpa no colo do PT.  Ora, raciocinemos, se o governo do país estava nas mãos do PT e todos os escândalos estavam associados ao PT, é natural que o ódio tenha um direcionamento. Atualmente, as pessoas não querem nem ouvir falar no nome do partido. Associam-no ao que de mais deplorável há no país; que estamos nessa situação de crise econômica, política e moral por causa do partido. 

(2) A quem interessava a saída do PT?

Some-se a isso que o PT foi tolerado pelas elites do poder, enquanto foi conveniente. A sociedade brasileira sempre foi adepta de teorias conspiratórias. Sempre houve “a crendice” de que há uma iminente ameaça de invasão comunista. Essa foi uma das desculpas utilizadas para sustentar a Ditadura Militar. De tempos em tempos isso acontece. Em momentos de crises, quando o medo, a insegurança, passam a funcionar como motores, esse fantasma aparece.  

Para princípio de conversa, o PT não é um partido socialista ou comunista. Ele é, no máximo, um partido com ideias que assentam numa preocupação com causas sociais por causa de sua origem. Isso é verdade pelo fato de o partido ter ficado treze anos no poder, sem que o Brasil tenha se transformado numa Coreia do Norte. Muito pelo contrário, foi um período de forte lucro para os capitalistas. A saída do PT foi desejada pelos grupos que mandam no país. Não se aceitou o resultado das urnas em 2014. O povo escolheu, mas o que é um povo, em um país em que o regime democrático é apenas um detalhe? Queriam apenas continuar lucrando facilmente sem que houvesse qualquer empecilho, qualquer muro, obstáculo.

(3) O PT é inocente?

            Certamente, que essa resposta é “não”. Ao fazer um governo de coalizão, o partido se abriu para as negociatas. Nomeou gente de todo tipo. Essas alianças fugiram ao controle do partido. Fazer política não é um negócio fácil. Exige exposição. Conversa. Diálogo. Exige que se sente com adversários pouco lisonjeáveis. Com figuras interesseiras. Com pessoas que não possuem compromisso ético; que desejam apenas benefício, sem qualquer preocupação ética. Enquanto era oposição, partido possuía um discurso. Com a ida para a situação, teve que refrear o discurso. 

             Vale mencionar, que em nome da governabilidade, o partido se expôs de maneira não detida. Não mediu consequências. Associou-se com o que há de pior na política brasileira e foram essas alianças que contaminaram o partido. É preciso que ele faça uma mea culpa, uma espécie de exame de consciência. 

(4) Por que não voto em Bolsonaro ou por que ele seria “um mau presidente”? 

            Primeiro é importante dizer que, com relação ao futuro, nós precisamos resgatar os fatos do passado. É nesse paradoxo que podemos conjecturar ou fazer análises.
            Bolsonaro já mostrou ao longo de sua história que é uma figura uma tanto quanto duvidosa. É um “politiqueiro” de carteirinha, daqueles que fazem carreira na política, sem qualquer compromisso com o país. Ao longo dos seus 28 anos no Congresso, possui um péssimo repertório de contribuições ao povo que paga o seu salário. Sempre que a imagem dele vem à minha mente, comparo-o ao Golum, aquele personagem do Senhor dos Anéis, uma criatura medíocre que foi enfeitiçada pelo poder e se tornou um ser digno de pena, completamente desumanizado. Ao longo de gerações, a triste e bizarra criatura viveu escondida no ventre de cavernas afastadas, alimentando-se de comida crua, vivendo única e exclusivamente para o anel que o enfeitiçava e transformava a sua personalidade cada vez mais despersonalizada. Penso que há uma relação muito curiosa entre essa imagem e a do candidato do PSL. Ele ficou durante muito tempo escondido, alimentando-se do poder. Colocou os seus filhos na política. De modo que aqueles que o comparam a um exemplo na política, talvez se esqueçam de que ele se assemelha a qualquer dessas oligarquias familiares – Sarneys, Barbalhos, Maias, Magalhães, Calheiros etc. E outra: Bolsonaro não seria ninguém se o país passasse por um momento de tranquilidade democrática. Ele se alimenta da crise e sabe isso.

