domingo, abril 06, 2014

"O velho e o mar", de Ernest Hemingway

Li O velho e o mar há alguns dias atrás e ainda conservo o forte sabor da prosa de Hemingway em minhas entranhas. Não pretendo escrever uma resenha em sentido estrito sobre o livro. Talvez me falte competência para tal. Mas o certo é que não é possível ler esse livro, escrito em 1952, e não deixar se levar pela história de Santiago, o pescador. Trata-se de um livro curto, de linguagem jornalística. Hermingway não abusa das metáforas e dos alambicamentos. Quando escreveu O velho e o mar talvez estivesse fazendo um exercício minimalista. A maior parte dos leitores de Hemingway elegem O Velho e o Mar como leitura favorita.

O fato é que ele explora ao máximo um mesmo fato. É como se ele pegasse um tecido molhado e tentasse extrair dele toda a umidade. Sua insistência com a palavra é para "espremer o fato". A literatura de Hemingway está repleta dessa característica. Geralmente, as personagens enfrentam fatos aventurescos, quase sempre, que se sobrepõem às suas forças. Cria-se a partir daí uma pujança na narrativa que nos retira o fôlego.

A história de O velho e o mar é a história de uma pescaria, realizada por Santiago. Após ficar mais de oitenta dias sem pescar nada, a personagem se faz ao mar e, sozinho, consegue fisgar um peixe de enormes proporções. Conseguir vencer o peixe é a grande questão a ser conseguida. Esse embate demonstra a condição do homem perante a força da natureza. E aí estão as qualidades de Hemingway como grande narrador. O que para outro escritor seria um fato insignificante, para o americano é possível amplificar o fato e torná-lo de  uma envergadura extraordinária. Hemingway torna o velho Santiago em um herói diante da mitológica força do peixe. O poder de resistência, a tenacidade, o laceramento do corpo, as forças que são reunidos num sobre-humano esforço, faz crescer a grandiosidade da narrativa. 

Quando Santiago consegue dominar o peixe, após várias noites de insônia, de fome inclemente e acreditar que havia conquistado um grande troféu, a esperança da vitória triunfante  é baldada pelos poderes naturais. Tubarões atacam o peixe. Vão roendo-lhe a carne suculenta e preciosa. O pescador lutar bravamente contra as feras assassinas. Mas pouco a pouco percebe que o poder inexpugnável da natureza é maior que ele. Os tubarões comem o peixe de deixar somente a carcaça. Assim, ele volta trucidado pela inevitabilidade dos fatos. Os movimentos da natureza seguem leis imparciais com as quais não se pode lutar. Todavia, fica uma espécie de aprendizado íntimo em Santiago. Não se trata apenas de resiliência. É como se ele entendesse a sua finitude. E essa ternura acaba transbordando das páginas a fim de alcançar o leitor.

O velho e o mar é um livro de leitura rápida e apaixonante. É possível lê-lo de uma sentada. Quando iniciamos a leitura, parece que somos fisgados pelo estilo genial de Hermingway e aquilo acaba nos levando ao deleite completo.

Nenhum comentário: