terça-feira, setembro 01, 2009

A Sinfonia Inacabada e a minha relação com a música

A música clássica mostrou-se a mim com a Sinfonia Inacabada de Franz Schubert. Devo afirmar que preciso aprender a ouvir o compositor austríaco. Ele não é um dos meus preferidos. Há outros compositores que admiro com maior ênfase – Beethoven, Mahler, Mozart, Bach, Brahms e Shostakovich são compositores que exercem um efeito inebriador sobre mim.
Mas voltemos à Sinfonia Inacabada. Eram os idos de 1997 ou 98. Eu era um adolescente de 17 para 18 anos. Estava saindo da puberdade e conhecendo as realidades agrestes do mundo adulto. Apesar de ter as minhas amizades, o que de fato fundava-se em mim como material necessário, era a introspecção, os deleites reflexivos da solidão. Por esse tempo, não sei por que cargas d’água eu fui presenteado com uma fita K-7 com peças de Schubert. À época não entendia muito bem o matéria daquele objeto. O colega que me dera a fita K-7 fazia parte de uma família de diletantes. Conheciam o básico, o necessário, o trivial de cada assunto. O fato típico da burguesia.
A grande questão é que não atribuir muita significação àquele presente. Como os gregos antigos, eu tinha curiosidade por aprender, mas no que tange à fita, ela ficou a um canto. Em dados momentos, quando me encontrava mais contido, eu comecei a ouvir o material da fita. Trata-se de uma coletânea com as melhores peças de Schubert. Franz compôs em demasia quando vivo e o que uma fita de 46 minutos poderia conter além de fragmentos esparsos do grande músico romântico? Como descobrir mais tarde, havia na fita pedaços das Sinfonias 3 e 5, o quarto movimento do Quinteto para Piano, “A Truta”, uma canção de um dos inúmeros lieders compostos por Schubert. O fato que reputo por mais importante foi a presença, naquela fita, que ainda trago comigo (apesar do áudio não está tão bom), da Oitava Sinfonia, denominada simplesmente de “Sinfonia Inacabada”. A música clássica provocou os seus poderes em mim com essa sinfonia de Schubert.
O nome da peça chama atenção (“Inacabada”). Para mim ela estava perfeitamente acabada. A música era densa, poderosa. Revelava poderes noturnos. Exigia-se bastante dos instrumentos e da orquestra. Os violoncelos imprimiam gravidade. As madeiras apareciam estabelecendo contrastes. Os violinos chamavam de volta o tema e os tambores ruflavam. Apenas dois movimentos (Um allegro moderato e um Andante con moto). Pouco mais de 23 minutos de música acachapante. Aquilo era de mais para mim.
Schubert foi um compositor precoce. Aos 11 ou 12 anos ele já compunha missas. Morreu muito jovem – com 31 anos de idade, acometido de um ataque sifilítico. Trabalhava num ritmo alucinado. Muitas das peças que começava a compor, largava de mão. Isso deve ter se dado com esta Sinfonia, que deve ter sido escrita quando o compositor tinha 25 anos de idade. Nela é possível verificar uma reflexão densa, pesada. Por aquilo que já ouvir de Schubert, essa peça é distinta em suas nuances. É música beethoviana, carregada de sentimentos represados. É como se Schubert já enxergasse a morte precoce. Ele enfrentava problemas de saúde. Viajava sempre à procura de climas melhores e benfazejos.
O primeiro movimento é denso, carregado de elementos tempestuosos, como se o dia estivesse aguardando o retumbar da tempestade. O segundo movimento inicia-se lento, nostálgico, com elementos bucólicos, quase pastorais. E de repente, a orquestra irrompe numa eclosão volumosa de sons e novamente a reflexão lenta, ciciosa. Esta reflexão imprime poderes profundos na alma.
Ainda hoje posso ouvi-la por inúmeras vezes. É uma das minhas peças favoritas. Bateu-me o desejo de escrever estas palavras após tê-la ouvido na manhã de ontem. Agora enquanto escrevo estas palavras, a sua música é reproduzida suavemente ali do meu aparelho de som. Devo ter cinco gravações da Oitava Sinfonia aqui em casa. Num dos encartes que tenho, gravado pela London Festival Orchestra, encontro as palavras:
A Inacabada foi terminada provavelmente durante o verão de 1822. Não foi revelada até 1860 e foi estreada em Viena em 17 de dezembro de 1865, Schubert morrera a quase quarenta anos.
A Sinfonia # 8, obra bastante enigmática quanto ao modo de organização das figuras musicais que desenvolve, colocou, aos musicólogos, o problema do seu estado incompleto. Apesar de não todos opinarem que tivesse de ter uma continuação. Para alguns – entre outros Brahms – Schubert, a trabalhar o scherzo, considerou que as duas primeiras partes formavam um todo completo, não se teria sentido obrigado a ter em conta a tradicional divisão quatripartida.
Aqueles que consideram que a obra está inacabada afirmam, duma parte, que isto não é nada extraordinário na criação schubertiana e doutra, que Schubert não conseguiu um final adequado para esta obra tão notável e decidiu abandonar. Outra suposição consiste em pensar que Schubert subestimou o valor da sua obra, ao considerá-la demasiado próxima do estilo de Beethoven.
Alguns ao contrário, elaboraram a hipótese de um final que teria decidido extrair, totalmente ou em parte, da música de intermédio número 1 de
Rosamunda, uma vez terminado o scherzo.
Ouvindo esta peça hoje, vem-me a convicção que ela não precisa de um terceiro movimento. Ela não está inacabada como o próprio nome sugere. Creio que ela está poética e romanticamente acabada. Ela é misteriosa por, justamente, ter somente dois movimentos vestidos do mais profundo mistério. Talvez não produzisse tantos efeitos caso tivesse três movimentos. A música passou a ter outros motivos para mim graças a esta peça do gênio singular de Franz Schubert.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: Sexta-feira, 16 de janeiro de 2009, 10:04:33

Um comentário:

Vou Ser Feliz e Já Volto disse...

Muito obrigada por ter me visitadoe mais ainda por ter gostado. apareça sempre, é bem-vindo!

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