            Saindo do campo da literatura e entrando no chão da história, é preciso afirmar que Bolsonaro é uma figura que construiu a sua carreira na política colecionando bravatas. Ele representa o valentão. Aquele que não tem medo de nada. O machão. Aquele sujeito destemido, masculinizado, e que ajuda a criar um imaginário beligerante na cabeça do brasileiro médio que convive com a ineficácia da justiça e com os escancarados escândalos de corrupção. Há no brasileiro médio um desejo de fazer justiça com as próprias mãos pelo fato de a justiça do Estado não fazê-lo. Afinal, ele grita muito porque não tem ideias. Literalmente, ele ganha no grito. Sempre colecionou polêmicas, pelo fato de ter uma inteligência (quando me refiro a inteligência, faço-o em sentido lato – emocional, política etc) questionável. Nota-se o seu completo despreparo. 

            Mas por que ele faz tanto sucesso, por que ele é uma unanimidade? (a) como falei acima, estamos em um momento de desalento, de completa descrença na política ou “na velha política”. As pessoas enxergam nele, a solução amarga para um crise que parece que não tem fim. (b) A crise econômica levou muitos brasileiros a desejarem uma mudança. Aquele modelo, entendem, defendido pelos governos anteriores não serve mais. Deseja-se que haja privatizações; que o Estado “diminua” (uma palavra que encerra alguns sentidos velados); o mercado assuma a dianteira do país. (c) os escândalos de corrupção revelaram uma face intolerável. Sendo assim, é preciso que surja alguém para colocar ordem “na casa”. Como Bolsonaro sempre vocalizou um discurso radical, histriônico, direto, viram nele a possibilidade de ele ser essa mudança. Se há violência, ele diz que o “cidadão de bem” não deve ficar na defensiva, mas partir para cima do ladrão. Que é preciso colocar armas na mão da população para que ela se defenda, confundido de maneira perigosa o que é segurança pública. É preciso diferenciar o que é a microviolência e a macroviolência. 

Sendo assim, é preciso chamar a atenção para algumas questões:

(a) Ao se escolher Bolsonaro, escolhe-se um candidato que já sinalizou ter pouca preocupação com o estado democrático de direitos. Um dos fundamentos do estado democrático são garantias dirigidas ao cidadão, radicadas no conceito de direitos humanos. É preciso considerar que todo ser humano é dotado de direitos e de garantias básicas – direito a vida, respeito à sua condição etc. Em um estado democrático, o fundamento que sustenta essa delicada teia é o respeito à singularidade do outro. Temos visto que algumas pessoas têm se sentido legitimadas, por causa do discurso ódio, a fazerem a coisas mais perigosas para o nosso equilíbrio social. Eu não voto em um candidato que diz que “bandido bom é bandido morto”. O bandido deve ser punido pela lei e não por mim. O Estado é a entidade que possui legitimidade para encabeçar juridicamente esse pleito.  Eu não voto em um candidato que vai ao estado do Acre e diz em um comício de forma irresponsável que era preciso “metralhar toda a petralhada do país”. Numa democracia, há limites para a minha fala. Nenhum direito é absoluto. O maior perigo é o efeito que isso causa nas massas. Isso pode ser visto, por exemplo, no filme “A onda”. Se não viu, veja-o e perceba o quanto determinados movimentos possuem um poder de coerção sobre as individualidades. Eu não voto em um candidato que afirma “que não estupra” determinada mulher, pelo fato de ele não merecer ser estuprada. Então há mulheres que merecem ser estupradas? Eu não voto em um candidato que afirma que teve “quatro filhos”, mas deu uma fraquejada e acabou vindo “uma mulher”. Eu não voto em um candidato que, quando perguntado sobre o que diria caso um dos seus filhos namorasse uma mulher negra e ele responde sem perturbações: “Eu eduquei muito bem os meus filhos”. 

