quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Ir e Vir

Carrego em meu espaço interior
Os silêncios dispersos das galáxias universais.
Em mim Há o silêncio das catedrais
Distantes, perdidas sob o signo do tempo.
Frestas luminosas por onde escapa
Uma centelha de luminosidade.
Espanto e contemplação.
Medo e alegria a se jungirem.
Nas cavidades e reentrâncias da alma.
Nos espaços mais escondidos
E inacessíveis.
No horizonte que não pode ser atingido,
Senão pela imaginação.
Ausento-me de mim e volto.
Amo e odeio as minhas intenções.
Monstro rutilante, paradoxal.
Derramo luz como o sol,
Mas em mim há buracos negros
E bombas invisíveis que estouram
Sob o potencial de mil megatóns.
Objeto complexo.
De significância insignificante.
Ente cultural.
Eduquei-me com os homens
E aprendi a amar com as estrelas.
Os meus segredos se mostram na minha face.
Sob as pregas do rosto estão escritos livros.
Romances, crônicas e poesias.
Hoje estou para a quietude de mil eras.
Uma música é cantada no istmo
Mais afastado da alma.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Comentário à peça o Judas em sábado de Aleluia de Martins Pena

A peça teatral O Judas em Sábado de Aleluia foi escrita por Martins Pena. Este nasceu em 1.815 no Rio de Janeiro e morreu em Lisboa no ano de 1.848. Martins Pena pode ser considerado como um dos maiores escritores do gênero teatral brasileiro. Com um realismo ingênuo, o autor de O Judas em Sábado de Aleluia, pode ser considerado como o criador no Brasil da comédia de costume, com forte tom popular. Ele é o primeiro autor popular da história do país, pois os seus trabalhos buscam retratar o homem real, com suas ações reais. Dotado de singular veia cômica, soube aproveitar o momento em que se intensificava a criação do teatro romântico brasileiro, que possibilitava tratar das situações e personagens do cotidiano, e mostrou a realidade de um país atrasado e, predominantemente, rural, fazendo a platéia rir de si mesma. Seus textos envolvem, sobretudo, flagrantes da vida brasileira, do campo à cidade. Assim, apresenta com temas principais, os problemas familiares, casamentos, heranças, dotes, dívidas, corrupção, injustiças, festas populares etc. Sua galeria de tipos compreende: funcionários públicos, padres, meirinhos, juízes, malandros, matutos, moças namoradeiras ou sonsas, guardas nacionais, mexeriqueiros, viúvas etc.
A peça O Judas em Sábado de Aleluia trata basicamente de um tema comum esboçado pelos autores românticos: das moças que buscam um noivo para si , bem como um reforço retratista da pequena burguesia: funcionários públicos, militares, etc. A história se desenrola na casa de Pimenta, cabo da guarda-nacional e pai de Maricota e Chiquinha. Estas duas moças, principalmente, Maricota sonham com o casamento. Sonho e desejo comum das jovens solteiras do século XIX. Para isso, resolveu namorar a tantos quanto pudesse. Isso permitiria a ela maiores oportunidades. Conforme ela mesma disse à irmã: "Ora dize-me, quem compra muitos bilhetes de loteria não tem mais probabilidade de tirar a sorte grande do que aquele que só compra um? Não pode do mesmo modo, nessa loteria do casamento, quem tem muitas amantes ter mais probabilidade de tirar um para marido?" Já a sua irmã Chiquinha possuía uma atitude mais sôfrega. Não era dada a requestos tão intensos.
A história avoluma-se ou alcança um ponto inflexivo quando aparece a figura de Faustino à porta da casa para ter com Maricota. Faustino lamentoso, questiona o amor de Maricota por ele e afirma a infelicidade que habita a sua alma inquieta. Maricota diz que o ama. De repente chega o capitão da Guarda Nacional, que é um dos pretensos namorados de Maricota. Faustino assume o disfarce de Judas, que alguns meninos preparam para o Sábado de Aleluia. Portanto, este escuta a fala de Maricota com o capitão. Em seguida, chega ainda o pai de Maricota. Esta corre. Pimenta, o pai das duas donzelas, fica a tratar de negócios com o capitão. Conversam basicamente sobre a situação de indisciplina que anda a Guarda Nacional. Faustino disfarçado de Judas de aleluia escuta a conversa. O capitão retira-se.
Volta à sala a figura de Chiquinha para continuar a coser o seu vestido para a festa de sábado de aleluia. Em dado momento, esta suspira alto e confessa a sua paixão por Faustino. O rapaz deitado, disfarçado no chão, aproxima-se dela e é solidário ao amor da moça. Chiquinha sente-se envergonhada, mas se mostra crédula com a recepção do amor de Faustino. O pai retorna à sala, Chiquinha corre e Faustino se esconde. Pimenta dessa vez traz consigo a figura de Antônio. Os dois especulam sobre um negócio escuso que estão praticando no porto. E temem. Faustino absorve todas estas informações. Os dois homens temem ser descobertos pela polícia. Isso propiciaria um destino infausto. Faustino, deitado, ensaia uma voz que parece ser da polícia. Os dois encolhem-se de medo. Quando à porta bate o capitão. Pimenta e Antônio se atarantam. Finalmente, os três ficam juntos e entendem que algo misterioso se passava no interior daquela casa.
Os meninos que preparavam o Judas entram na sala para malharem-no. Faustino corre. Os presentes à sala se assustam com o espantalho que toma vida. Todos correm. Uns se escondem embaixo da mesa; outro sobe num móvel; outros ainda rolam no chão. Chiquinha não se altera por saber a identidade do espantalho Judas. De repente Faustino volta ao interior da casa ameaçado por algumas crianças que encontra na rua. Temendo a própria vida volta para ter com os que jaziam espantados. Martins Pena deixa transparecer a sua verve cômica nessa cena.
Começa a partir daí a vingança de Faustino. Este se põe no meio daqueles que dantes estavam espantados. O capitão, Antônio, Pimenta e Maricota ameaçam Faustino. Tal ameaça expressa claramente uma ignorância por parte dos personagens, que não têm conhecimento dos segredos adquiridos por Faustino. Este se apropria da fala e se vinga de cada um dos personagens. As suas intenções são manifestadas: Maricota se casa com Antônio (um velho). Suas intenções não graçam, não tomam vida. Ao cabo, Faustino beija o rosto de Pimenta, realizando o ato de Judas, o discípulo de Jesus, que o traiu com um beijo na face. Aqui o personagem ironiza e pede a mão de Chiquinha em casamento.
Na peça fica patente a crítica de Martins Pena à sociedade hipócrita que semeia visões distorcidas daquilo que é em sua interioridade podre. Os costumes visuais ocultam as sujidades reais. Percebe-se a crítica à moral burguesa com os seus desejos e certezas. Fica clara ainda a figura da esperteza de Faustino.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Cinco considerações de Nietzsche sobre a modernidade

