quinta-feira, dezembro 03, 2015

Meu desalento e o momento político

Após alguns meses de ausência, eis que volto a este espaço para debulhar algumas garatujas e sensaborias. Ontem, no princípio da noite, após ter ido a uma confraternização, recebi uma atualização no meu celular sobre o pedido deflagrador do impedimento político de Dilma por parte de Eduardo Cunha. Aquela notícia - também comentada por dois ou três circunstantes da mesa - me deixou com uma preocupação imprecisa, um misto de ânsia e afetamento moral. 

Vivemos dias tão estranhos, que nivelamos todas as invirtudes. Misturamos o alto e o pequeno; o dia e a noite e dizemos que não há diferenças nítidas entre eles. O governo de Dilma Rousseff tem sofrido aberrantes ataques. Uma horda de abutres políticos arranca pedaços do já desfalecido organismo tombado e transmite esses vapores venenosos para a sociedade. O corpo sem reação sofre golpes por todos os lados e, por mais que tente se erguer, não dispõe de forças suficientes para tal. Suas investidas são confusas. Associam-se ao incerto, acumpliciam-se com o duvidoso, o que torna a visão potencializadora de melancolia e desespero.

Quando cheguei à noite, conversei com a minha companheira e declarei o meu abatimento. Relatei o meu desalento em viver em um país onde a democracia é só um nome de fachada, pois o que prevalece é a negociata, a mão que entrega o maço de dinheiro por debaixo da mesa. Um país cujo processo de participação popular é quase inexistente, cujo colóquio com as massas é uma realidade virtual; país cujo ethos do colonialismo ainda está fincado em nossa consciência, insinuando-se como mensagem subliminar, impedindo avanços, freando qualquer tentativa de partida. A história tem mostrado que caminhamos cinco anos e retrocedemos trinta.

É triste viver em um país, em que desde a Proclamação da República (1889), seis ou sete golpes da burguesia aconteceram trazendo implicações medonhas para o nosso ralo formato democrático. E a essa altura do campeonato, uma presidenta legitimamente eleita pelo povo (mais de 54 milhões de votos) tem à sua frente um horizonte nebuloso e espectral. E quais são as consequências disso para os trabalhadores?

É triste viver em um país em que as elites detentoras dos meios de comunicação constroem uma cortina de fumaça para que o povo não enxergue, de fato, os bastidores da República: o jogo sujo, de interesses velados e explícitos; o lobbysmo dos mau-caráter, o discurso ambíguo dos moralistas, o fascismo dos interesses anti-humanitários, o atentado contra as minorias, o derretimento dos valores fundamentais expressos na Constituição. 

E o que causa um profundo enfado é saber que o start, o disparo contra a presidente foi dado por uma crápula, uma pulha, um sujeito sem moral, cujo deus a quem serve, no dizer de Cristo, é mamon (o deus dinheiro). Um falsário, um pilantra de quinta categoria, que visualiza apenas o próprios interesses e está pouco preocupado com o destino político e econômico do país. O senhor Cunha faz parte de uma sigla partidária que tem apenas uma ideologia: o poder. Sua existência de inseto se assemelha a de um carrapato, que para existir, gruda-se a algum organismo e chupar-lhe o sangue. O organismo o qual o PMDB parasita é o Estado. O partido do senhor Cunha (juntamente com ele e seus asseclas) atenta contra o Brasil. Nele estão empresários, sujeitos encalhados, decadentes politicamente, analfabetos de toda estirpe, cujo interesse é o poder a consequência dele: o dinheiro do erário. 

Penso que o problema do partido da presidente foi fazer aliança com essa canalha. Negociar com "pirata" é correr o risco de ser traído. O erro do Partido dos Trabalhadores foi escolher o outro lado; fortalecer as elites; entrar em um jogo em que a moralidade é um princípio desconhecido. Fortalecer as hostes do "achacadores" da República. Tivesse dialogado com os movimentos sociais, fortalecido a sua militância de base, buscado a força dos trabalhadores, talvez, não estivesse sendo balançado por ventos tão medonhos. O Governo alimentou um monstro e, hoje, tenta controlá-lo com plumas de ganso. 

Aqueles que acham que pior do que está não fica, podem está enganados. Pensar que tirar Dilma "estabiliza" a casa é ter uma visão "pequena" sobre os fatos. É ser simplista. Dilma com todas as fragilidades, é o melhor que temos "no momento" a favor dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Sua fraqueza se materializa em um fato, por conta da opinião pública. Ela apanha por está sendo esmagada pelo abraço de serpente da mídia. Sem força, ela vacila e claudica. Não governando Dilma, quem se colocaria no lugar dela? Em linha sucessória direta de acordo com a Consituição: Temer, Cunha, Renan, Lewandowsky? Em um outro pleito: Aécio? Ora, não sejamos inconsequentes!

A tristeza subiu leve por escadas invisíveis e chegou até o meu coração. Acordar todos os dias. Trabalhar. Ver a soma de descontos no seu contra-cheque. Construir discursos. Acreditar em melhores dias. Fazer militância. Defender os seus ideias. Entender que está do lado do oprimido é está do lado certo. Todavia, perceber que as instituições políticas do seu país militam contra o seus sonhos, a saber,  de ver um país mais justo, fraterno e com seguridade social plenos, deixa o sujeito zonzo, como se tivesse levado uma pancada no crânio. É assim que me sinto!