
quarta-feira, outubro 29, 2008
Impressões solares

sexta-feira, outubro 24, 2008
Melancolia

Uma corrente fria de vento
Atravessa a minha alma.
Sinto-me triste.
É uma tristeza tristemente delicada.
Tristeza sem recatos.
Sensação recatada.
O peso de mil toneladas comprime
O meu peito.
Asfixia-me com sua presença tórrida.
Desabo qual monstro ao chão.
Estou triste.
A tristeza ri de mim.
Solta impropérios sufocantes.
Amarra-me.
Lança-me sobre estacas de medo
E desengano.
A manhã está fria.
Não quero contatos.
Palavras não me serão receptivas.
O que sinto me é escusado.
De uma coisa eu sei:
Dói, como dói!
Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: terça-feira, 24 de junho de 2008, 08:57:16.
sexta-feira, outubro 17, 2008
Altares domésticos
Com o amesquinhamento moderno do espaço doméstico, as salas de visitas foram se extinguindo. De repente, apareceu um visitante que veio para ficar: o rádio. Ele também falava conosco, trazia notícias de longe. Mas com seu surgimento, houve um deslocamento simbólico. O rádio foi posto na sala de jantar, no meio da vida, entronizado num móvel especial. A família unida em torno da mesa, numa santa ceia profana, assistia piamente às lagrimosas novelas na hora do almoço e do jantar. Embora cada membro da família pudesse ter também seu programa preferido, o rádio estava ali com sua força cêntrica, era um altar em torno do qual até vizinhos vinham se reunir.
Com o surgimento da televisão, houve apenas uma substituição de objeto. Uma troca metonímica. Mas altar continua congregando. Dizia-se, no entanto, que a família já não mais conversava, não mais externava seus conflitos na terapia de grupo que era o almoço e o jantar. Ficavam todos ajoelhados diante dessa deusa terrível. Deu-se, então, que com o crescimento econômico e com a fragmentação crescente da família, o altar se moveu. Cada membro da família passou a ter uma tevê em seu quarto, um altar próprio para os seus ritos. Dizem que isto incrementou a desagregação familiar.
Aí surgiu o computador. Pensava-se que fosse simplesmente competir com a máquina de escrever e com as canetas mata-borrões. Mas, surpreendentemente, surgiu a internet e a questão do altar tornou-se bem complexa. Poder-se-ia dizer também que a internet virou uma espécie de janela, de plano de fuga, de túnel por onde se escapa e se viaja, rompendo os muros do próprio lar. Mas, essencialmente, o computador e a internet são um novo altar. Muito mais pessoal do que os anteriores e instalado em diversos cômodos da casa. Teria ocorrido, então, uma descentralização do rito. Não mais a sala de visitas que só se abria em ocasiões especiais, não o mais a família (e vizinhos) na sala em torno do rádio ou da tevê. Agora, cada um na sua (ou seu altar).
Mas a coisa, semiologicamente, radicalizou-se ainda mais. O computador e a televisão se fundiram, se casaram. E mais: apareceu um terceiro elemento inovador: o celular que é o mesmo tempo telefone, computador, MP3 (antigo toca-disco) e televisão. Com a vantagem de ser móvel, que se leva para o avião, para o piquenique, para a praia, enfim, um “duplo” indispensável, a segunda natureza do ser humano.
Nesta perplexidade de crentes-descreventes estamos. Redes invisíveis nos unem planetariamente. A igreja está em nossas mãos, é portátil, está em todas as partes e em lugar nenhum. Pensamos freqüentá-la, mas ela é que nos freqüenta, já que o “o meio é a mensagem”.
Por Affonso Romano Sant'Anna
SANT’ANNA, Affonso Romano de, Altares Domésticos, Correio Braziliense, Brasília, 23 Mar. 2008. Caderno C. p. 8.
Data: segunda-feira, 7 de abril de 2008.
sexta-feira, outubro 10, 2008
A minha alma está cheia de poesia

No deserto que formou-se em mim.
“As velhas palavras mortas sujaram a minha alma,
por isso quero lavá-la com as águas do silêncio.
Eu desconfio do sentido e das vozes dos homens
Ditos normais – são normais demais!
Deixemos a normalidade tão fingida deles e corramos
Na direção do outonal extremo da nossa alma.
Lá não se fala palavras normais, porque a normalidade
Cristaliza os movimentos que formamos com a poesia.
Poesia é movimento silencioso.
Movimento e combinação de sentidos
Inauditos.
Desconfio das poesias paradas.
As poesias não são verões parados e abafados.
São primaveras coloridas e cheia de musicalidade.
Gosto do que não dizem justamente por ser algo que busco
Compreender com a minha liberdade poética.
Eu sou mais que sou. Sou a outra metade afastada de mim.
Porque é justamente diante do insondável que buscamos
Compreensão para o não-entendido.
A minha história é mais que voz. Ela é o filtro indicador
Das horas nuas da vida.
Palavras desencontradas brotam de dentro de mim neste
Momento.
Parece saírem de uma cascata caudalosa que se precipita
Nas pedras da vida.
É como o magma que emerge do ventre da terra
Terrificantemente pastoso, mas que vira pedra quando enfrenta
A realidade climática externa.
O viajor da história me faz ter espasmos diante dessa
incógnita chamada vida.
Apenas reflexão... nada mais.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: 27/12/2003 14:59:15, sábado.
sábado, outubro 04, 2008
Na noite fria.

Por Carlos Antonio M. Albuqueque.