domingo, março 05, 2017

"Vício Inerente" (2014), de Paul Thomas Anderson

"Vício Inerente" (Inherent Vice, 2014) é um filme estadunidense, de Paul Thomas Anderson. Trata-se de uma obra que exige paciência e força de vontade para ser vencida. Em vários momentos, vi-me na iminência de deixar para lá a ideia de completá-lo. Vale mencionar ainda que já havia tentado, em duas outras ocasiões, assistir a ele. 

O filme é baseado em um romance homônimo do escritor Thomas Pynchon o que, por si só, já demanda uma energia e uma capacidade de raciocínio incomuns para entendê-lo. Ler Pynchon não é uma atividade para qualquer mortal. É necessário que se tenha a capacidade para acompanhar a sua linguagem, seu humor fino e a densidade de sua escrita. Acredito que não tenha sido fácil para Anderson adaptar uma obra do escritor. 

O filme, por sua vez, busca ser fiel a Pynchon. Não pretendo fazer uma resumo da obra. Apenas apontar algumas características bem básicas e superficiais filme. Como falei no início, a obra exige uma concentração afinada. Mas, mesmo diante disso, ainda sentimos certa dificuldade para acompanhar a trama. O filme possui quase duas horas e meia de duração. Para complicar essa temporalidade, Anderson vai "colando" novos personagens de forma arbitrária a cada nova cena. Eles aparecem. De repente, somem. Outros aparecem para não mais surgir. Essa colagem de personagens impede o espectador a atentar a funcionalidade de cada um deles. Para quê eles estão ali? Qual é o papel para o desenlace da história? Quem é aquele?

O fato é que a obra mistura características de um noir, elementos intrínsecos de uma comédia, além de carregar por trás a filosofia anárquica da geração hippie, focando também no debate político das décadas de 60 e 70. Há a menção a Nixon, à Guerra do Vietnã e aos Panteras Negras, por exemplo. Doc Sportello (Joaquim Phoenix), o personagem principal da obra é uma figura caricaturesca - e extraordinariamente bem trabalhado por Phoenix. 

Após conseguir chegar ao final da obra - e observar a história como um todo - temos que admitir que é um filme fascinante e com muitas sutilezas. Exige uma leitura para além das aparências. Não é um filme fácil, para espectadores preguiçosos. Existe uma beleza invisível na obra, o que nos leva a um sorriso por sabemos que Anderson não fez um filme qualquer. Ver o filme é realizar um grande exercício intelectual. 

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