segunda-feira, agosto 16, 2021

"Nu, de botas", de Antonio Prata e algo mais

           

Sou assinante da Folha, algo sobre o qual, vez ou outra, ponho-me a pensar a respeito. Não é pelo dinheiro que emprego todos os meses. A quantia é módica. Sei que poderia direcionar o valor para uma mídia de esquerda. Sei da posição editorial do Grupo Folha; da canalhice dos interesses pró-mercado e, consequentemente, anti-país. Outra coisa, é o posicionamento político, que contribuiu acintosamente para o Golpe de 2016 e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.

   Acontece que a Folha, ainda, é um jornal que possui um time de colunistas de grande qualidade; jornalistas e escritores – alguns terrivelmente conservadores –, donos de grandes textos. Admiro um texto bem escrito; com aquela qualidade para o singularíssimo. Bem-humorado. Coeso.

Entre esses grandes colunistas está Antônio Prata. Cronista, escritor, jornalista, roteirista. E jovem. Possui apenas 43 anos. Alguém que com essa idade possui um dos textos mais bem escritos do jornalismo brasileiro. É sempre um grande aprendizado lê-lo. Domina os aspectos mais sutis da língua. Coloca a palavra no lugar certo. As sutilezas são ricamente empregadas, criando uma experiência sempre agradável o contato com os seus textos. 

Pois, foi com essa visão primária de alguém que acompanha os seus textos na Folha toda semana, que resolvi lê um dos seus livros. Escolhi “Nu, de botas”. Li-o no Kindle. Leitura rápida. Saborosa.

O livro remonta a infância do escritor. Busca retratar um quadro semi-memorialístico. É algo da grandeza do texto de Luís Fernando Veríssimo ou de um Fernando Sabino. É um texto cuja leitura realizamos de um só fôlego. Os capítulos são curtos. Enfocam os eventos próprios da infância de um sujeito de classe média, que viveu a infância nos anos 80. Estão lá os programas de televisão. A paixão pelos heróis japoneses. O palhaço Bozo, a Vovó Mafalda. A descoberta de coisas próprias da infância. A credulidade exagerada.  À medida que li, dei enormes gargalhadas. Não há como não se encher de uma enorme satisfação com o texto do escritor paulista.

Ao pegar um texto cuja matéria é o campo autobiográfico – ainda mais a infância- corre-se o risco de se tornar banal, piegas; ou quem sabe, irrelevante. Existem inúmeros escritores que escreveram obras-primas incontestáveis – Coetzee, Graciliano Ramos, Pedro Nava. Mas, o livro do Prata possui um outro sabor. É excelente. Vale a leitura!

Abaixo, um vídeo com uma entrevista do escritor, concedida ao médico Drauzio Varela.  

 


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