sábado, novembro 08, 2014

Uma afirmação de Eric Hobsbawm

Ando lendo o livro Tempos Interessantes, de Eric Hobsbawm, uma mente com uma história pessoal bastante privilegiada. Neste livro é possível perceber a honestidade e a integridade desse sujeito que soube analisar, medir e pensar as marcas contraditórias do seu tempo, que segundo ele foram "extremos", mas também foram "interessantes". Assim que concluir a leitura pretendo fazer algumas considerações esparsas sobre essa fascinante obra. Lendo o capítulo 17, capítulo este em que o famoso historiador radicado na Inglaterra fala sobre a atividade dos historiadores no século XX, encontrei as belas palavras que se seguem abaixo. É possível perceber a impressão de forte emoção e sinceridade.

[...]"Os negócios da humanidade são hoje conduzidos especialmente por tecnocratas, revolvedores de problemas, e para os quais a história é quase irrelevante; por isso, ela passou a ser mais importante para o nosso entendimento do mundo do que anteriormente. Silenciosamente, em meio à discussão sobre a existência objetiva do passado, a mutação histórica se tornou componente principal das ciências naturais, evoluindo da cosmogonia para um darwinismo ressuscitado.Com efeito, por meio da biologia molecular e evolutiva, da palentologia e da arqueologia, a própria história humana está sendo transformada, está sendo reinserida no arcabouço da evolução global, e mesmo cósmica. O DNA a revolucionou, Assim, sabemos agora como é extraordinariamente  jovem o Homo sapiens como espécie. Saímos da África há 100 mil anos. Tudo o que se descreve geralmente como 'história' a partir da invenção da agricultura e das cidades não chega a pouco mais de quatrocentas gerações humanas, ou 10 mil anos, uma piscadela para o tempo geológico. Dada a dramática aceleração do ritmo do controle da humanidade sobre a natureza nesse breve período, especialmente nas últimas dez ou vinte gerações, o conjunto da história até agora pode ser visto como uma explosão de nossa espécie, um tipo de supernova bissocial que se expande para um futuro desconhecido. Esperemos que não seja catastrófico. Enquanto isso, e pela primeira vez, dispomos de uma estrutura adequada para uma história genuinamente global, restaurada a seu devido lugar central, nem englobada nas humanidades ou nas ciências naturais e matemáticas, nem tampouco separada delas, porém essencial a ambas. Gostaria de sr jovem o bastante para poder escrevê-la.

Mesmo assim, foi bom ser historiador, mesmo em minha geração. Acima de tudo, foi agradável. Numa conversa sobre seu desenvolvimento intelectual, meu amigo Pierre Bourdieu, certa vez disse:

Vejo a vida intelectual como algo mais próximo da vida do artista do que da rotina da academia [...] De todas as formas de trabalho intelectual, o ofício de sociólogo é sem dúvida aquela cuja prática me trouxe felecidade, em todos os sentidos da palavra

Substituindo o sociólogo por 'historiador', eu digo amém".

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