sábado, dezembro 26, 2020

Resumo cinematográfico III

(1) "Django Livre" - filme de Quentin Tarantino, que teve sua estreia no ano de 2012. Vi-o em 7/9 deste ano. Assisti a ele, após uma cruzada tarantinesca. Por aqueles dias, vi uns três filmes do diretor. "Django Livre", penso, é o ápice da produção de Tarantino. Com exceção de "Pulp Fiction" (já perdi a quantidade de vezes que vi), fico meio sem paciência com toda aqueles volteios  previsíveis dos trabalhos do diretor estadunidense. O que fixa a minha atenção são, sempre, as belas atuações de parcerias de longa data, como é o caso de Samuel L. Jackson; ou, de em tempos mais próximos, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio. "Django" prende, porque possui um excelente enredo; belas atuações; diálogos cáusticos. Mas, no fundo, é uma tentativa de trazer à tona os "faroestes macarrônicos" à Sergio Leone, com efeitos "gore" e misturas típicas da cultura pop, como é o caso de cruzar lendas alemãs, com escravidão; além do modo como o ex-escravo "Django" se veste após a sua transformação. Confesso que fiquei mais entusiasmado quando vi o filme pela primeira vez, em 2017.

(2) "Um tiro na noite" - filme do lendário diretor Brian de Palma. A obra é do ano de 1982. Foi uma grata surpresa tê-lo visto. A tradução do filme para o português brasileiro, não revela a brincadeira em forma de homenagem que o diretor faz: "Blow Out". "Um tiro na noite" é uma confissão de admiração do diretor aos seus mestres. No caso em questão, De Palma rende homenagem ao diretor italiano Michelangelo Antonioni que, em 1966, filmou um dos suspenses mais originais da história do cinema: "Blow Up - Depois daquele beijo". No filme de Antonioni, um fotógrafo realiza o seu trabalho corriqueiramente em um parque. Quando decide revelar as fotografias, desconfia que registrou o cometimento de um crime. Inicia uma caçada que o leva por um labirinto de eventos com direito, inclusive, a entrar em um "pub" onde o "The Yardbirds", a primeira banda do Jimmy Page, guitarrista do Led Zepellin, faz uma apresentação. No caso do filme de De Palma, um diretor de "filmes B" capta sons próximo a uma ponte, numa noite erma e banal. De repente,  grava o estampido de um tiro. Um carro precipita-se da ponte e cai no rio. Esse é o "start" para a condução brilhante do diretor. Antonioni privilegia a imagem; De Palma, o som. Todavia, há ainda a clara presença dos mistérios hitchcockeanos. É um filme para que os detalhes sejam captados. Uma aula sobre o conceito de metalinguagem.

(3)  "Iracema - Uma Transa Amazônica".  Filme de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Trata-se de uma obra ácida em sua ironia. O filme veio à luz ano de 1974, período da Ditadura Militar em que a propaganda oficial alardeava o chamado "Milagre Brasileiro". Era o período das faraônicas construções. Entre elas, a construção da Rodovia Transamazônica, que levaria, conforme assim era apregoado, o progresso ao Norte do país, cumprindo o projeto de integração nacional, doutrina defendida pelos militares. O filme é relevante, pois faz uma denúncia, mostrando o lado averso, ignorado pelo restante do país - queimadas descontroladas, prostituição à margem da rodovia; a força e a violência dos donos da terra; desmatamento;  a fome e a miséria grassante nas comunidades pobres.  A narrativa do filme é fluida. Em alguns momentos, temos a impressão que estamos vendo um documentário. Vale a pena observar, que a índia Iracema do filme é bem diferente daquela de Alencar. No romance do escritor cearense, há a tentativa de criação de um mito (uma espécie de idílio), deixando evidente que o Brasil é fruto do cruzamento entre a civilização europeia e a natureza americana. No caso do filme, Iracema é prostituída às margens da rodovia símbolo do milagre brasileiro, evidenciando um claro contrassenso. O nome de um dos personagens (inclusive que engana Iracema) é Tião Brasil Grande, que viaja pelo interior e gosta de contar loas patrióticas. Mas que, no fundo, é um grande embusteiro, inclusive enganando Iracema. Baita filme!


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