terça-feira, maio 03, 2022

Luiz Gama, um brasileiro necessário

 


                Ontem, eu tive o grato privilégio de assistir ao filme “Doutor Gama”, do diretor Jeferson De, baseado na vida do grande, do enorme, do imenso Luiz Gama. Gama é um dos brasileiros mais brilhantes de nossa história. Apesar de sua importância para entendermos um pouco mais das desigualdades oriundas do racismo, do preconceito e do papel do negro na sociedade brasileiro, confesso que passei a ter conhecimento sobre a sua importância, bem como da sua obra, apenas recentemente. Foi em um vídeo de Silvio Almeida, autor de “Racismo Estrutural”, que escutei o seu nome. Fiquei curioso. Pesquisei. Encontrei referências à sua contribuição.

                Luiz Gama nasceu no estado da Bahia em 1830. Era filho de uma escrava livre, alfabetizada, que teve um papel importante nos movimentos revoltosos da Bahia, principalmente a Revolta dos Maleses. O pai de Luiz era português. Aos dez anos, ficou sem a mãe. E acabou sendo vendido como escravo pelo pai como pagamento por uma dívida de jogo. De Salvador, ele foi levado para o Rio de Janeiro e, logo em seguida, para São Paulo. No estado, foi comprado por um alferes, que o levou para o interior. Era um jovem de inteligência rara. Aos dezessete anos, conheceu o estudante de Direito Antônio Rodrigues do Prado Junior, que lhe ensinou o alfabeto. E, logo em seguida, apresentou-lhe as letras. Foi a partir daí, que Gama galgou a construção de uma reputação, pois se tornou um aplicado leitor e estudioso.

                Quando analisamos sua formação (completamente autodidata), vemos o quanto a sua inteligência era destacada. Tornou-se um poderoso orador, escritor de burilados poemas e um advogado reconhecido pela diligência. Silvio Almeida afirma que Gama está entre os grandes juristas da história do país. Na função de advogado, Gama ficou famoso por realizar o enfrentamento na luta abolicionista. Há indícios de que tenha conseguido libertar mais de quinhentos escravos. Em um país de analfabetos, constituído por uma grande massa de escravos, Gama destacava-se como um intelectual negro. Provocava burburinho por onde passava.

                No censo de 1872 (disponível no site da Fundação Palmares), constatou-se a existência de 10 milhões de habitantes no país. Os escravos constituíam pouco mais de 15% desse total. 58% dos habitantes do país se declaravam pretos ou pardos, o que cria uma configuração para a sociedade da época. Estima-se que ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,8 milhões de escravos foram trazidos ao país. Esses números, a relação violenta estabelecida pelas instituições e pela sociedade dirigida aos escravos, formaram um perfil da própria sociabilidade brasileira. Outro elemento dramático diz respeito ao fato de que o Brasil foi o último país das Américas a abolir o processo de escravidão, após a luta abolicionista e a pressão da grande potência capitalista da época, a Inglaterra.

                O filme demonstra como Gama observava a condição do escravo no Brasil, tratado como um bicho, um objeto, a propriedade de alguém. O escravo ficava a mercê dos desejos do seu senhor. A sociedade aristocrática da época, possuía leis severas para punir, por exemplo, que se ensinasse um escravo a ler. Essa era uma condição, um privilégio, dos chamados homens livres. Luiz Gama por ter experimentado a condição de um segregado, sabia muito bem o significado da palavra “escravidão”.

6 comentários:

Fred Fomm disse...

Carlinus, bom dia! “O Ser” acabou?
😥

Carlinus disse...


Fred, não sei! O blog foi colocado em "revisão" pela equipe do blogspot. Pedi a reversão do problema. Vamos esperar para ver o que acontece. É o que nos resta.

Fred Fomm disse...

Cara, sigo o blog há milênios… cruzamos os dedos aqui
🤞🏻

Fred Fomm disse...

PS - o túmulo do Gama fica pertinho do da minha família. Sempre que visito a vovó deixo um “oi” p ele tb
💀

otáviokp disse...

Carlinus, tenho certeza que todos os seguidores ficam na torcida para que se consiga retornar O Ser. Claro, para além de todo o valor público de um tal compartilhamento tão generoso e profícuo, tento imaginar a importância pessoal envolvida, justamente a de um longo e íntimo trabalho seu, substrato de toda aquela riqueza. Estamos contigo, venha o que vier.

Frazec (vulgo Jean-Philipe Rameau) disse...

Também espero com os dedos cruzados, as figas e os patuás, o retorno de "O Ser da Música", consolando-me por poder aproveitar "O Ser Carlino"!