segunda-feira, outubro 15, 2018

Não diga para mim "feliz dia dos professores", se você aprova um projeto que aniquila a educação e o papel dos professores

Uma das frases mais contundentes de Paulo Freire, entre as tantas proferidas pela boniteza de sua sabedoria, é a de que a "educação é um ato político". Hoje, dia 15 de outubro, é comemorado o dia do professor. É uma data que possui um sabor adstringente; que chega a por um travo, um leve e perceptível sabor amargo na boca. 

(1) Ser professor é uma das mais nobres profissões. Quando afirmo isso, não quero patinar em um lugar comum. Afirmo uma obviedade pela verdade que a afirmação encerra. O destino de um país, necessariamente, passa pelo nível dos professores que possui. Eles são um dos principais contribuidores à formação das novas gerações. Possuem uma importância política, econômica e cultural. Um professor mal preparado deixa marcas profundas em seus alunos; mas, o contrário, também é verdade: um professor sábio, rico em carisma e sensibilidade é capaz de despertar os mais necessários sentimentos que tornam um sujeito responsável e crédulo no ser humano. Em sociedades amadurecidas, os professores possuem um lugar de destaque. São respeitados; bem remunerados. Tidos como heróis. 

(2) Por sua vez, o momento político que vivemos reserva enormes dificuldades para os professores. Há uma hostilidade contra os professores. O famigerado Escola sem partido traz uma agenda policialesca contra os professores. Debater criticamente qualquer assunto, demonstrando os pontos de vista sobre determinado assunto, pode ser entendido como "doutrinação". Um exemplo se deu com meu irmão, professor de história de determinada escola. Ele resolveu trabalhar O atlas da violência, divulgado este ano pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Neste documento oficial, produzido por pesquisadores do Brasil inteiro, que trabalharam com informações empíricas, fica constatado que os negros são as principais vítimas da violência - entre tantas outras violências existentes contra mulheres, gays, índios etc. Que nascer negro no Brasil - e numa periferia - já condena qualquer sujeito potencialmente a um fatalidade - viver menos. Uma mãe, também professora (sic.) de escola pública, foi até a direção da escola denunciar o tipo "de doutrinação esquerdista" que ele estava fazendo. Uma verdadeira lavagem cerebral contra o seu filho. A escola o demitiu. 

Neste período eleitoral, muitos professores votarão em Bolsonaro, atestando uma completa falta de sintonia com a responsabilidade docente. O plano de governo do candidato do PSL para a educação traz uma série de propostas genéricas e vazias de conteúdo. É importante denunciar que se trata de um retrocesso. Por exemplo, a construção de uma escola militar em cada capital do país, como se isso melhorasse por si mesmo a qualidade da educação no Brasil; ou incentivar a educação à distância ainda na educação básica, algo proibido pela atual LDB. Segundo o plano de governo do candidato do PSL, o estado brasileiro gasta imensamente com ensino superior. Por isso, é necessário reverter esses investimentos. Ou seja, o que se busca é colocar o país numa "idade média pedagógica". 

O que se nota no plano de governo do candidato que lidera as pesquisas até agora é que há uma tentativa de monitorar a educação e os professores. O objetivo é cercear os professores, extraindo a possibilidade de qualquer conteúdo crítico da educação escolar. Com isso, agravar-se-á ainda mais o problema da educação nacional. O país precisa abandonar uma educação voltada para o decoreba e estabelecer um currículo em que disciplinas como história, arte, filosofia, sociologia, literatura, sejam valorizadas a fim de propiciar uma intersecção com as outras disciplinas - matemática, português, química etc - para permitir que os alunos agucem a capacidade analítica. A perspectiva bolsonarística é mediocremente empobrecedora por não levar em conta a problemática da educação pública. 

Quando Paulo Freire dizia que "a educação é ato político", ele apontava que a educação é feita por sujeitos ativos; por pessoas que se reconhecem como sujeitos históricos, pois não existe uma educação neutra. Em sua intencionalidade, ela ajuda a elucidar, permitindo que se construa uma alternativa crítica e criadora; ou aquela perspectiva que apenas aceita, que se resigna diante das estruturas opressoras do mundo, sem fomentar nos sujeitos aprendentes uma generosidade humanizadora. 

Por isso, não diga para mim "feliz dia dos professores", se você aprova um projeto que aniquila a educação e o papel dos professores. Isso apenas revela incoerência. Não se ajuda a construir uma sociedade solidária com projetos autoritários e excludentes. 


Um comentário:

Liovânio disse...

Escola militar tem uma unica vantagem, incentivo por meio de diciplina, digo, só vão para escola militares quem quer diciplina (voluntariamente);
Nos EUA eles observam crianças desde a pré escola e aqui você tem tudo e mais um pouco para se afastar da escola.