A crítica do filosofo residia no fato de que o homem moderno é incapaz de construir um saber e uma cultura como resultado de seu próprio crescimento. Há no mundo ocidental a triste realidade da imitação inconsciente. Copia-se tudo. Trata-se de um plágio limitador. Não há por assim dizer originalidade com relação a esse tocante. A supersaturação de contingentes culturais não enriquece, todavia faz surgir o contrário.
1. Acumulação de saberes estranhos – o homem moderno é um colecionador, um acumulador de conhecimentos sem que estes conhecimentos se tornem um fator de fecundação no próprio homem;
2. Imparcialidade, objetividade ou neutralidade científica – estuda-se fatos que não possuem uma relação direta com o indivíduo. O resultado disto é o bloqueio dos impulsos imediatos. Tais bloqueios inibem a capacidade do indivíduo de construir a sua própria experiência histórica –.
3. Desenraizamento do futuro ou interferência dos instintos vitais de um povo – constrói-se uma rede tênue de convicções sobre o que pode ter sido a experiência de um povo – sem que isso de fato possua concretude histórica. A vida é sacrifica, pois deve buscar se conciliar com um velho saber histórico, que pertenceu a um outro povo.
4. Envelhecimento precoce das novas gerações – as forças jovens são levadas a compreenderem que são as últimas dentro de um processo histórico. Deixam para trás o potencial de levarem a frente a possibilidade de construir o futuro por intermédio de um processo novo.
5. Supersaturação, auto-ironia e cinismo – desejo de romper com a supersaturação histórica, sem contudo permitir a pulverização dos saberes culturais alienígenas. Não é possível que o saber seja destruído de fora. O saber deve lançar o seu próprio aguilhão sobre si mesmo. A História deve resolver o problema da própria história.


