“A Doce Vida” é uma produção cinematográfica do ano de 1960, dirigida por Federico Fellini. É uma obra cuja atualidade e a reflexão atordoante impressionam. A inescapável trilha sonora – presente como um personagem – é de Nino Rota. O filme (que possui aproximadamente três horas) é um teste denso de paciência para o espectador, porquanto somos lançados em um labirinto de vaidades. Vi-o lentamente, em vários momentos. A genialidade de Fellini se derrama pela obra.
A produção em preto em branco esbanja beleza. As personagens são bonitas. Jovens. Ricas. Saudáveis; no vigor da potência sexual. Estamos na Via Veneto. Há festas badaladas. Extravagâncias. Exotismos. Marcello, o personagem principal da obra, vive de evento em evento; é um jornalista que cobre esses acontecimentos faustosos da sociedade italiana. É um homem de singular beleza. Mete-se em vários namoricos dispersivos. Esses relacionamentos voláteis são desfeitos com bastante pressa.
A cena tórrida de Marcello Mastroianni com Anita Ekberg, na Fontana de Trevi |
Há fotógrafos para todos os lados – os paparazzis – dispostos a registrarem o próximo “furo” sobre celebridades ou, quem sabe, um escândalo que alimentará o “mainstream” ou público sedento por novidades. É visível que a obra está permeada por um pessimismo, por um niilismo. Aquelas fatuidades não levam a lugar nenhum. Geram apenas vazio. O filme é uma crítica mordaz à sociedade do espetáculo. É imensamente atual, pois, em tempos de Instagram e de outras redes sociais, cada sujeito constrói a noção equivocada de que ele é o centro de um espetáculo.
Dentro de um microcosmo construído por uma teia tênue, há a necessidade das “curtidas” para que esse gatilho gere prazer. A expressão “La dolce vida” é uma metáfora do prazer superficial, repleto de um charme fugidio. E, nesse sentido, é uma metáfora que explica as sensações geradas por uma sociedade que vive em torno da imagem e que se alimenta das impressões causadas por ela. “Doce”, mas de final amargo.
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