sexta-feira, junho 05, 2015

Um comentário inacabado ao livro "Bandidos", de Eric Hobsbawn

O Nordeste do Brasil, por exemplo, impressiona à primeira vista como uma bastião do fatalismo, cujos habitantes aceitam morrer de fome passivamente como aceitam a chegada da noite ao fim de cada dia. Mas não está tão longe no tempo a explosão mística dos nordestino que lutaram junto com seus messias, extravagantes apóstolos, erguendo a cruz e os fuzis contras os exércitos, para trazer a esta terra o reino dos céus, nem as furiosas ondas de violência dos cangaceiros: os fanáticos e os bandoleiros, utopia e vingança, deram curso ao protesto social, cego ainda, dos camponeses desesperados.
Eduardo Galeano

O delicioso livro Bandidos, de Eric Hobsbawm, expõe no capítulo "O que é banditismo social?", que o fenômeno do banditismo social faz parte de sociedades agrárias e pastoris. Existem determinados elementos que dão vazão para que este tipo de movimento - marginal - se forme. Por exemplo, Hobsbawm diz que em épocas de muita fome, de repressão política, de descalabros variados, existe uma tendência que dá surgimento a esse fenômeno.

O banditismo "floresce em áreas remotas e inacessíveis, tais como montanhas, planícies não cortadas por estradas, áreas pantanosas, florestas ou estuários, com seu labirinto de canais e cursos d'água, e é atraído por rotas comerciais ou estradas importantes, nas quais a locomoção dos viajantes, nesses países pré-industriais, é lenta e difícil". O historiador inglês vai dizer que baste a construção de estradas ou a conexão com as regiões desoladas, onde originou o banditismo, para que este arrefeça, perca a força. Ou seja, a rapidez na comunicação permite ao Estado ações contundentes a fim de exorcizar o fenômeno do banditismo social.

O Brasil conheceu, no século XX, o fenômeno do banditismo social. O cangaço, classicamente, originado no Nordeste, possui características que levam Hobsbawm a dizer que os cangaceiros não podem ser vistos como "agentes da justiça", "e sim como homens que provam que até mesmo os fracos e pobres podem ser terríveis". Ou seja, os cangaceiros eram figuras ambíguas. Faziam parte de um mundo repleto de superstições, de autoritarismos, de ignorância, de mandos de determinados figurões. Ambientes com essas características, inevitavelmente, fazem surgir grupos justiceiros, como se deu com o fenômeno do cangaço no Nordeste. Figuras como Antonio Silvino ou Virgulino Ferreira da Silva, o "Capitão" ou "Lampião", estão dentro dos limites dessa lógica...

P.S. Escrito em janeiro de 2014. 

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