domingo, dezembro 27, 2020

Um pequeno balanço livresco


 Acredito que tenha conseguido ler o meu último livro do ano de 2020. Uso a palavra "acredito", pois penso que não terei condições de terminar nenhuma outra leitura, entre aqueles que estou fazendo, ao longo da última semana do ano. Pais e filhos, de Ivan Turgueniev, era um projeto antigo de leitura - como tantos que possuo. Terminei-o ontem.

Não foi um ano fácil. Li menos do que eu queria, todavia, mais do que eu podia. Para leitores com uma compulsão megalomaníaca como eu, que ficam esmorecidos quando não conseguem ler, perceber a existência de obstáculos para a consecução da leitura é sempre uma tragédia. 

O ato de ler é uma atividade curiosa. Esse ano difícil em vários cenários, serviu para mostrar para mim que livros são como montanhas - algumas, quando olhamos debaixo, parecem intransponíveis. Mas elas são e continuam assim até que nos decidamos a subir. 

Há livros que, ao olharmos a sua lombada, a sua espessura extensa, assustamo-nos. Um retraimento covarde nos convence a não enfrentá-los. Isso é uma advertência enganosa. Arrumamos tempo para fazer tantas coisas, por que não organizamos o tempo para realizar algumas necessárias leituras? 2020 permitiu que eu realizasse alguns desejos. Por exemplo, consegui ler A besta humana, do escritor francês Émile Zola. Li ainda o delicioso O lobo do mar, do Jack London. Outro livro lido - e esse ficou entre os grandes que já li - foi O senhor da moscas, do nobelino William Golding. 

Outro livro de fundamental leitura foi o extraordinário Nada de novo no front, do alemão Erich Maria Remarque. O livro é uma aula sobre as transformações ocorridas no interior de um combatente durante a Primeira Guerra Mundial. O brilhantismo da narrativa aproxima-o de Os contos de Kolimá, do russo Varlam Chalámov.

Acredito que o maior desafio do ano tenha sido a leitura da extraordinária biografia sobre o chefe da propaganda nazista - Joseph Goebbels - escrito por Peter Longerich. A leitura aconteceu de forma lenta. Arrastada. Em alguns momentos, pensei realizar uma tarefa que nunca teria fim. O livro aproxima-se das novecentas páginas. Ao terminá-lo, fiquei com um senso de dever cumprido e uma sensação gratificante de que eu era capaz de enfrentar desafios aparentemente assustadores. 

É baseado nessa experiência que, no ano de 2021, tenho três grandes montanhas para galgar: (1) Brasil - uma biografia, da Lilia Moritz Schwarcz; (2) Os demônios, de Dostoiévski; (3) Jane Eyre, da Charlotte Brontë (a belíssima edição da Zahar). 

Penso ainda em ler de maneira mais detida (pelo menos uns cinco livros de cada) Clarice Lispector - por causa de seu centenário - e Lygia Fagundes Telles, para quem as apresentações são dispensáveis. Pretendo ainda ler três ou quatro obras de Jorge Amado, projeto que iniciei em 2020.

Claro, em 2020 houve outras leituras. Mas, acredito que o mais significativo tenha sido isso. 

No próximo ano, o horizonte (observando à distância) apresenta as mesmas tinturas melancólicas - filho, dois empregos, acordar cedo, grandes deslocamentos diários; tempo escasso etc. Mas, é importante continuar fazendo menos do que eu queria, todavia, mais do que eu podia.

Nenhum comentário: