sexta-feira, abril 02, 2010

A Distopia em “A Máquina do Tempo” de Wells

Vi ao filme “A máquina do tempo” (2002), baseado no livro homônimo do escritor de ficção científica H.G. Wells. O inglês se imortalizou na elaboração de obras futuristas, mais conhecido por ficção científica. Outra obra importante escrita por ele foi “Guerra dos Mundos”, que também virou obra fílmica. Em “A máquina do tempo”, apesar de não ter lido ao livro, e, me deter apenas em elementos do filme, H.G. Wells fez uma crítica cortante ao modus operandi da História. A história do filme gira em torno de um professor amalucado, dinâmico, obstinado e curioso. Um retrato do homem empolgado com o futurismo que permeava o mundo ocidental no início do século XX. Era a sociedade das máquinas, da velocidade, das locomotivas. Sociedade do brilhantismo das invenções. Neste mundo de descobertas e crença na ciência vive o professor Alexander. Certo dia, ao se encontrar em um parque com a sua namorada e se destacar com ela dos presentes do lugar, são surpreendidos por um ladrão. Nesse episódio, aquela que seria esposa de Alexander é morta. Aquele fato “desequilibrou” o professor. Dali para frente ele trabalharia no projeto de uma máquina a fim de voltar no tempo e mudar o passado.

Tendo feito isso, o professor volta no tempo. Leva Emma, sua namorada, para longe do parque. É a sua tentativa de preservar aquela a quem ama. Todavia, ao deixar Emma para ir à uma floricultura, presencia uma carruagem atropelando mortalmente aquela a quem tanto amava. Ele entende que há certa premissa imperiosa que determinava aquele acontecimento: se ele voltasse no tempo mil vezes para evitar o fato, Emma morreria mil vezes. Alexander entendeu que não tendo respostas no passado, o melhor seria se fiar pelo futuro. Após algumas visualizações surpreendentes de como seria a sociedade do futuro, o professor viaja 800 mil anos no tempo. E neste aspecto notamos uma montagem belíssima: o trabalho lento e gradual da natureza. Um rio que se “dissolve”, “devora” pouco a pouco a terra; as florestas que crescem e que ao mesmo tempo desaparecem; desertos que se agigantam e são dissolvidos pelos agentes naturais; montanhas que são perfuradas pelo vento e pela chuva como se fossem meros pedaços de argila. Em tudo isso, verificamos o devir da natureza. O aspecto frugal do tempo. Que nada é eterno, tudo se dissolve, muda. Em 800 mil anos, a evolução criou seres antagônicos. Os humanos vivem assustados. São parasitados por seres bestializados, os morlockes. A evolução transformou estas criaturas em seres animalizados. Vivem nos subterrâneos. No interior das minas. Em cavernas. Destacam-se pela força. São controlados por seres superiores, que não podem ver a luz e aumentaram extraordinariamente a energia psíquica. O mundo futuro é dominado por essas criaturas que não podem ver o sol, mas são capazes de penetrar a mente de qualquer ser vivo, gerando pavor, medo, inoculando dominação. Segundo o filme, esses seres com elevado nível de atividade cerebral faziam parte das antigas oligarquias do passado. E, no futuro, continuaram a manifestar hegemonia.

Analisando por essa perspectiva, lembrei das palavras iniciais do “Manifesto do Partido Comunista”: “A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história de lutas de classe”. O filme deixa a atordoadora mensagem de que há uma linha de poder que busca prevalecer na história, causando domínio, medo e crueldade. Outro aspecto a ser salientado na mensagem do filme é que há realidades que podem ser mudadas na vida e, outras, não. Aquilo que pode ser mudado é digno de esforço, suor e trabalho. A obra do diretor Simon Wells consegue ser bem convincente. A crítica mais convincente é dominação de um grupo sobre outro na História. A humanidade sempre esteve propensa a essa realidade infausta. Aqueles que dominam parecem nunca está satisfeitos. O poder atrai, gera o desejo de mais poder. Quem tem poder deseja ter mais controle. É uma síndrome fáustica. A obra constitui aquilo que se conhece “distopia”. É construção inversa da utopia. Enquanto a utopia se fixa numa possibilidade, numa perspectiva daquilo que pode ser alcançado, criando assim um aspecto ‘messiânico’ à esperança, a distopia atua inversamente. “Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma "utopia negativa". São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações[1]. Outras obras como “Admirável Mundo Novo” de Huxley, “1984” e “A Revolução dos Bichos” de Orwell ou “Fahrenheit” de Ray Bradbury são exemplos de obras distópicas.


Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: 11 de novembro de 2009

[1] Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Distopia. Acessado em 02 de abril de 2010.

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