(b) Bolsonaro é fruto de um momento. Assim foi também com Collor. Em 1989, aconteceu da mesma forma. Apareceu um jovem com uma linguagem sedutora, descolando-se “da velha política”. Dizia ele que acabaria com a corrupção, que caçaria “os marajás”. Que era preciso sumir com a bandeira “vermelha” do PT. Que a bandeira do país era “verde”, “amarela”, “branca” e “azul”. Seu partido inexpressivo, o PRN, elegeu mais de quarenta deputados o PSL elegeu 52, no último domino, um partido que elegera apenas um deputado em 2014. Collor foi um sucesso completo. Tratava-se de um jovem visionário, esportista, bonito, que falava bem, que possuía um discurso que sequestrou o coração da classe média. Todavia, suas medidas desastradas trouxeram grandes prejuízos para o país. A primeira medida econômica, quando assumiu, foi o confisco das poupanças. As pessoas não acreditaram. Na campanha, prometeu acabar com a inflação, mas, ao deixar o país, a inflação estava em mais de 1.200% ao ano. E o mais estarrecedor: o seu governo era alimentado com propinas, como ficou constatado naquilo que ficou conhecido como “Esquema PC”. Ou seja, esses eventos com figuras messiânicas e caricatas sempre redundam em desengano. 

(c) Do ponto de vista econômico, penso que mergulharemos o país numa crise medonha, trazendo consequências danosas para os mais pobres. Temos como “posto Ipiranga” no seu governo a figura de um banqueiro chamado Paulo Guedes, uma figura bastante controversa – assim como tivemos Zélia Cardoso de Melo durante o governo Collor. Muitas pessoas pensam que gerir um país é a mesma coisa que gerir uma empresa. Um país é diverso. Possui demandas mais complexas. Há pessoas necessitadas, pobres, que precisam de políticas públicas do Estado para terem uma dignidade mínima. Por exemplo, a maioria dos brasileiros não tem dinheiro para pagar saúde privada. A solução não é a privatização da saúde. Como se resolve a demanda da saúde? Investindo em saúde pública de qualidade. Como se resolve o problema da educação? Oferecendo uma educação de qualidade, com professores bem preparados e motivados. O grande problema desses economistas de mercado, como Paulo Guedes é que, para eles, os pobres, os desvalidos, aqueles que estão abaixo da linha de pobreza, não aparecem no orçamento. Eles se erguerão sozinhos, entendem. Bolsonaro e Paulo Guedes afirmaram que vão privatizar e fazer reformas que, certamente, vão acentuar as desigualdades nesse país. Eu, por exemplo, venho de uma família de pessoas humildes. Fiz o curso de Letras graças ao Prouni, criado pelo governo do PT. Estou empregado e exercendo a profissão de professor. E foi assim com milhões de pessoas que tiveram as suas vidas melhoradas. Graciliano Ramos diz “Memórias do Cárcere” que “quem dormiu no chão jamais deve esquecer essa experiência”. Eu já “dormi no chão” – tanto em sentido denotativo quanto em sentido conotativo – e não esqueço essa experiência. Sei de onde venho e entendo que é com políticas sociais sérias que a vida das pessoas passa por uma transformação. 

            É só raciocinar: se o sujeito já deixou claro que não tem nenhum compromisso com as palavras, que a sua personalidade é autoritária, que não possui nenhum autocontrole, quem prova que ele não jogará o país em um caos? 

Não peço para que você vote no PT, mas para que faça uma consideração profunda. O que está em jogo é o futuro da democracia no Brasil. Ela foi conquistada com muito esforço. Pessoas morreram, foram torturadas. A Constituição que temos trouxe uma série de avanços para o nosso país. É preciso respeitá-la. Defendê-la. Aqueles que amam o país precisam resistir. Não se muda um país com bravatas e falas autoritárias. É preciso que haja diálogo. Concessões. Esse é o grande desafio da democracia. É preciso respeitar o diferente e não impor a sua vontade à força.