segunda-feira, maio 13, 2019

Reflexões esparsas sobre a leitura de "Deus - uma história humana", de Reza Aslan I

Existe no ser humano um dispositivo de crença. Uma capacidade para se maravilhar com o mistério. Milhares e milhares de anos de evolução permitiram que o ser humano tomasse consciência de si e do outro. Permitiu-lhe acumular informações e ter noções sobre o passado, sobre o presente e sobre o futuro. Essa noção sobre eventos psicológicos e como esses se alteram ao longo do tempo, criou certas condições para que a noção do sagrado se efetivasse. É muito comum imaginarmos que a religião sempre existiu; que ela sempre esteve presente na história.

Dizem os estudiosos, que até 150 mil anos atrás, por exemplo, não havia indícios claros de enterros. Foi no Paleolítico, que os seres humanos começaram a enterrar os seus parentes. Essa prática indica como passou a existir essa necessidade por uma questão de respeito ao ente querido. Às vezes, em posição fetal voltado para o nascente; ou simplesmente, numa posição que definisse a crença.

A grande questão é que existem situações para as quais os seres humanos não possuem respostas. Essa “ignorância” promove inquietação e um premente desejo de resposta. O que acontecerá após a morte? Quem criou esse mundo imenso, suas leis e contradições? Qual o destino de todos após a morte? O mistério intriga. Induz o sujeito a determinadas reflexões e, acima de tudo, a uma resposta que seja totalizante; que seja capaz de satisfazer as inquietações mais febris. Isso ecoa na clássica frase de Ludwig Feuerbach: “apenas um ser que compreende em si o homem todo pode satisfazer o homem todo”. A consciência do sagrado suaviza as inquietações do homem em um universo em que as contradições existem por toda a parte. Deus é uma resposta conveniente para uma inquietação inconveniente.

O medo e a insegurança sobre o próprio destino força o sujeito à crença. Geralmente, ao se falar em nomes como deus, inferno ou diabo, o sujeito teme, persigna-se, pois, em sua alma, existe o temor inconsciente do próprio destino. Como tergiversar ou prevaricar sobre alguém que pode decidir o seu destino pela eternidade?

A religião surgiu inicialmente como “um esquema” capaz de responder por completo as inquietações do ser humano sobre ele mesmo e sua relação com o mundo e com a natureza. O animismo foi a primeira tentativa de explicar o mundo: o sol, os rios, a lua, as pedras, as árvores, a chuva etc passam a ser elementos que ganham poderes diante dos homens. Seria preciso realizar certos rituais para aplacar a vontade de certos elementos. Por exemplo, se em determinado momento houvesse uma seca ou o excesso de chuva, influenciando o destino e a vida dos homens, certamente, havia sobre isso uma percepção de desconfiança. Aquilo para a qual não existe uma resposta imediata, transforma-se em tabu, em evento sagrado.

Crê é uma decisão que o homem realiza todas as vezes que ele se vê diante de algo maior do que ele. A fé possui uma perspectiva de susto, de mistério, de entrega, de confissão dos desejos mais íntimos. Essa relação profunda é existencialmente capaz de promover uma transformação psicológica. A religião precisa de uma linguagem; a fé precisa de uma narrativa; de elementos que sejam capazes de subsumir numa totalidade. Dentro dessa narrativa cabem todas as coisas. A religião deu ao homem os primeiros mitos fundadores. Viver em mundo em que não fosse possível explicá-lo seria, para o homem, caótico e desagregador. A narrativa criadora organiza o caos. Cria muros contra os inimigos inquietos do irracionalismo. Ordena o universo; põe limites; espalha âncoras pelo oceano imenso das perguntas inquietantes, que deslocam o ser e o coloca “sobre a face do abismo”.

Na Bíblia, o livro judaico-cristão que busca organizar o caos e cria uma narrativa tida como sagrada no mundo ocidental, sugere que Paulo disse: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas”. (2 Co 5.17). Essa referência ao texto de Paulo serve para ilustrar o quanto a relação com o numinoso envolve uma profunda catarse psicológica. Se a religião é linguagem, deus é semântica. As narrativas institucionalizadas (e institucionalizadoras) e, portanto, hegemônicas, criam condições inquestionáveis. Sedimenta certas seguranças. A afirmação de Paulo sugere pelo menos quatro importantes questões: (1) “está em Cristo”, sugere está subsumido numa realidade encapsuladora. “Está em Cristo” é pertencer a uma estrutura que possui efeitos psicológicos, que possui um conjunto de regras, leis; em que há uma linguagem conexa, que absorve o sujeito. É um processo de entrega. (2) “é nova criação”, indica uma transformação da consciência de si, do outro e do mundo. Não significa que haja um ser transcendente, superior, sensível e que interfira na história. O homem é capaz de intervir na história, modificar a natureza e a si mesmo. (3) “As coisas antigas passaram” – o “antigas” aqui significa meramente que o próprio sujeito ao estabelecer contato com “a linguagem transformadora” instaura uma delimitação cronológico-existencial. É o desejo, associado ao dispositivo de crença e credibilidade que confere a mudança. Os marcos são sempre psicológicos e existenciais. (4) “...surgiram coisas novas” – ‘nova’ é a percepção do marco, do limite, da delimitação estabelecida pela vontade daquele que entrou em contato com a “narrativa transformadora”. Denomina-se de “novo” o referencial estabelecido pelo encontro. A transformação é induzida pela própria disposição mental daquele que diz ter experimentado uma experiência nova, transformadora.

Reinaldo José Lopes em “Deus – como ele nasceu”, afirma: “Por mais que as pessoas acreditem estar na presença de Deus numa igreja, numa sinagoga ou numa mesquita, qualquer sensação especial que venham a sentir em contextos religiosos não passa do resultado de mensageiros químicos e impulsos elétricos pulando de um neurônio para outro em algum canto da cabeça delas”.

(Continua...)

Um comentário:

koloveli disse...

Cara e se te dissesse que conversei com DEUS, desde um episódio cujo a psiquiatra me receitou taja preta, minha família me chama ou acha que estou louco. Desde muito antes do ocorrido, minhas crises convulsivas se converteram em musculos da "mãozinha", já não preciso tomar qualquer medicamento. Acho que Deus fala com todos nós!




Como tenho dito: aqui no Brasil eu consegui falar com Deus, DEUS me curou e não consigo apresentar minha 1ª pesquisa sobre meio ambiente.




Como anda a família? o moleque já corre contigo? a mulé está bem? Quando terão o 2º filho?