Por Carlos Antônio M. Albuquerque

domingo, fevereiro 17, 2008

Vontade de poder

"Não escapará a um olho e a uma sensibilidade mais fina o que talvez constitui o encanto destes escritos, – que aqui um sofredor e um carente fala como se ele não fosse um sofredor e um carente. Aqui é para ser mantido o equilíbrio, a serenidade, até mesmo a gratidão ante a vida, aqui domina uma vontade austera, orgulhosa, constantemente desperta, constantemente sensível, que se impôs a tarefa de defender a vida contra a dor e de quebrar todas as conclusões que costumam crescer da dor, desilusão, tédio, isolamento e outros solos pantanosos feito esponjas venenosas. Talvez isto sirva de sinal aos nossos pessimistas para que se testem a si mesmos? – pois foi naquela época que eu me convenci da proposição: "um sofredor ainda não tem direito ao pessimismo!””

Friedrich Nietzsche

O desejo da superação conduz à vida.
Não deixar se intimidar ante o desafio.
A grandeza é construída por mãos calosas.
Os passos austeros devem se insinuar na estrada.
O não conformismo ante a expectativa medíocre.
Não se queixar, não murmurar, não esmurrar o vento.
Não fechar os olhos mesmo em face do cansaço.
Extirpar os sortilégios;
Os consolos pífios.
Os sabores anômalos de uma consciência agredida.
Não permitir que as meias verdades sejam bússolas
Orientadoras, pois elas fragilizam a sensibilidade.
Caminho em meio aos homens de uma vontade só.
“Poder-se-ia acrescentar a esta lista homens que são
Só braços, homens que são só cérebros, homens
Que são só músculos”, homens que são só homens.
Homens aleijados, limitados pela visão míope que
Foram acostumados a alimentar.
A vida não deve ser negada em momento algum.
Uma fraqueza não é uma desculpa contra a vida.
Criaturas que se acostumaram a andar apenas de
Um lado – homens caranguejos.
Que exageram com assombros deletérios.
Famigeradamente alimentam rancores e ressentimentos
Contra a grandeza.
O ressentimento é uma cola que atrai apenas a incapacidade
Do auto-encontro.
Lance-se fora toda o heroícismo auto-proclamado.
Fruto de um desejo inseguro, infantil.
É preciso manter o equilíbrio e a decência;
A gratidão por tudo o que cheira à vida.
Permitir que uma onda de ousadia rebente austeramente
Nas areias do nosso mundo.
Que dilapide, dilacere os rochedos.
Que dinamite as impurezas, os entes poluidoras de
Nossa virtude.
Sem que isso seja fruto de uma moral de rebanho.
É preciso ter um sanidade orgulhosa,
“Constantemente sensível, constantemente desperta”.
E acordar a cada manhã tendo a consciência
Que o caminho que trilhamos se estabelece à
Proporção dos passos que damos.
Pois mesmo o padecente deve está grávido de esperança.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque


domingo, fevereiro 10, 2008

Coisas XIV

A foto desbotada.
O álbum descolorido.
A memória fugidia que se dilui
Na curva distante da memória.
Os dias passam.
O silêncio do seu caminhar.
Um dia, dois dias...
Um ano, dois anos... cinco... anos...
Nem damos por essa passagem que
Vitima nossa saúde.
Põe rugas na face de nossa História.
A vida, o que é a vida?
Essa música já me fez chorar um dia.
Ela ressoa dentro de mim.
Os seus acordes suaves
Já não arranca lágrimas dos meus olhos.
A mudança que se perpetra a cada dia.
O absoluto relativo dos dias.
A pequenez frágil de nossos valores.
Desisto de pensar.
Desisto de imaginar coisas grandiosas.
Amanhã talvez essas nem mais sejam.
As sucessões do tempo trará novos humores.
Seremos visitados por uma situação nova.
As horas escorrerão, voarão.
Cansado do mistério dessa caminhada.
Sento-me ante a novidade que me abraça.
Novos dias surgirão com novidades enormes.
Penso nessas sucessões de coisas.
E sigo enervado e curvado.
A tinta invisível do tempo escreve
Em mim as suas linhas.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque