terça-feira, novembro 23, 2010

Rachel de Queiroz, cem anos de literatura

No último dia 17 de novembro, completaram-se 100 anos do nascimento da escritora cearense Rachel de Queiroz. Não vi homenagens sendo feitas à escritora. Mais uma evidência de que vivemos, ainda, num país de memória frágil e safada. Os grandes homens e mulheres que se notabilizaram, que trabalharam arduamente para construir um país mais belo, culto e justo são esquecidos como quinquilharias ordinárias no porão da História.

Descobri a notícia por acaso. Li no jornal Correio Braziliense – uma página apenas! Até onde tenha notado, não vi a televisão fazer qualquer menção ao fato. Terrível. Atordoante. Certamente, isso é sintoma de anomalia e descaso.

Rachel de Queiroz escreveu uma obra de significativa importância. Começou a vida literária ainda muito jovem. Aos 20 anos já havia escrito O Quinze, livro que a tornou nacionalmente conhecida. Era uma época rica, aquela década de 30. Inúmeros escritores produziam literatura regionalista, de forte denúncia social – Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, Jorge Amado entre outros. O momento histórico permitia esse surto realista, revelando um dos momentos mais ricos de nossa prosa literária.

Leitora voraz, Rachel sentiu-se estimulada a escrever O Quinze. O livro é resultado das competências adquiridas com a leitura, principalmente dos escritores ingleses e franceses. O livro é bom. Possui maturidade. Mordacidade. Um texto enxuto. A linguagem é limpa e implacável. Realismo cru e um dos melhores momentos do Modernismo. A obra está assentada em experiências pessoais. Narra fatos atinentes à seca de 1915 no Ceará. Recordo-me que li a obra numa única tarde. Preciso revisitar a obra mais uma vez. Lerei Três Marias, O Quinze e Memorial de Maria Moura, livros que possuo em minha biblioteca.

Rachel escreveu outras obras importantes como, por exemplo, João Miguel, as já mencionadas Três Marias, traduzida para diversas línguas; e Memorial de Maria Moura, transformada em série televisiva. Destacam-se ainda os romances Caminho de Pedras e Dôra, Doralina. A escritora também se enveredou pelo teatro e pela literatura infantil. Escreveu incontáveis crônicas para os principais jornais do país até os últimos dias de vida.

A escritora chegou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras. Talvez os fatos mais dúbios e geradores de controvérsia na vida da escritora se estabeleceram nas escolhas políticas que fez. Quando muito nova, ingressou no Partido Comunista, tornando-se uma das fundadoras do Partido em seu estado, o Ceará. Mas por causa das observações que começou a fazer e do controle que o Partido estava fazendo sobre a sua obra, deixou o as fileiras do PC. Tornou-se trotkista, mas desligou-se também. Na década de 60, desafeta de Jango, Rachel apoiou a Ditadura Militar, uma das páginas mais tenebrosas da História de nosso país. Esse fato quiçá tenha manchado a figura pública da escritora. Obscurecido a sua imagem perante a crítica e os intelectuais. Apesar desse direcionamento contrastante, gosto de Rachel. Acredito que ela precisa ser mais conhecida com profundidade. O apoio que deu à Ditadura foi infeliz e crasso. Heidegger apoiou o nazismo e nem por isso deixamos de lê-lo. A obra de Rachel e grande e capaz de redimi-la desse infortúnio histórico.

A escritora morreu em 2003, às vésperas de completar 93 anos de idade.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: terça-feira, 23 de novembro de 2010, 20:34:08.

Um comentário:

Anônimo disse...

achei que tu não ia mais escrever de proprio punho nesse blog. escreva suas proprias criticas sobre o "sistema social" da politica a literatura, do terrorismo barato ao dialogo.
eu sei que tu sabe escrever!kkkkkkkkkkkk