sábado, outubro 30, 2010

Dona Margarida vota Dilma 13!

Dona Margarida, septuagenária, nem precisa comparecer à seção eleitoral, mas votou no 1º turno e está decidida a repetir o gesto neste final de semana. Ela acompanha a campanha eleitoral, assiste aos programas, debates e procura se manter bem-informada.

Fui visitá-la e, claro, ela logo puxou o assunto da eleição. Se depender dela, o Serra não se elege. Ela considera-o mentiroso e cínico. Minha mãe não se referia à escola filosófica de Diógenes Sínope (413-323 a. C.). Para esticar a conversa, brinquei: “A senhora quer dizer que ele tem mil caras?!” Ela reafirmou que o demo-tucano mente, se faz por bonzinho e é um sem-vergonha, além de arrogante. Já a Dilma… Bem, ela se desmanchou em elogios.

A opinião da minha mãe espelha bem o que os eleitores convictos da Dilma Rousseff pensam. Não há marqueteiro que consiga demovê-los da decisão de votar nela. Quanto mais a atacam, mas lhes parecem que são mentiras. E não adianta o Serra fazer cara de bom moço e de “presidente do bem”. A pecha de cinismo o acompanha!

Minha mãe não navega na internet. Imagino o quanto ela ficaria aborrecida com a boataria contra a Dilma! A rede reproduz e potencializa as fofocas da vida real. A Dona Margarida comentou que no grupo da terceira idade alguém disse que a Dilma era “sapatão”. Ela ficou irritadíssima com a boataria. E resumiu tudo na frase: “É preconceito!” Tive orgulho dela.

Não tentei demovê-la da decisão de votar na Dilma. Até porque também voto contra o Serra. Poderia, porém, argumentar que há a alternativa de votar nulo ou em branco; poderia listar uma série de razões políticas e ideológicas. Bem, estávamos apenas conversando e respeito as opiniões dela. De qualquer forma, ela me fez pensar.

Ao contrário da Dona Margarida, o meu amigo Walterego diz que vai anular o voto. Ele não milita no PSTU nem nos grupos de esquerda, organizados ou não em partidos, que defendem o voto nulo. Ele não faz campanha pelo voto nulo! Walterego também é esclarecido e tem título de doutor. Já a Dona Margarida não teve oportunidades de estudo e aprendeu a ler e fazer contas por esforço próprio, na escola da vida. Isto não desqualifica suas opiniões. Na verdade, ambos têm argumentos fortes para defender as posições políticas que consideram melhores.

O que os exemplos de Dona Margarida e Walterego mostram é que posição política nada tem a ver com educação formal e titulação acadêmica. O título universitário não indica, necessariamente, inteligência e capacidade política. Não obstante, há muito preconceito contra os pobres e pessoas humildes no que diz respeito à opção política. O preconceito é social e regional (contra os nordestinos). Ora, a atitude política não é determinada por um canudo universitário e o fato de tê-lo não torna ninguém politicamente melhor nem pior. Não é critério de avaliação política. Há muitos analfabetos políticos titulados por aí!

O meu amigo Walterego pode até votar nulo, mas duvido que ele se considere superior à Dona Margarida, aos pobres e nordestinos. Não é porque ele é doutor que sua posição política é qualitativamente melhor. Afinal, há muitos pobres e nordestinos que também votam no Serra. Os preconceituosos esquecem que ninguém se elege apenas com o voto da classe média e dos ricos. O governo Lula, aliás, foi um dos melhores para os ricos. Não estranho que muitos figurões o apóiem.

Por outro lado, boa parte da classe média divide-se entre a postura de tutela dos pobres e o preconceito social, racial e regional. A tutela também é uma forma invertida de preconceito, pois indica a desconfiança na capacidade política dos pobres. Dona Margarida, que vota em Dilma, diria: “É preconceito!” Decididamente, ela não é analfabeta política!

Extraído DAQUI

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