segunda-feira, novembro 15, 2010

O Pianista, salvo pela música

Há obras de arte que nos emudecem e certamente o filme O Pianista de Roman Polanski se inscreve nessa categoria. É uma obra sensacional. A reprodução do retrato histórico é único. As cenas em sua maioria sem um tema sonoro, deixa-nos com os personagens, prolongando a nossa experiência com o sofrimento de cada um deles. O terrorismo nazista na Polônia teve uma das suas piores páginas. durante a Segunda Grande Guerra. O país foi um dos primeiros a serem invadidos. O filme de Polanski descreve de modo genial esses eventos. Uma das cenas mais poeticamente trágicas do filme é aquela em que mostra a personagem principal, o pianista Szpilman, fugindo dos soldados nazistas e se alojando num sótão abandonado. Após ter pulado o muro e atravessado para o lado destruído da cidade (imagem ao lado), constituindo num cartão poético sem igual: o homem sujo, doente, esfomeado, claudicante, pequeno, frágil, insignificante, no meio da cidade destruída. À sua frente apenas as ruínas de pedra. O personagem leva a lata com pepinos em conserva, mas não possui meio para abri-la. Em dado momento, ao tentar abrir a lata, encontra-se com um oficial alemão. O alemão com sua pose superior. Bem escovado. Roupa impecável. Com a "superioridade" de um ariano hitlerista. O comandante observa o pianista e lhe pergunta sobre o que estava a fazer ali. Perguntou ainda sobre quem era o pianista e o que ele fazia. Szpilman perplexo, responde que era judeu e pianista. A cena deixa transparecer que o pianista antevia a sua sorte. No entanto, o oficial alemão chamou Szpilman e pediu para que ele tocasse algo num piano contíguo. O pianista senta-se e começa a tocar A Balada No. 1 de Chopin, música eivada por uma beleza triste e arrebatável. Aquilo atingiu o alemão. Desarmou-o completamente. De repente, estavam dois indivíduos, a representação de dois mundos, a superioridade e o derrotado, o farrapo humano vulnerável e o seu tirano, mas que sabia produzir uma música que descongelava o coração e fazia brotar gestos quentes do mais sublime altruísmo. Pelos gestos da face do oficial, percebe-se que a música o aturde. Szpilman é salvo pela arte, salvo pela música. A beleza freiou os instintos animalescos. Produziu a capacidade de enternecimento.

Abaixo a cena em que o pianista Szpilman toca A Balada No. 1 de Chopin:



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