sábado, abril 04, 2009

Os 27 Beijos Perdidos

O filme “OS 27 beijos perdidos”, da diretora georgiana Nana Djordjadze deixou-me feliz e introspectivo. Viu-o sábado, dia 24/01/2009. Tenho uma relação de filmes para serem vistos. A produção tinha que ser assistida naquela data. Antes de ver ao filme, resolvi ler alguns comentários sobre a película. Havia mais críticas negativas do que positivas.

Após ter visto à obra aprendi algo: devo formar minha própria opinião e não ser induzido por sentenças alheias. Lembro-me de Nietzsche no epílogo da “Gaia Ciência”: “Moro em minha própria casa, / Nada imitei de ninguém/ E ainda ri de todo mestre/ Que nunca riu de si também”. Segundo o livro, estes dizeres estavam sobre a porta da casa do filósofo. Não sei se era intenção dele fazer qualquer menção ao texto bíblico de Deuteronômio. Talvez, Nietzsche sardônico como era, deva ter seguido a instrução de Moisés quando disse ao povo de Israel: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e dela falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (Dt 6.4-9). Nietzsche conhecia profundamente as Escrituras. O ato de colocar tal inscrição deve ter sido premeditado.

Voltemos aos 27 Beijos Perdidos. De início, comecei a assistir ao filme com aquela desconfiança, mas aos poucos um fino interesse se avivou em mim. O filme é bonito sob vários aspectos. A começar pela fotografia. A diretora abusou – no bom sentido – em mostrar as belas paisagens da Geórgia, país situado nas proximidades do mar Cáspio e ex-república da União Soviética. A presença do comunismo está na obra. Fotos do grande Lênin aparecem em algumas cenas. Os livros de Karl Marx servem de apoio para uma cena de amor. Uma bruma leitosa toma os espaços naturais e humanos: a floresta, o campo, a cidade, o rio. A última cena do filme é extraordinária. Um rio enorme, com montanhas escondidas e embaçadas por uma névoa que envolve os montes.

O filme se passa numa cidade afastada. A chegada de Sybilla à cidade, dá novas conotações comportamentais aos habitantes. Garota de hábitos precoces, conhecedora da poesia de Safo e Shakespeare, Sybilla desperta paixão em Myka, filho de Alexander, um viúvo metido a cientista. Todavia, Alexander um mulherengo de 41 anos de idade, faz nascer a paixão na menina de 14 anos.

O jovem Myka busca de todas as formas chamar a atenção da jovem. A única promessa que receba dela é de 100 beijos naquele verão. O jovem só consegue dá 73 beijos, os 27 restantes dão nome ao filme.

A produção é pródiga em sensualidade. Não se trata de uma sexualidade leviana, baixa. Trata-se de um incremento à beleza da obra. A garota não hesita em mostrar os seios esculturais e o corpo franzino em várias ocasiões. Não chega a consumar nenhum tipo de relação libidinosa durante o filme. Verônica é justamente a personagem que substantiva aquilo que Sybilla não executa. Esposa de um militar ciumento e machista, Verônica se mostra ninfomaníaca.

O filme busca mesmo é enfocar a paixão da menina por Alexander que não corresponde às intenções da garota. Ao passo que Sybilla empreende ações com o fim de conquistar Alexander, Myka se fecha para o pai. São as reações adversas da paixão que toma a alma e o corpo do jovem. E nesse sentido é que o filme se torna surpreendente. Certa noite, Sybilla adentra à casa de Alexander, despe-se e busca fazer amor com o viúvo. Este a manda embora. Ela desce correndo, semi-desnuda, as escadarias da casa de Alexander e encontra com Myka, que fora despertado pelo barulho que ouvira. Myka num acesso de irracionalidade se mune de uma arma. Vai até o quarto do pai. Embaixo, enquanto saia, Sybilla escuta o estampido da arma. Myka ainda aparece na janela e ver a garota que já tinha tido acesso à rua. Não se mostra, nem se entra em detalhes explícitos sobre a morte de Alexander. Fica a interrogação: matou ou não matou? A garota foge num barco. Some no horizonte como se fosse uma miragem. A bruma de vodka engole todas as coisas. A paixão é gestora de desatinos.

Após o filme ficamos pensando embriagados nesse acontecimento. A música russa, triste, amalgama-se à paisagem com cheiro de umidade. As florestas ralas se mostram distantes. Permanecemos imaginosos. Para onde se foi Sybilla, aquela de seios à semelhança dos da Vênus de Milo? Será que ela nos enfeitiçou como fez a Myka? Cometeremos um parricídio? Os créditos do filme a subir e eu a pensar no inusitado.

Nana Djordjadze foi feliz com o longa de 2000. Fiquei com a impressão de que ela era um ser angélico. Seu corpo esguio faz morada na nossa mente, assim como os rios de água verde e as florestas amarelas de folhas caducas da Geórgia.


P.S. Segundo informações encontradas AQUI: "Esta fita participou do Festival de Cannes 2000 e ganhou o prêmio especial do Júri do Festival de Bruxelas e prêmio do público do Festival de Montpellier, ambos em 2001".


Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

Data: 28 de janeiro de 2009, quarta-feira, 21:06 hs.

3 comentários:

Unknown disse...

Carlos, você é irmão do Everaldo?
Sou um amigo de longa data. Tu poderias me passar o contato dele?
Desde já agradeço e parabéns pelo espaço!

Anônimo disse...

amor, vc nem me convidou para assistir esse fulme com vc??
como assim???
AAhhhh.... consegui acessar seu
blog daqui do trabalho.... kkkk
Que bom!!!
bjus amor!!
te amo.

Carlinus disse...

A oportunidade me surgiu quando estava sozinho. Não se preocupe! Nos próximos você será convidada para ser a minha companhia adorada. Grande beijo!