segunda-feira, outubro 26, 2020

Resumo cinematográfico II




Três dos últimos filmes que vi:
 

(1) "O homem que virou suco" (1981) - é uma produção brasileira, dirigida por João Batista de Andrade. O filme recebeu uma importante premiação no Festival de Moscou, no mesmo ano em que estreou, como melhor produção daquele festival. A produção é importante por alguns motivos - um dos principais pontos do filme é a excelente atuação do ator paraibano José Dumont. A história possui uma forte ressonância social. Aborda questões importantes como a migração de nordestinos para o Centro-Sul; a subcidadania, característica de grupos marginalizados; a violência perpetrada pelo estado contra os mais vulneráveis; a relação esnobe dos ricos em relação às massas de oprimidos; e o quanto se paga pela insurgência contra os opressores. 

(2) "Colette" - Com direção de Wash Westmoreland, teve a sua estreia em 2018. Ele retrata parte da vida da escritora e vanguardista francesa Gabrielle Colette. A obra narra os anos iniciais da relação com o boêmio Willy, um escritor e aproveitador de ocasião da sociedade francesa do final do século XIX e início do século XX. Colette, cujo início obra literária é retratada no filme, escreveu livros de grande sucesso à época. Vale mencionar a criação da personagem "Claudine", que virou uma sensação na sociedade francesa. Mas, diante disso tudo, Colette não podia ostentar o nome nos livros que escrevia. Os direitos autorais eram administrados pelo marido. O marido dirigia-lhe os passos. Aproveitava-se do talento da esposa. Chegou a trancá-la durante 16 horas para que ela escrevesse; e vendeu os direitos autorais da obra da esposa sem consultá-la. Na sociedade francesa da época, uma escritora feminina não seria benquista. Colette, tendo como pano de fundo uma sociedade que definia o papel da mulher, não aceitou essa imposição. Subverteu as regras do conservadorismo, sendo uma das primeiras mulheres da época a lutar pela emancipação e pelo reconhecimento do papel feminino. Um excelente filme, com uma fotografia muito bonita.

 

(3) "Gauguin - Viagem ao Taiti" - É uma produção francesa, dirigida por Edouard Deluc, do ano de 2017. O filme busca focar um pequeno período da vida do pintor pós-impressionista francês, Paul Gauguin. Após passar por uma crise criativa na França, deixa a mulher e os cinco filhos e parte em busca de novas possibilidades criativas, no ano de 1881. Viaja ao Taiti para experimentar o lado selvagem da criação artística. Lá, casa-se com a jovem Tehura, que passa a ser a sua musa inspiradora. Vivendo em um vilarejo de agricultores e pescadores, Gauguin produz febrilmente. O filme busca romantizar esse momento da vida do problemático pintor. Segundo conta a história (o que não é retratado no filme), quando casou com Tehura, ela tinha treze anos de idade; e, ele, quarenta e três. Gauguin tinha sífilis e, possivelmente, transmitiu para a jovem Tehura e para outras mulheres da ilha. Todavia, é um filme bonito, que procura explorar o lado mais primitivo do veio criativo do grande artista francês e os momentos de inspiração que ele experimentou naquela imensidão paradisíaca da Polinésia.

Um comentário:

Frazec (vulgo Jean-Philipe Rameau) disse...

Carlinus,
Verdade: esse momento da vida de Gaugin é romantizado no filme.
O fato de ter sido ele um grande pintor e sabido disso é um tanto divinizado pelo roteiro. Colette é um filme maravilhoso, bem ao estilo da atriz...
Preciso virar suco!
:-D