domingo, agosto 07, 2016

Mais um texto de Jack London - "O vento do Norte"

Jack London (1876-1916) bem à vontade.
A natureza tem mil maneiras de recordar ao homem que ele é mortal e de o convencer disso (p. 104)


Jack London é um daqueles escritores que, ao iniciarmos a leitura do seu texto, somos fisgados, presos por sua prosa dinâmica, enxuta, ágil. Jack London é o pseudônimo para John Griffith Chaney, sujeito cujas qualidades e iniciativas o tornam uma figura atraente. Ao longo de sua curta vida (quarenta anos), esse grande personagem da literatura estadunidense acumulou largas e ricas experiências. Se observamos o rosário de atividades exercidas - vendedor ambulante, pescador de ostras, escritor, jornalista, ativista social, mineiro, marujo, viajante, dono de embarcação, notamos que sua capacidade criativa estava ligada a essa potência inquieta que o movia. 

É de se admirar que em apenas vinte e três anos, escreveu mais de cinquenta livros. Alguém poderia questionar as qualidades dessa produção. Todavia, o que se deve afirmar é que London era um narrador poderoso. Sua mente inquieta parecia uma usina inesgotável de fantasia. Segundo informações sobre a sua controversa morte, o escritor teria cometido suicídio; isso aos quarenta anos, quando a vida se enuncia para acontecimentos mais sublimes; quando a maturidade se mostra sólida e as experiências vividas se sedimentam para gerar as grandes reflexões. 

Pois, terminei a leitura do seu livro O vento do Norte, que encontrei na Estante Virtual pela bagatela de pouco mais de cinco reais. Trata-se de um livro de contos. As histórias estão cobertas pela neve do Norte - do Klondike, uma região do Yukon, no noroeste do Canadá, a leste da fronteira com o Alasca. A região é marcada pelo clima rigoroso, tendo períodos quentes e úmidos, durante o verão, e um inverno inclemente. Nessa região, na década de 90 do século XIX, houve a famosa Corrida do Ouro. Cidades inteiras se esvaziaram por causa das migrações. E, de repente, naquela região impiedosa, indivíduos morriam por causa da escassez de víveres. Havia aqueles que conseguiram o tão sonhado ouro; outros, por sua vez, voltaram famélicos e humilhados. É o caso de Jack London, que esteve no Klondike à procura de ouro.

Acontecia um processo curioso com o escritor: ele bebia, sorvia as paisagens, os tipos humanos. Nas viagens, por exemplo, que fez ao Japão ou à Austrália, transformou em histórias bem contadas e urdidas. Pois as histórias que são contadas em O vento do Norte, passam-nos um pouco dessa atmosfera gelada. São contos, por exemplo, como O pesadelo que conta a história de um sujeito paranoico e ganancioso. Vivia à ao longo de uma estrada. Geralmente, alugava a sua cabana para viajantes que queriam se hospedar. O pagamento era feito em ouro. Ele conseguiu acumular mais de vinte quilogramas do metal amarelo. Mas havia um problema: quanto mais ele ganhava, mais era acometido por uma sonho terrível. Todas as noites um sujeito com uma cicatriz horrível aparecia em seus sonhos tortos. Roubava o seu precioso metal e em seguida fulminava-o mortalmente. 

Certo dia, eis que aparece o misterioso sujeito com a cicatriz horrenda. O dono da choupana se ver congelado por aquela conspiração coincidentemente terrível - talvez profética. O visitante deseja apenas passar uma noite. Quando este está dormindo, o dono do estabelecimento amarra-lhe e passa-lhe a corda ao pescoço. Empunha uma arma contra ele. Cansado por conta da energia despendida, tira um pequeno cochilo. Ao acordar, olha para a sua bolsa e não encontra a sua preciosidade, a valiosa trouxa que havia escondida junto a si em uma bolsa. Acorda o sujeito com a cicatriz. Faz inquirições. Questiona-o. O visitante nega saber qualquer coisa. O dono do estabelecimento resolve matá-lo com a sua espingarda. Entrementes, não consegue. Enquanto dormia, colocara parte de sua mercadoria valiosa no cano da espingarda, pois tencionava escondê-la do viajante com a cicatriz. Ao puxar o gatilho, o tiro sai pela culatra: a espingarda explodiu em sua cara. O homem com a cicatriz procura por toda a casa e escava a preciosidade que havia sido escondida nas frestas mais impensáveis e vai embora com o ouro acumulado durante um bom pedaço de tempo.

London impressiona pela forma como escreve. Tudo nele converge para um fim, cuja grande preocupação é aglutinar em um fluxo esse fio veloz que torna um texto especial. Isso ele sabia e fez como ninguém ao longo de sua curta vida, todavia grande em realizações - principalmente literárias. 

Um comentário:

Eden Martins Rossi Filho disse...

Já tendo lido vários livros de London tenho pesquisado sobre as coletâneas de contos, mas enfrentado dificuldades. Tem a lista completa dos contos desse livro?

Eden