quinta-feira, junho 12, 2014

Opinião - uma pensata sobre o hoje


Certa vez, li um adágio do poeta inglês T.S. Eliot que dizia mais ou menos assim: "Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária é que parece que está fugindo". Parece bobo, reativo, "do contra" afirmar isso, mas não simpatizo em nada com essa histeria a respeito da Copa do Mundo. Em muito, a minha visão pessimista, que acredito ser ciorânica (de Cioran, filósofo romeno), permite-me manter a prudência e lucidez necessárias, tirando os meus pés de convicções moles e agradáveis como algodão doce. 

A ostentação, o delírio enfronhado em desejos de triunfos epidérmicos, transforma o país em um ninho de ingenuidades. É bom que agreguemos à nossa rotina mais esta anestesia para que não façamos uma reflexão sobre nossa condição, sobre a nossa história. O Governo diz cinicamente que esta será "a Copa das Copas". O meu espírito marxista da contradição me conduz à seguinte pergunta: "Para quem?" Tenho convicção de que esta Copa trará satisfações, mas não será para mim, nem para tantos milhões de brasileiros. 

Ela trará satisfação para a FIFA, que sairá daqui com alguns milhões no bolso; será positivo para as empresas que compraram os direitos de transmissão; para as sociedades esportivas, que se locupletarão com cifras estratoféricas; para as corporações que se aproveitarão para inocular as suas presas sedentas na "carne suculenta" dos lucros por causa da quantidade de espectadores (consumidores passivos). 

O Brasil gastou mais de oito bilhões com a preparação da Copa. Vimos os estádios (os templos) sendo construídos do dia para noite. Tal fato me deixou com a impressão de que eu não estava no Brasil. Fomos rápidos. Céleres ao extremo. A coisa ganhou contornos ex nihilo. Mas quando causas mais nobres são debatidas, notamos uma exarcebante dificuldade para materialização dessa mesmas causas. Uma tenativa de debate para construção de escolas, casas populares, estradas, hospitais, infra-estrutura em cidades caóticas, a coisa se arrasta de forma langorosa. Uma lei com o objetivo de combater a corrupção; os vícios do Judiciário; não vêm à tona com tanta facilidade. Terrível. 

O Brasil é o país das incoerências. Dos mandos e desmandos. Dos patrimonialismos indecentes. Das sedimentações escandalosas. Por isso, e em decorrência disso, quero andar na direção contrária. Quero firmar um pacto com a indiferença. Essa é a minha postura política. Respeito aqueles que estão entusiasmados. Contudo, já vi e percebi muitas injustiças, desatinos, espertezas, vilezas, para continuar com um otimismo ingênuo, como se estivesse numa terra onde emana bom senso, justiça e honestidade. O futebol representa diante disso tudo uma injeção de morfina a fim de amenizar os arranhões provocados pela batalha que é viver em um país como o Brasil.


2 comentários:

Carlindo José disse...

Muito interessante e despertador o seu texto Carlinus. Revelando um sentimento incontido e que está em todo aquele brasileiro que se considera sensato.

A alienação e o delírio coletivo da população provocado por esta Copa do mundo são enormes, até os próprios que se dizem contra a Copa, agora estão louvando e acompanhando este evento, afora que na verdadeira hora de demonstrar a verdade, nas eleições, as pessoas se acanham e são iludidas pelas propagandas políticas vazias.

A situação em que este país se encontra vai de mal a pior, o próprio PT, que se diz partido dos trabalhadores, há muito tempo deixou de o ser, aliando-se aos patrões e as boas mudanças que trouxe, mesmo significativas, foram soterradas pelos prejuízos trazidos pelo mesmo.

Carlinus disse...

Obrigado pelo comentário, Carlindo!

Abração para você!