quarta-feira, julho 25, 2007

Quem sou eu


QUEM SOU EU?


Falar de si mesmo é matéria complexa. Sempre me reporto a Sócrates e sua máxima: “conhece-te a ti mesmo?” Tal pergunta define paralelos filosóficos. Aquele que se depara com esta pergunta tem que obrigatoriamente refletir a sua prática onto-histórica como ser humano.
Este tema – quem sou eu – sempre foi matéria para reflexão. Sempre me auto-analisei. Fiz varreduras intensas nas regiões inóspitas da minha alma. Entendo-me como figura enigmática. A minha auto-análise é como a psicologia de Augusto dos Anjos:

Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra![1]

Sou filho da terra. Sou filho dos astros. Fui consubstanciado da matéria química que alimenta a energia das estrelas. Sou um composto de poeira e cinzas, disperso na imensidão do caos. Sou uma estrela bailarina. Um astro sem luz.
Todavia, devo assentar no papel impressões históricas da minha tragetória como ente físico, “filho do carbono e do amoniaco”. Nasci no estado de Pernambuco, 1979, às 11:15 da manhã, de uma quinta-feira, dia 09/08. Minha infância se passou naquela região rica, ornada pela fagueira fantasia que ainda se aviva em mim. Minha infância foi rica do ponto de vista das atividades lúdicas. Brinquei intensamente. Até cansar.

Aos 9 anos de idade eu me mudei para o Distrito Federal. Esse novo ambiente gerou em mim um estranhamento inicial. Adaptei-me às convenções candangas. Socializai-me. Eduquei-me nas escolas da capital do país. Perdi o sotaque. Fiz novas amizades. Conheci muitas pessoas. Algumas se perderam na imensidão do tempo e da distância. Cresci. Encorpei. Chegaram-me às exigências. Atualmente trabalho num escritório. Rotina medonha. Acabo anulando alguns prazeres pela ausência de tempo.
Aprendi a ser um ente sensível. Gosto de tudo aquilo que me permite sentir o belo. Sou um amante da natureza. Gosto de sentir e ver água. Impressiona-me com a dança das árvores agitadas pelo vento. Penso que há conchavos, namoros intensos na natureza. Existe uma harmonia que se cumplicia. Imagino que as precisões não são objetos fortuitos. Deve ser daí que derivam as religiões e as explicações para o natural. Sinto prazer em ver o que acontece aos fenômenos naturais. O vento é um carinho suave. Quando todos os aspectos naturais se misturam, consolida-se como que uma sinfonia de beleza.
Imagino-me densamente complexo. Possuo a solidão angustiada de Schopenhauer e a devoção radical de Kierkegaard, mas ao mesmo tempo abraço a dialética de Marx enquanto sujeito que pensa uma práxis histórica de ruptura e integração.
Outro aspecto que aprendi a reverenciar foi a música erudita. Passei a entender que o maiores mestres, filósofos, psicólogos e poetas foram os compositores clássicos. Medito em Mahler; alegro-me com Mozart; expiro com Chopin; reverencio com Bach; reflito em Beethovem. As impressões mais belas estão plasmadas na música régia. Como diz Rubem Alves em certa crônica que li: “É o silêncio da música que nos apaixona”.
Aprendi também a amar os livros e seu efeitos. Atualmente estou construindo uma biblioteca, como se esta fosse o meu jardim. Passeio por ela e sinto a fragrância de algumas sementes que plantei. Sigo refletindo e tentando me compreender como ser inacabado. Quero finalizar com esta citação de Pascal:

“Que quimera é, pois, o homem? Qual novidade, qual monstro, qual caos, qual objeto
de contradições, qual prodígio? Juiz de todas as coisas, verme imbecil, depositário do
verdadeiro, cloaca de incerteza e de erro, glória e reverso do universo que é o homem
na natureza? Um nada diante do infinito, um todo diante do nada, um meio entre nadae tudo”[2].


[1] http://www.revista.agulha.nom.br/augusto12.html, site acessado em 23/03/07 às 12:24:57
[2] http://edgarmorin.sescsp.org.br/arquivo/download/arquivos/atelier_p2.pdf, site acessado em 23/03/2007 às 13:12:15

2 comentários:

Juninho disse...

Grande amigo Carlos!

Ótima idéia a sua. conte com o meu apoio e claro minhas visitas.
Estou acompanhando seus textos heim rapaz!

meus sinceros elogios a ti meu amigo!!!

Abraços!


Ivo Junior

literaturaeengajamento disse...

Camarada Carlos,
Ocorreram uns erros de digitação no texto que enviei. É necessário que se corrija. Ainda não sei como fazê-lo.
Um abraço.