quarta-feira, julho 11, 2018

A noite de 10/07/2018 e a apresentação da OSTNCS

Ontem, felizmente, fui ao Cine Brasília assistir à apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (OSTNCS). É fato de grande e relevante acontecimento existir uma orquestra de boa qualidade, mantida com o dinheiro público - mesmo com as dificuldades que são típicas, com os desafios que são diários para aqueles que fazem a orquestra. A arte no Brasil é um elemento sempre secundário. Há uma imensa falta de interesse e preocupação por parte das autoridades. Todavia, na contramão disso tudo, ainda há bons espetáculos sendo patrocinados pelo poder público.

A existência de uma sinfônica é motivo de privilégio para a cidade de Brasília. O público tímido sempre comparece. Alguns acostumados; outros, chegam desconfiados. O público que escuta a chamada música clássica é bastante pequeno no Brasil - ainda. Há determinadas mistificações que acabam afastando as pessoas comuns desse tipo de música. Primeiro é preciso entender que música é música. O nome "clássico" não deve ser um fato impeditivo. Só é possível se abrir à "música clássica", ouvindo e ouvindo cada vez mais. Tudo o que é novo acaba por provocar um estranhamento, mas é preciso insistir. 

O Cine Brasília raramente fica cheio. Ontem havia um número maior de convidados. Uma explicação talvez seja a presença do regente espanhol José Luis Castillo, um sujeito de mãos ágeis e com um senso de domínio da orquestra que impressionou. Outro fato para a presença do público, quiçá, tenha sido o nome dos compositores - Moncayo, Manuel de Falla e Jean Sibelius. Falarei um pouco sobre cada um deles, bem como se deu a execução de suas respectivas obras.

A obra de abertura foi o dançante o Huapango, de Pablo Moncayo, compositor mexicano, um dos mestres do nacionalismo do seu país, ao lado de Silvestre Revueltas e Carlos Chávez. O Huapango é uma obra mágica. Possui uma fragrância mexicana típica. Os temperos da terra, os ventos mornos e as cores do céu estão derramadas e impregnadas no ritmo enérgico e nas melodias agradáveis. A obra foi escrita em 1941. O huapango é um gênero musical mexicano. No caso em questão, Moncayo foi influenciado pelo huapango do estado de Veracruz. Existem outros com certas características.

A segunda obra foi o Sombrero de tres picos, do espanhol Manuel de Falla, outro importante compositor nacionalista. A obra foi baseado no livro homônimo de Pedro Antonio de Alárcon. Vale mencionar que foram apresentadas apenas as suítes do balé. A obra de Manuel de Falla possui uma beleza temperada com a essência do azeite espanhol, das touradas e do vento mediterrâneo. A obra do espanhol foi escrita em 1919.

A terceira obra da noite foi a Sinfonia número 3, do compositor finlandês Jean Sibelius. Trata-se de um dos trabalhos sinfônicos do finlandês de que mais gosto. Sibelius escreveu ao todo sete sinfonias e uma quantidade considerável de poemas sinfônicos. O finlandês não possui uma obra grandiosa. Dizem até que ele queimou inúmeras partituras. Sua prometida Sinfonia no. 8 foi  uma promessa que nunca se cumpriu. É possível que ele tenha realizado um esboço da obra, mas acabou por liquidá-la. O certo é que a Sinfonia No. 3 é um trabalho bastante característico do compositor. É comum perceber como seus trabalhos possuem certos atributos que o aproximam de Carl Nielsen, outro compositor nórdico. O tema do movimento inicial acaba se encontrando no último movimento. No caso da Sinfonia no. 3, há apenas três movimentos. O primeiro e o último movimentos possuem pontos em comum. O segundo movimento é uma incógnita, um campo vasto com presságios cinzentos. Esse movimento é contrastado pelo primeiro e pelo último movimento, que são mais luminosos. 

Devo assentir que a noite foi de grandes emoções. Havia uma atmosfera belíssima de compositores que buscavam trabalhar temas nacionais. Sibelius foi aquele que mais distou desse aspecto. Todavia, vale mencionar que a obra de Sibelius é um hino de reverência à sua bela Finlândia. Quem quiser perceber o quanto a Finlândia é bela com os seus imensos fiordes, florestas escuras, aves selvagens e estreitos de tirar o fôlego é só escutar a música de Sibelius. Assistir a uma apresentação daquela de tão alto nível patrocinada pelo estado é um grande privilégio.


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